Mudanças entre as edições de "Neusa Maria Pereira"

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{{Info/Biografia
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[[Arquivo: Neusa Maria 2021.jpg|220px|thumb|right| Neusa Maria Pereira durante entrevista ao Wikiafro. Foto tirada em setembro de 2021. </br></br>'''Nome completo:''' Neusa Maria Pereira </br></br> '''Nascimento:'''24 de agosto de 1948 (73 anos), São Paulo, SP </br></br> '''Nacionalidade:''' Brasileira</br></br>'''Pais:''' José Pereira e Maria de Lourde Pereira</br></br> '''Filhos:''' Indaiá Moreira e Maíra Moreia</br></br>'''Etnia:''' Afro-brasileira </br></br> '''Ocupação:''' Jornalista </br></br>'''Período em atividade:''' 1971-presente</br></br>]]
|nome                  = Neusa Maria
 
|nome_completo        = Neusa Maria Pereira
 
|imagem                = [[File:Neusa Maria Pereira durante entrevista ao Wikiafro em 2021.jpg|thumb|A jornalista Neusa Maria Pereira durante entrevista ao Wikiafro.]]
 
|imagem_tamanho        = 220px
 
|imagem_legenda        = Neusa Maria Pereira, jornalista e co-fundadora do Movimento Negro Unificado.
 
|nascimento_data      = {{nowrap|{{dni|24|08|1948|lang=br}}}}
 
|nascimento_local      = São Paulo, SP
 
|nacionalidade        = Brasileira
 
|pais                  = José Pereira e Maria de Lourdes Pereira
 
|filhos                = Indaiá Moreira e Maíra Moreira
 
|etnia                = [[Afro-brasileiros|Afro-brasileira]]
 
|período_em_atividade  = 1998–presente
 
|nascimento_país      = [[Brasil]]
 
|ocupação              = Jornalista e ativista do movimento negro
 
}}
 
'''Neusa Maria Pereira''' ([[São Paulo]], 24 de agosto de 1948) <ref name=":0">{{citar web|url=https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/|titulo=Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.}}</ref> é uma jornalista brasileira, fundadora e co-fundadora de movimentos sociais, como o [[Movimento Negro Unificado]] (MNU), e um dos principais nomes do feminimo negro do País.<ref name=":1">{{citar web|ultimo=GIANDALI, Luiza|primeiro=AZEVEDO, Desirée|url=http://memorialdaresistenciasp.org.br/entrevistados/neusa-maria-pereira/|titulo=Entrevista sobre o Theatro Municipal no contexto da ditadura civil-militar com Neusa Maria Pereira|data=13 de outubro de 2016|acessodata=7 de novembro de 2021|website=Memorial da Resistência de São Paulo}}</ref> Como forma de reconhecimento, foi criado o prêmio Neusa Maria de Jornalismo, destinado a profissionais da mídia negros e/ou trans.<ref name=":2">{{citar web|url=https://www.cartacapital.com.br/sociedade/premio-neusa-maria-de-jornalismo-abre-inscricoes-para-1a-edicao/|titulo=Prêmio Neusa Maria de Jornalismo abre inscrições para 1ª edição|data=14 de outubro de 2020|acessodata=6 de novembro de 2021|website=Carta Capital}}</ref>
 
  
Em 2021, foi escolhida para ser homenageada especial do [[Prêmio Vladimir Herzog]].<ref name=":3">{{citar web|url=https://www.conectas.org/noticias/premio-jornalistico-vladimir-herzog-de-anistia-e-direitos-humanos-anuncia-homenageados-de-2021/|titulo=Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos anuncia homenageados de 2021|data=29 de setembro de 2021|acessodata=6 de novembro de 2021|website=Conectas}}</ref> Ainda no mesmo ano, o [[Theatro Municipal de São Paulo]] reconheceu a importância do Ato Público de 1978 para sua história, convidando Neusa para seu aniversário de 110 anos.<ref name=":0" />
 
  
Junto com a sócia Cátia Rodrigues, fundou em 2010 a Editora Abayomi, responsável pela publicação do Jornal Escrita Feminina. O objetivo das publicações é atingir mulheres negras da periferia, que se encaixam nas classes B e C, tornando-se um jornal plural. Atualmente, as jornalistas estão repensando o modelo de projeto para o mundo digital.<ref name=":0" />
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'''Neusa Maria Pereira''' ([https://pt.wikipedia.org/wiki/ São Paulo], 24 de agosto de 1948) <ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref> é uma jornalista brasileira, fundadora e co-fundadora de movimentos sociais, como o [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Movimento Negro Unificado] (MNU), e um dos principais nomes do feminimo negro do País.<ref>http://memorialdaresistenciasp.org.br/entrevistados/neusa-maria-pereira/. Entrevista sobre o Theatro Municipal no contexto da ditadura civil-militar com Neusa Maria Pereira. Consultado em 7 de novembro de 2021.</ref> Como forma de reconhecimento, foi criado o prêmio Neusa Maria de Jornalismo, destinado a profissionais da mídia negros e/ou trans.<ref>https://www.cartacapital.com.br/sociedade/premio-neusa-maria-de-jornalismo-abre-inscricoes-para-1a-edicao/. Consultado em 6 de novembro de 2021.</ref>
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Em 2021, foi escolhida para ser homenageada especial do [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Prêmio Vladimir Herzog].<ref>https://www.conectas.org/noticias/premio-jornalistico-vladimir-herzog-de-anistia-e-direitos-humanos-anuncia-homenageados-de-2021/. Consultado em 6 de novembro de 2021.</ref> Ainda no mesmo ano, o [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Theatro Municipal de São Paulo] reconheceu a importância do Ato Público de 1978 para sua história, convidando Neusa para seu aniversário de 110 anos.
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Junto com a sócia Cátia Rodrigues, fundou em 2010 a Editora Abayomi, responsável pela publicação do Jornal Escrita Feminina. O objetivo das publicações é atingir mulheres negras da periferia, que se encaixam nas classes B e C, tornando-se um jornal plural. Atualmente, as jornalistas estão repensando o modelo de projeto para o mundo digital.
 
== Infância ==
 
== Infância ==
Neusa Maria nasceu no dia 24 de agosto de 1948, em São Paulo, na antiga [[Maternidade de São Paulo|Maternidade São Paulo]], que pariu boa parte dos paulistanos durante décadas.<ref name=":0" />
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Neusa Maria nasceu no dia 24 de agosto de 1948, em São Paulo, na antiga [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Maternidade de São Paulo], que pariu boa parte dos paulistanos durante décadas.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
Nasceu e cresceu em uma família muito humilde, filha de Maria de Lourdes Pereira e José Pereira. Ambos mineiros, vieram para São Paulo em busca de emprego e novas oportunidades. O casal teve dois filhos, Neusa Maria e seu irmão mais novo Luís Antônio Pereira. Quando ela tinha apenas 3 anos de idade, sua mãe faleceu.<ref name=":0" />
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Nasceu e cresceu em uma família muito humilde, filha de Maria de Lourdes Pereira e José Pereira. Ambos mineiros, vieram para São Paulo em busca de emprego e novas oportunidades. O casal teve dois filhos, Neusa Maria e seu irmão mais novo Luís Antônio Pereira. Quando ela tinha apenas 3 anos de idade, sua mãe faleceu.
  
Após a morte da mãe, as duas crianças foram morar com o avô Brás Pereira e a avó Maria Rita da Conceição Pereira,<ref name=":0" /> que participou da [[Frente Negra Brasileira]], na década de 30. O FNB foi um movimento negro, criado em 1931, em São Paulo, que se expandiu para outros estados, como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia.<ref>{{citar web|ultimo=LEITE|primeiro=Carlos Roberto S. C.|url=https://www.geledes.org.br/frente-negra-brasileira-2/?gclid=Cj0KCQiAkZKNBhDiARIsAPsk0WgQ8HPnoTJvShKFJa24ntGpztYLtU9bj88mJQhwsxq_H8-G1Ju_k24aAsV-EALw_wcB|titulo=A Frente Negra Brasileira|data=14 de dezembro de 2017|acessodata=21 de novembro de 2021|website=Portal Geledés}}</ref> As duas crianças foram criadas pelos avós paternos e junto do pai, o qual na época era funcionário público, trabalhando na Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo.<ref name=":0" />
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Após a morte da mãe, as duas crianças foram morar com o avô Brás Pereira e a avó Maria Rita da Conceição Pereira, que participou da [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Frente Negra Brasileira], na década de 30. O FNB foi um movimento negro, criado em 1931, em São Paulo, que se expandiu para outros estados, como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia.<ref>https://www.geledes.org.br/frente-negra-brasileira-2/?gclid=Cj0KCQiAkZKNBhDiARIsAPsk0WgQ8HPnoTJvShKFJa24ntGpztYLtU9bj88mJQhwsxq_H8-G1Ju_k24aAsV-EALw_wc/. Consultado em 21 de novembro de 2021.</ref> As duas crianças foram criadas pelos avós paternos e junto do pai, o qual na época era funcionário público, trabalhando na Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo.
  
O pai de Neusa, no entanto, era um homem muito doente, o que dificultava rendas extras na casa, além de obrigá-lo a passar alguns períodos afastados do trabalho.<ref name=":0" />
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O pai de Neusa, no entanto, era um homem muito doente, o que dificultava rendas extras na casa, além de obrigá-lo a passar alguns períodos afastados do trabalho.
  
Seus avós não trabalhavam, por isso seu pai era o principal provedor da casa. Mesmo muito doente, ele sempre batalhou muito para dar conta de todas as despesas. Algum tempo depois, seu avô conseguiu um serviço como pedreiro, na construção civil. O emprego, contudo, durou pouco tempo, pois acabou caindo de um andaime na obra e ficou impossibilitado de trabalhar.<ref name=":0" />
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Seus avós não trabalhavam, por isso seu pai era o principal provedor da casa. Mesmo muito doente, ele sempre batalhou muito para dar conta de todas as despesas. Algum tempo depois, seu avô conseguiu um serviço como pedreiro, na construção civil. O emprego, contudo, durou pouco tempo, pois acabou caindo de um andaime na obra e ficou impossibilitado de trabalhar.
  
 
== Família ==
 
== Família ==
Neusa tem duas filhas, Indaiá Moreira e Maíra Moreira. A mais velha é funcionária pública da prefeitura e trabalha na área de call center. Já Maíra é formada em educação física e joga basquete profissionalmente.<ref name=":0" />
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Neusa tem duas filhas, Indaiá Moreira e Maíra Moreira. A mais velha é funcionária pública da prefeitura e trabalha na área de call center. Já Maíra é formada em educação física e joga basquete profissionalmente.<ref name>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
A jornalista é divorciada. Conheceu seu ex-marido no Rio de Janeiro e se separou dele quando suas filhas ainda eram bem novas.<ref name=":0" />
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A jornalista é divorciada. Conheceu seu ex-marido no Rio de Janeiro e se separou dele quando suas filhas ainda eram bem novas.
  
A vida social de Neusa pode ser descrita como bem sossegada, mas ela deixou um grande legado para sua família que é composta, em grande parte, por mulheres: todas estudam e trabalham.<ref name=":0" />
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A vida social de Neusa pode ser descrita como bem sossegada, mas ela deixou um grande legado para sua família que é composta, em grande parte, por mulheres: todas estudam e trabalham.
  
As tias dela foram as primeiras mulheres a serem operárias nas [[Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo|Indústrias Reunidas Fábrica Matarazzo]],<ref name=":0" /> grupo empresarial que, na época, era o maior da América Latina, com fábricas em diversos segmentos. A jornalista, por sua vez, foi a primeira a ir para a universidade. Hoje, algumas mulheres de sua família são advogadas, engenheiras, funcionárias públicas, enfermeiras, tradutoras simultâneas e educadoras.
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As tias dela foram as primeiras mulheres a serem operárias nas [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo], grupo empresarial que, na época, era o maior da América Latina, com fábricas em diversos segmentos. A jornalista, por sua vez, foi a primeira a ir para a universidade. Hoje, algumas mulheres de sua família são advogadas, engenheiras, funcionárias públicas, enfermeiras, tradutoras simultâneas e educadoras.
  
 
== Estudos ==
 
== Estudos ==
  
 
=== Infância ===
 
=== Infância ===
O pai de Neusa sempre a incentivou a estudar, pois queria que a filha fugisse do histórico da mulher negra que sempre trabalhava como doméstica. José desejava que a filha fosse médica, uma vontade que provavelmente vinha de suas inúmeras doenças. No entanto, ela nunca cogitou tal possibilidade.<ref name=":0" />
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O pai de Neusa sempre a incentivou a estudar, pois queria que a filha fugisse do histórico da mulher negra que sempre trabalhava como doméstica. José desejava que a filha fosse médica, uma vontade que provavelmente vinha de suas inúmeras doenças. No entanto, ela nunca cogitou tal possibilidade.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
A determinação de fazer a filha estudar fez com que José buscasse as melhores escolas para Neusa. Como era funcionário público e tinha contatos, conseguiu bolsas de estudos e vagas para ela em boas escolas, algumas públicas e outras particulares.<ref name=":0" />
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A determinação de fazer a filha estudar fez com que José buscasse as melhores escolas para Neusa. Como era funcionário público e tinha contatos, conseguiu bolsas de estudos e vagas para ela em boas escolas, algumas públicas e outras particulares.
  
A primeira escola em que Neusa estudou era pública. Neste período, no entanto, ela não conseguiu desenvolver seu aprendizado, uma vez que a professora discriminava os alunos negros em sala de aula, não os auxiliando com tarefas e deveres, não explicando atividades e, em alguns casos, maltratando os alunos fisicamente.<ref name=":0" />
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A primeira escola em que Neusa estudou era pública. Neste período, no entanto, ela não conseguiu desenvolver seu aprendizado, uma vez que a professora discriminava os alunos negros em sala de aula, não os auxiliando com tarefas e deveres, não explicando atividades e, em alguns casos, maltratando os alunos fisicamente.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
Após ser reprovada, seu pai a colocou em uma escola particular de freiras, o Colégio Luiza de Marillac,<ref name=":0" /> atual Colégio Marillac, pertencente à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.<ref>{{citar web|url=https://j.pucsp.br/noticia/colegio-luiza-de-marillac-e-premiado|titulo=Colégio Luiza de Marillac é premiado|data=20 de setembro de 2017|acessodata=4 de dezembro de 2021|website=Jornal PUC-SP}}</ref>
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Após ser reprovada, seu pai a colocou em uma escola particular de freiras, o Colégio Luiza de Marillac, atual Colégio Marillac, pertencente à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.<ref>https://j.pucsp.br/noticia/colegio-luiza-de-marillac-e-premiado/. Consultado em 4 de dezembro de 2021.</ref>
  
 
=== Adolescência ===
 
=== Adolescência ===
Depois do Colégio Luiza de Marillac, Neusa Maria começou a estudar no [[Instituto Presbiteriano Mackenzie|Colégio Presbiteriano Mackenzie]]. Lá, ela ficou durante os primeiros anos do Ensino Médio, em que cursou línguas como latim, alemão e inglês, além de ter tido aula com [[Dino Preti]], linguista brasileiro, pioneiro dos estudos sobre Oralidade e Análise da Conversação.<ref name=":0" />
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Depois do Colégio Luiza de Marillac, Neusa Maria começou a estudar no [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Instituto Presbiteriano Mackenzie]. Lá, ela ficou durante os primeiros anos do Ensino Médio, em que cursou línguas como latim, alemão e inglês, além de ter tido aula com [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Dino Preti], linguista brasileiro, pioneiro dos estudos sobre Oralidade e Análise da Conversação.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
Em 1964, quando ainda estava estudando no Mackenzie, Neusa acompanhou conflitos entre os alunos da escola e os estudantes de filosofia da USP, que ficava do outro lado da rua.<ref name=":0" />
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Em 1964, quando ainda estava estudando no Mackenzie, Neusa acompanhou conflitos entre os alunos da escola e os estudantes de filosofia da USP, que ficava do outro lado da rua.
  
Seus estudos no Mackenzie, contudo, não duraram por muito tempo. Nessa escola, foi onde viu o racismo mais de perto, já que era uma das únicas alunas negras da escola. Em sala de aula, Neusa era bem tratada por seus colegas e por seus professores, mas sofria ataques racistas por outros alunos do colégio.<ref name=":0" />
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Seus estudos no Mackenzie, contudo, não duraram por muito tempo. Nessa escola, foi onde viu o racismo mais de perto, já que era uma das únicas alunas negras da escola. Em sala de aula, Neusa era bem tratada por seus colegas e por seus professores, mas sofria ataques racistas por outros alunos do colégio.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
Após esse período conturbado dentro do Mackenzie, Neusa saiu do colégio e foi estudar em uma escola pública, na Escola Estadual Professor Otávio Mendes, no período noturno. Na época, ela mudou de horário para buscar um emprego, no entanto, não obteve sucesso em suas buscas. Nesse colégio, ela concluiu o Ensino Médio e se preparou para os vestibulares.<ref name=":0" />
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Após esse período conturbado dentro do Mackenzie, Neusa saiu do colégio e foi estudar em uma escola pública, na Escola Estadual Professor Otávio Mendes, no período noturno. Na época, ela mudou de horário para buscar um emprego, no entanto, não obteve sucesso em suas buscas. Nesse colégio, ela concluiu o Ensino Médio e se preparou para os vestibulares.
  
 
=== Faculdade ===
 
=== Faculdade ===
Em 1971, iniciou o curso de jornalismo na universidade Cásper Líbero, no qual se formou em 1975.<ref name=":0" /><ref name=":1" />
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Em 1971, iniciou o curso de jornalismo na universidade Cásper Líbero, no qual se formou em 1975. <ref>http://memorialdaresistenciasp.org.br/entrevistados/neusa-maria-pereira/. Entrevista sobre o Theatro Municipal no contexto da ditadura civil-militar com Neusa Maria Pereira. Consultado em 7 de novembro de 2021.</ref>
  
A primeira opção dela era cursar Direito, mas por ter uma grande ligação com as matérias de humanas, resolveu estudar jornalismo. Ela achava que seria um curso fácil, já que gostava de ler e escrever, e também pensava que poderia melhorar a sua timidez quando precisasse fazer entrevistas.<ref name=":0" />Enquanto cursava Jornalismo, Neusa acreditava que poderia falar sobre os assuntos que gostava e acreditava, como o racismo, a pobreza e outras questões de cidadania. Na época, ainda tinha em mente que o jornalismo era uma profissão que tinha como objetivo mostrar o mundo como ele realmente era, apontando saídas.<ref name=":0" />
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A primeira opção dela era cursar Direito, mas por ter uma grande ligação com as matérias de humanas, resolveu estudar jornalismo. Ela achava que seria um curso fácil, já que gostava de ler e escrever, e também pensava que poderia melhorar a sua timidez quando precisasse fazer entrevistas. Enquanto cursava Jornalismo, Neusa acreditava que poderia falar sobre os assuntos que gostava e acreditava, como o racismo, a pobreza e outras questões de cidadania. Na época, ainda tinha em mente que o jornalismo era uma profissão que tinha como objetivo mostrar o mundo como ele realmente era, apontando saídas.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
Foi a possibilidade de estar sempre transitando entre os diferentes níveis sociais que fez com que Neusa se apaixonasse pelo jornalismo. Porém, encontrou muitas dificuldades já que o ambiente era altamente competitivo e branco, além de ter poucas mulheres, em especial negras.<ref name=":0" />
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Foi a possibilidade de estar sempre transitando entre os diferentes níveis sociais que fez com que Neusa se apaixonasse pelo jornalismo. Porém, encontrou muitas dificuldades já que o ambiente era altamente competitivo e branco, além de ter poucas mulheres, em especial negras.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
 
=== Cursos de especialização ===
 
=== Cursos de especialização ===
Assim que terminou a faculdade, Neusa realizou outros cursos como Assessoria de Imprensa por um semestre na Escola de Comunicação e Artes da USP, promovido pelo Instituto Legislativo Paulista, em 2000.<ref name=":0" />
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Assim que terminou a faculdade, Neusa realizou outros cursos como Assessoria de Imprensa por um semestre na Escola de Comunicação e Artes da USP, promovido pelo Instituto Legislativo Paulista, em 2000.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
Inclusão Social na Mídia Brasileira, promovido pelo ILP, ministrado por professores da USP, em 2013.<ref name=":0" />
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Inclusão Social na Mídia Brasileira, promovido pelo ILP, ministrado por professores da USP, em 2013.
  
Em 2014 fez outro curso no ILP, dessa vez sobre Políticas Públicas para Mulheres.<ref name=":0" />
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Em 2014 fez outro curso no ILP, dessa vez sobre Políticas Públicas para Mulheres.
  
 
== Carreira ==
 
== Carreira ==
Muitos amigos de faculdade, que estavam anos à frente de Neusa, indicaram ela para vagas de estágio, porém, quando as redações descobriam o ano em que estava, desistiam de contratá-la. A jornalista, contudo, acredita que, em partes, existia um preconceito por ela ser negra.<ref name=":0" />
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Muitos amigos de faculdade, que estavam anos à frente de Neusa, indicaram ela para vagas de estágio, porém, quando as redações descobriam o ano em que estava, desistiam de contratá-la. A jornalista, contudo, acredita que, em partes, existia um preconceito por ela ser negra.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
Até que seu pai, quando ela ainda estava no primeiro ano de faculdade, decidiu ir até a [[Folha de S.Paulo|Folha de São Paulo]] pedir um emprego para sua filha. José Pereira conversou diretamente com o editor chefe do jornal e conseguiu uma vaga para Neusa.<ref name=":0" />
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Até que seu pai, quando ela ainda estava no primeiro ano de faculdade, decidiu ir até a [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Folha de São Paulo] pedir um emprego para sua filha. José Pereira conversou diretamente com o editor chefe do jornal e conseguiu uma vaga para Neusa.
  
Ela começou no jornal como uma assistente dos jornalistas que trabalhavam lá. Sua função era acompanhar os profissionais em entrevistas e trabalhos em campo, ajudá-los como possível e, no fim do dia, escrever uma matéria à parte com os materiais que ajudou a colher.<ref name=":0" />
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Ela começou no jornal como uma assistente dos jornalistas que trabalhavam lá. Sua função era acompanhar os profissionais em entrevistas e trabalhos em campo, ajudá-los como possível e, no fim do dia, escrever uma matéria à parte com os materiais que ajudou a colher.
  
Neusa Maria avalia que trabalhar na Folha de São Paulo era frustrante, isso porque ela acreditava que estaria escrevendo, publicando e sendo útil para o jornal, contudo, eles não lhe davam espaço. Além disso, ela precisava de um trabalho remunerado, uma vez que seu pai ganhava pouco e, muitas vezes, precisava se afastar do trabalho por conta de sua doença. Por isso, ela deixou a redação da Folha e foi procurar um trabalho pago.<ref name=":0" />
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Neusa Maria avalia que trabalhar na Folha de São Paulo era frustrante<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>, isso porque ela acreditava que estaria escrevendo, publicando e sendo útil para o jornal, contudo, eles não lhe davam espaço. Além disso, ela precisava de um trabalho remunerado, uma vez que seu pai ganhava pouco e, muitas vezes, precisava se afastar do trabalho por conta de sua doença. Por isso, ela deixou a redação da Folha e foi procurar um trabalho pago.
  
Nesse meio tempo, porém, ela ficou doente e teve de ser internada por um mês. Isso a impossibilitou de buscar emprego, além de lhe afastar da faculdade. Neusa afirma que, nesse tempo, foram seus colegas de sala que pagaram seu curso e lhe passaram o conteúdo perdido.<ref name=":0" />
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Nesse meio tempo, porém, ela ficou doente e teve de ser internada por um mês. Isso a impossibilitou de buscar emprego, além de lhe afastar da faculdade. Neusa afirma que, durante esse período, foram seus colegas de sala que pagaram seu curso e lhe passaram o conteúdo perdido.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
Após formada, trabalhou na Gazeta de São Paulo e, em seguida, migrou para o Jornal Versus.<ref name=":0" /> Lá, ela começou a trabalhar em 1977, após escrever o texto “Em defesa da dignidade das mulheres negras em uma sociedade racista”.<ref name=":1" /> Ela foi repórter, redatora, coordenadora e criadora da equipe de jornalistas da seção Afro- Latino- América do jornal. Neusa Maria saiu do Versus em 1978, quando o jornal deixou de existir.<ref name=":0" /><ref>{{citar web|ultimo=FAERMAN|primeiro=Marcos|url=http://www.marcosfaerman.jor.br/versus.html|titulo=Jornal Versus|acessodata=13 de novembro de 2021|website=Marcos Faerman}}</ref>
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Após formada, trabalhou na Gazeta de São Paulo e, em seguida, migrou para o Jornal Versus. Lá, ela começou a trabalhar em 1977, após escrever o texto “Em defesa da dignidade das mulheres negras em uma sociedade racista”.<ref>http://memorialdaresistenciasp.org.br/entrevistados/neusa-maria-pereira/. Entrevista sobre o Theatro Municipal no contexto da ditadura civil-militar com Neusa Maria Pereira. Consultado em 7 de novembro de 2021.</ref> Ela foi repórter, redatora, coordenadora e criadora da equipe de jornalistas da seção Afro- Latino- América do jornal. Neusa Maria saiu do Versus em 1978, quando o jornal deixou de existir.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref><ref>http://www.marcosfaerman.jor.br/versus.html/. Consultado em 13 de novembro de 2021.</ref>
  
A partir da década de 80, Neusa trabalhou em diversos jornais, todos por pouco tempo.<ref name=":0" /> Nesse período foi repórter das Editorias de Cidades e Entretenimento do [[Diário de S. Paulo|Diário de São Paulo]], repórter de Economia e Cidades no [[Diário do Comércio]], editora da Revista Panorama da Justiça, repórter e revisora do jornal Socorro News, assessora de imprensa do Clube Banespa, freelancer e pesquisadora da [[Editora Abril]]. Em relação às datas em que trabalhou em cada jornal, ela não se lembra dos anos, e parte dos locais em que trabalhou fecharam.<ref name=":0" />
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A partir da década de 80, Neusa trabalhou em diversos jornais, todos por pouco tempo. Nesse período foi repórter das Editorias de Cidades e Entretenimento do [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Diário de São Paulo], repórter de Economia e Cidades no [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Diário do Comércio], editora da Revista Panorama da Justiça, repórter e revisora do jornal Socorro News, assessora de imprensa do Clube Banespa, freelancer e pesquisadora da [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Editora Abril]. Em relação às datas em que trabalhou em cada jornal, ela não se lembra dos anos, e parte dos locais em que trabalhou fecharam.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
No início dos anos 2000, tornou- se educadora social da [[Fundação CASA|Fundação Casa]], antiga FEBEM. Lá, ela trabalhou de 2006 a 2010.<ref name=":0" />
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No início dos anos 2000, tornou- se educadora social da [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Fundação CASA], antiga FEBEM. Lá, ela trabalhou de 2006 a 2010.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
 
=== Editora Abayomi ===
 
=== Editora Abayomi ===
Neusa decidiu abrir uma editora quando percebeu que a imprensa hegemônica, imprensa formada por um grupo social que determina o que é notícia, excluindo temas abordados por minorias, não estava mais satisfazendo seus desejos naquilo que ela pensava como jornalista. Ela achava que abrindo uma editora, conseguiria fazer um jornalismo mais político, mais ideológico, entrevistando pessoas que achava interessante para o momento e dentro da concepção de jornal.<ref name=":0" /><ref>{{citar web|ultimo=PEIXOTO|primeiro=Clarissa|url=http://www.observatoriodaimprensa.com.br/objethos/jornalismo-hegemonia-e-reacoes-contra-hegemonicas/|titulo=Jornalismo, hegemonia e reações contra-hegemônicas|data=6 de outubro de 2020|acessodata=21 de novembro de 2021|website=Observatório da Imprensa}}</ref>
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Neusa decidiu abrir uma editora quando percebeu que a imprensa hegemônica, imprensa formada por um grupo social que determina o que é notícia, excluindo temas abordados por minorias, não estava mais satisfazendo seus desejos naquilo que ela pensava como jornalista. Ela achava que abrindo uma editora, conseguiria fazer um jornalismo mais político, mais ideológico, entrevistando pessoas que achava interessante para o momento e dentro da concepção de jornal.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref><ref>http://www.observatoriodaimprensa.com.br/objethos/jornalismo-hegemonia-e-reacoes-contra-hegemonicas/. Consultado em 21 de novembro de 2021.</ref>
  
Na época, Neusa já havia saído da imprensa hegemônica. Por isso resolveu dar outro norte em sua carreira de jornalista. A editora foi fundada em 2010 em parceria com outra jornalista, sua sócia Cátia Rodrigues.<ref name=":0" />
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Na época, Neusa já havia saído da imprensa hegemônica. Por isso resolveu dar outro norte em sua carreira de jornalista. A editora foi fundada em 2010 em parceria com outra jornalista, sua sócia Cátia Rodrigues.
  
O jornal é plural, mas o objetivo delas é atingir as mulheres negras da periferia. A intenção não é fazer um conteúdo para gueto, todas as matérias escritas pela editora são de interesse de mulheres de todas as raças que pertencem à classe B e C. Porém, elas querem que todos tenham acesso às informações publicadas.<ref name=":0" />
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O jornal é plural, mas o objetivo delas é atingir as mulheres negras da periferia. A intenção não é fazer um conteúdo para gueto, todas as matérias escritas pela editora são de interesse de mulheres de todas as raças que pertencem à classe B e C. Porém, elas querem que todos tenham acesso às informações publicadas.
  
Para decidir o nome da editora, Neusa e sua sócia se reuniram e ficaram pensando sobre nomes africanos ou afro-brasileiros. Elas decidiram dar um caráter mais afrodescendente para a editora, justamente devido a suas próprias origens.<ref name=":0" />
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Para decidir o nome da editora, Neusa e sua sócia se reuniram e ficaram pensando sobre nomes africanos ou afro-brasileiros. Elas decidiram dar um caráter mais afrodescendente para a editora, justamente devido a suas próprias origens.
  
O jornal Escrita Feminina foi a primeira publicação da editora Abayomi. A palavra Abayomi significa ‘vencer um inimigo' e ela é de origem yorubá. Ela vem de encontro ao ideal jornalístico das sócias que é estar de mãos dadas com as mulheres que ultrapassam barreiras para conseguirem seus objetivos com ética, amor e solidariedade.<ref name=":0" />
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O jornal Escrita Feminina foi a primeira publicação da editora Abayomi. A palavra Abayomi significa ‘vencer um inimigo' e ela é de origem yorubá. Ela vem de encontro ao ideal jornalístico das sócias que é estar de mãos dadas com as mulheres que ultrapassam barreiras para conseguirem seus objetivos com ética, amor e solidariedade.
  
A editora publica apenas um jornal e ainda está ativa, mas durante a pandemia tiveram dificuldades pois não possuem patrocinadores. Hoje, o projeto está sendo repensado para o digital, que é mais barato e a forma mais fácil de atingir o público.<ref name=":0" />
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A editora publica apenas um jornal e ainda está ativa, mas durante a pandemia tiveram dificuldades pois não possuem patrocinadores. Hoje, o projeto está sendo repensado para o digital, que é mais barato e a forma mais fácil de atingir o público.
  
 
== Movimentos ==
 
== Movimentos ==
  
 
=== Fé Cega, Faca Amolada ===
 
=== Fé Cega, Faca Amolada ===
Anteriormente ao Movimento Negro Unificado, Neusa Maria também foi co-fundadora do Fé Cega, Faca Amolada, movimento negro feminista. Ele, no entanto, acabou assim que o MNU surgiu, pois seus membros decidiram se unir a ele.<ref name=":0" />
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Anteriormente ao Movimento Negro Unificado, Neusa Maria também foi co-fundadora do Fé Cega, Faca Amolada, movimento negro feminista. Ele, no entanto, acabou assim que o MNU surgiu, pois seus membros decidiram se unir a ele.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
 
=== Ato Público de 1978 ===
 
=== Ato Público de 1978 ===
Ela foi uma das maiores incentivadoras do Ato Público, que aconteceu em 1978, em frente ao Theatro Municipal de São Paulo, em função do assassinato de Robson dos Santos e 4 meninos negros que foram impedidos de entrar no clube Tiête por conta de sua cor, mesmo sendo atletas profissionais.<ref name=":0" /><ref>{{citar web|url=https://www.brasildefato.com.br/2019/04/05/uma-historia-oral-do-movimento-negro-unificado-por-tres-de-seus-fundadores|titulo=Uma história oral do Movimento Negro Unificado por três de seus militantes|data=5 de abril de 2019|acessodata=21 de novembro de 2021|website=Brasil de Fato}}</ref>
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Ela foi uma das maiores incentivadoras do Ato Público, que aconteceu em 1978, em frente ao Theatro Municipal de São Paulo, em função do assassinato de Robson dos Santos e 4 meninos negros que foram impedidos de entrar no clube Tiête por conta de sua cor, mesmo sendo atletas profissionais.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref><ref>https://www.brasildefato.com.br/2019/04/05/uma-historia-oral-do-movimento-negro-unificado-por-tres-de-seus-fundadores/. Consultado em 21 de novembro de 2021.</ref>
  
 
O Ato Público teve como base o manifesto sobre a discriminação contra a mulher negra, escrito pela jornalista e que, mais tarde, foi publicado no Jornal Versus.
 
O Ato Público teve como base o manifesto sobre a discriminação contra a mulher negra, escrito pela jornalista e que, mais tarde, foi publicado no Jornal Versus.
  
 
=== Movimento Negro Unificado (MNU) ===
 
=== Movimento Negro Unificado (MNU) ===
Neusa Pereira é co-fundadora do Movimento Negro Unificado, junto de Flávio Carrança, Hamilton Cardoso, Vanderlei José Maria, [[Milton Barbosa]], Rafael Pinto e Jamu Minka, que teve início em 1978, durante a [[Ditadura militar brasileira|Ditadura Militar]]. As primeiras reuniões aconteceram ainda nos porões do Jornal Versus, onde a jornalista trabalhava na época.<ref name=":0" /><ref name=":4">{{citar web|primeiro=|url=https://www.geledes.org.br/movimento-negro-unificado-miltao/?gclid=Cj0KCQiAkZKNBhDiARIsAPsk0Who9_0iwLIIRJeIAJVyW7b7UPqvFwI3vEGjACWpnZqSPZF3HuARbewaAjbFEALw_wcB|titulo=Movimento Negro Unificado|data=4 de maio de 2010|acessodata=21 de novembro de 2021|website=Portal Geledés}}</ref>
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Neusa Pereira é co-fundadora do Movimento Negro Unificado, junto de Flávio Carrança, Hamilton Cardoso, Vanderlei José Maria, [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Milton Barbosa], Rafael Pinto e Jamu Minka, que teve início em 1978, durante a [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Ditadura Militar Brasileira]. As primeiras reuniões aconteceram ainda nos porões do Jornal Versus, onde a jornalista trabalhava na época.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref><ref>https://www.geledes.org.br/movimento-negro-unificado-miltao/?gclid=Cj0KCQiAkZKNBhDiARIsAPsk0Who9_0iwLIIRJeIAJVyW7b7UPqvFwI3vEGjACWpnZqSPZF3HuARbewaAjbFEALw_wcB/. Consultado em 21 de novembro de 2021.</ref>
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O manifesto sobre a discriminação contra a mulher negra, escrito por Neusa em 1977, serviu como base para o ínicio do movimento.<ref>http://memorialdaresistenciasp.org.br/entrevistados/neusa-maria-pereira/. Entrevista sobre o Theatro Municipal no contexto da ditadura civil-militar com Neusa Maria Pereira. Consultado em 7 de novembro de 2021.</ref>
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Nesse mesmo momento, diversas associações, Organizações Não Governamentais, estavam surgindo no país todo. Várias mulheres começaram a estudar após terem acesso ao manifesto da jornalista.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
O manifesto sobre a discriminação contra a mulher negra, escrito por Neusa em 1977, serviu como base para o ínicio do movimento.<ref name=":1" />
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O MNU surgiu em 1978 para mostrar que o Brasil, durante a Ditadura Militar, não era uma sociedade com democracia racial. Ele era um país racista, que prejudicava o negro em seu crescimento social, cultural e econômico.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref><ref>https://www.geledes.org.br/movimento-negro-unificado-miltao/?gclid=Cj0KCQiAkZKNBhDiARIsAPsk0Who9_0iwLIIRJeIAJVyW7b7UPqvFwI3vEGjACWpnZqSPZF3HuARbewaAjbFEALw_wcB/. Consultado em 21 de novembro de 2021.</ref>
  
Nesse mesmo momento, diversas associações, Organizações Não Governamentais, estavam surgindo no país todo. Várias mulheres começaram a estudar após terem acesso ao manifesto da jornalista.<ref name=":0" />
 
  
O MNU surgiu em 1978 para mostrar que o Brasil, durante a Ditadura Militar, não era uma sociedade com democracia racial. Ele era um país racista, que prejudicava o negro em seu crescimento social, cultural e econômico.<ref name=":0" /><ref name=":4" />
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O MNU é mais do que apenas um movimento antirracista e político. Criado na tentativa de lutar contra o racismo no Brasil e dar visibilidade para a situação em que os negros viviam no país. A decisão de organizar o Ato Público de 1978, em frente ao Theatro Municipal de São Paulo, ocorreu porque o grupo acreditava que a única maneira de ter visibilidade era com uma grande manifestação.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref><ref>https://www.geledes.org.br/movimento-negro-unificado-miltao/?gclid=Cj0KCQiAkZKNBhDiARIsAPsk0Who9_0iwLIIRJeIAJVyW7b7UPqvFwI3vEGjACWpnZqSPZF3HuARbewaAjbFEALw_wcB/. Consultado em 21 de novembro de 2021.</ref>
  
O MNU é mais do que apenas um movimento antirracista e político. Criado na tentativa de lutar contra o racismo no Brasil e dar visibilidade para a situação em que os negros viviam no país. A decisão de organizar o Ato Público de 1978, em frente ao Theatro Municipal de São Paulo, ocorreu porque o grupo acreditava que a única maneira de ter visibilidade era com uma grande manifestação.<ref name=":0" /><ref name=":4" />
 
  
Diversas entidades se juntaram à manifestação para apoiar a ideia de denunciar o racismo no País. Eles conseguiram até mesmo mudar a forma de ver a história, colocando [[Zumbi dos Palmares]] como ídolo.<ref name=":0" />
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Diversas entidades se juntaram à manifestação para apoiar a ideia de denunciar o racismo no País. Eles conseguiram até mesmo mudar a forma de ver a história, colocando [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Zumbi dos Palmares] como ídolo.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
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Muitas das reivindicações do MNU foram base para a [https://pt.wikipedia.org/wiki/ Assembleia Nacional Constituinte de 1987].<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref>
  
 
== Prêmio Neusa Maria de Jornalismo ==
 
== Prêmio Neusa Maria de Jornalismo ==
O Prêmio Neusa Maria de Jornalismo é voltado para jornalistas negros, indígenas e pessoas trans. Ele nasceu com o intuito de reconhecer o trabalho de profissionais que geralmente são deixados de fora de outras premiações.<ref name=":0" /><ref name=":2" />
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O Prêmio Neusa Maria de Jornalismo é voltado para jornalistas negros, indígenas e pessoas trans. Ele nasceu com o intuito de reconhecer o trabalho de profissionais que geralmente são deixados de fora de outras premiações.<ref>https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.</ref><ref>https://www.cartacapital.com.br/sociedade/premio-neusa-maria-de-jornalismo-abre-inscricoes-para-1a-edicao/. Consultado em 6 de novembro de 2021.</ref>
  
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O nome do prêmio foi dado em homenagem à Neusa Maria Pereira, por sua luta e protesto contra a violência policial durante a Ditadura Militar.
  
 
== Premiações ==
 
== Premiações ==
  
 
=== Prêmio Vladimir Herzog ===
 
=== Prêmio Vladimir Herzog ===
Em 2021, Neusa Maria foi uma das homenageadas do Prêmio Especial Vladimir Herzog. A premiação se deve a seus anos de contribuição ao jornalismo brasileiro e à sociedade. O Prêmio Especial é concedido desde 2009 a personalidades e profissionais que possuam uma contribuição relevante para Democracia, Justiça Social e Direitos Humanos.<ref name=":3" />
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Em 2021, Neusa Maria foi uma das homenageadas do Prêmio Especial Vladimir Herzog. A premiação se deve a seus anos de contribuição ao jornalismo brasileiro e à sociedade. O Prêmio Especial é concedido desde 2009 a personalidades e profissionais que possuam uma contribuição relevante para Democracia, Justiça Social e Direitos Humanos.<ref>https://www.conectas.org/noticias/premio-jornalistico-vladimir-herzog-de-anistia-e-direitos-humanos-anuncia-homenageados-de-2021/. Consultado em 6 de novembro de 2021.</ref>
  
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Neusa, por sua atuação no Movimento Negro Unificado e por ser a primeira mulher negra a escrever sobre o feminismo negro na mídia brasileira, foi selecionada.
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Edição atual tal como às 20h00min de 7 de dezembro de 2021

Neusa Maria Pereira durante entrevista ao Wikiafro. Foto tirada em setembro de 2021.

Nome completo: Neusa Maria Pereira

Nascimento:24 de agosto de 1948 (73 anos), São Paulo, SP

Nacionalidade: Brasileira

Pais: José Pereira e Maria de Lourde Pereira

Filhos: Indaiá Moreira e Maíra Moreia

Etnia: Afro-brasileira

Ocupação: Jornalista

Período em atividade: 1971-presente


Neusa Maria Pereira (São Paulo, 24 de agosto de 1948) [1] é uma jornalista brasileira, fundadora e co-fundadora de movimentos sociais, como o Movimento Negro Unificado (MNU), e um dos principais nomes do feminimo negro do País.[2] Como forma de reconhecimento, foi criado o prêmio Neusa Maria de Jornalismo, destinado a profissionais da mídia negros e/ou trans.[3]

Em 2021, foi escolhida para ser homenageada especial do Prêmio Vladimir Herzog.[4] Ainda no mesmo ano, o Theatro Municipal de São Paulo reconheceu a importância do Ato Público de 1978 para sua história, convidando Neusa para seu aniversário de 110 anos.

Junto com a sócia Cátia Rodrigues, fundou em 2010 a Editora Abayomi, responsável pela publicação do Jornal Escrita Feminina. O objetivo das publicações é atingir mulheres negras da periferia, que se encaixam nas classes B e C, tornando-se um jornal plural. Atualmente, as jornalistas estão repensando o modelo de projeto para o mundo digital.

Infância

Neusa Maria nasceu no dia 24 de agosto de 1948, em São Paulo, na antiga Maternidade de São Paulo, que pariu boa parte dos paulistanos durante décadas.[5]

Nasceu e cresceu em uma família muito humilde, filha de Maria de Lourdes Pereira e José Pereira. Ambos mineiros, vieram para São Paulo em busca de emprego e novas oportunidades. O casal teve dois filhos, Neusa Maria e seu irmão mais novo Luís Antônio Pereira. Quando ela tinha apenas 3 anos de idade, sua mãe faleceu.

Após a morte da mãe, as duas crianças foram morar com o avô Brás Pereira e a avó Maria Rita da Conceição Pereira, que participou da Frente Negra Brasileira, na década de 30. O FNB foi um movimento negro, criado em 1931, em São Paulo, que se expandiu para outros estados, como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia.[6] As duas crianças foram criadas pelos avós paternos e junto do pai, o qual na época era funcionário público, trabalhando na Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo.

O pai de Neusa, no entanto, era um homem muito doente, o que dificultava rendas extras na casa, além de obrigá-lo a passar alguns períodos afastados do trabalho.

Seus avós não trabalhavam, por isso seu pai era o principal provedor da casa. Mesmo muito doente, ele sempre batalhou muito para dar conta de todas as despesas. Algum tempo depois, seu avô conseguiu um serviço como pedreiro, na construção civil. O emprego, contudo, durou pouco tempo, pois acabou caindo de um andaime na obra e ficou impossibilitado de trabalhar.

Família

Neusa tem duas filhas, Indaiá Moreira e Maíra Moreira. A mais velha é funcionária pública da prefeitura e trabalha na área de call center. Já Maíra é formada em educação física e joga basquete profissionalmente.[7]

A jornalista é divorciada. Conheceu seu ex-marido no Rio de Janeiro e se separou dele quando suas filhas ainda eram bem novas.

A vida social de Neusa pode ser descrita como bem sossegada, mas ela deixou um grande legado para sua família que é composta, em grande parte, por mulheres: todas estudam e trabalham.

As tias dela foram as primeiras mulheres a serem operárias nas Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo, grupo empresarial que, na época, era o maior da América Latina, com fábricas em diversos segmentos. A jornalista, por sua vez, foi a primeira a ir para a universidade. Hoje, algumas mulheres de sua família são advogadas, engenheiras, funcionárias públicas, enfermeiras, tradutoras simultâneas e educadoras.

Estudos

Infância

O pai de Neusa sempre a incentivou a estudar, pois queria que a filha fugisse do histórico da mulher negra que sempre trabalhava como doméstica. José desejava que a filha fosse médica, uma vontade que provavelmente vinha de suas inúmeras doenças. No entanto, ela nunca cogitou tal possibilidade.[8]

A determinação de fazer a filha estudar fez com que José buscasse as melhores escolas para Neusa. Como era funcionário público e tinha contatos, conseguiu bolsas de estudos e vagas para ela em boas escolas, algumas públicas e outras particulares.

A primeira escola em que Neusa estudou era pública. Neste período, no entanto, ela não conseguiu desenvolver seu aprendizado, uma vez que a professora discriminava os alunos negros em sala de aula, não os auxiliando com tarefas e deveres, não explicando atividades e, em alguns casos, maltratando os alunos fisicamente.[9]

Após ser reprovada, seu pai a colocou em uma escola particular de freiras, o Colégio Luiza de Marillac, atual Colégio Marillac, pertencente à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.[10]

Adolescência

Depois do Colégio Luiza de Marillac, Neusa Maria começou a estudar no Instituto Presbiteriano Mackenzie. Lá, ela ficou durante os primeiros anos do Ensino Médio, em que cursou línguas como latim, alemão e inglês, além de ter tido aula com Dino Preti, linguista brasileiro, pioneiro dos estudos sobre Oralidade e Análise da Conversação.[11]

Em 1964, quando ainda estava estudando no Mackenzie, Neusa acompanhou conflitos entre os alunos da escola e os estudantes de filosofia da USP, que ficava do outro lado da rua.

Seus estudos no Mackenzie, contudo, não duraram por muito tempo. Nessa escola, foi onde viu o racismo mais de perto, já que era uma das únicas alunas negras da escola. Em sala de aula, Neusa era bem tratada por seus colegas e por seus professores, mas sofria ataques racistas por outros alunos do colégio.[12]

Após esse período conturbado dentro do Mackenzie, Neusa saiu do colégio e foi estudar em uma escola pública, na Escola Estadual Professor Otávio Mendes, no período noturno. Na época, ela mudou de horário para buscar um emprego, no entanto, não obteve sucesso em suas buscas. Nesse colégio, ela concluiu o Ensino Médio e se preparou para os vestibulares.

Faculdade

Em 1971, iniciou o curso de jornalismo na universidade Cásper Líbero, no qual se formou em 1975. [13]

A primeira opção dela era cursar Direito, mas por ter uma grande ligação com as matérias de humanas, resolveu estudar jornalismo. Ela achava que seria um curso fácil, já que gostava de ler e escrever, e também pensava que poderia melhorar a sua timidez quando precisasse fazer entrevistas. Enquanto cursava Jornalismo, Neusa acreditava que poderia falar sobre os assuntos que gostava e acreditava, como o racismo, a pobreza e outras questões de cidadania. Na época, ainda tinha em mente que o jornalismo era uma profissão que tinha como objetivo mostrar o mundo como ele realmente era, apontando saídas.[14]

Foi a possibilidade de estar sempre transitando entre os diferentes níveis sociais que fez com que Neusa se apaixonasse pelo jornalismo. Porém, encontrou muitas dificuldades já que o ambiente era altamente competitivo e branco, além de ter poucas mulheres, em especial negras.[15]

Cursos de especialização

Assim que terminou a faculdade, Neusa realizou outros cursos como Assessoria de Imprensa por um semestre na Escola de Comunicação e Artes da USP, promovido pelo Instituto Legislativo Paulista, em 2000.[16]

Inclusão Social na Mídia Brasileira, promovido pelo ILP, ministrado por professores da USP, em 2013.

Em 2014 fez outro curso no ILP, dessa vez sobre Políticas Públicas para Mulheres.

Carreira

Muitos amigos de faculdade, que estavam anos à frente de Neusa, indicaram ela para vagas de estágio, porém, quando as redações descobriam o ano em que estava, desistiam de contratá-la. A jornalista, contudo, acredita que, em partes, existia um preconceito por ela ser negra.[17]

Até que seu pai, quando ela ainda estava no primeiro ano de faculdade, decidiu ir até a Folha de São Paulo pedir um emprego para sua filha. José Pereira conversou diretamente com o editor chefe do jornal e conseguiu uma vaga para Neusa.

Ela começou no jornal como uma assistente dos jornalistas que trabalhavam lá. Sua função era acompanhar os profissionais em entrevistas e trabalhos em campo, ajudá-los como possível e, no fim do dia, escrever uma matéria à parte com os materiais que ajudou a colher.

Neusa Maria avalia que trabalhar na Folha de São Paulo era frustrante[18], isso porque ela acreditava que estaria escrevendo, publicando e sendo útil para o jornal, contudo, eles não lhe davam espaço. Além disso, ela precisava de um trabalho remunerado, uma vez que seu pai ganhava pouco e, muitas vezes, precisava se afastar do trabalho por conta de sua doença. Por isso, ela deixou a redação da Folha e foi procurar um trabalho pago.

Nesse meio tempo, porém, ela ficou doente e teve de ser internada por um mês. Isso a impossibilitou de buscar emprego, além de lhe afastar da faculdade. Neusa afirma que, durante esse período, foram seus colegas de sala que pagaram seu curso e lhe passaram o conteúdo perdido.[19]

Após formada, trabalhou na Gazeta de São Paulo e, em seguida, migrou para o Jornal Versus. Lá, ela começou a trabalhar em 1977, após escrever o texto “Em defesa da dignidade das mulheres negras em uma sociedade racista”.[20] Ela foi repórter, redatora, coordenadora e criadora da equipe de jornalistas da seção Afro- Latino- América do jornal. Neusa Maria saiu do Versus em 1978, quando o jornal deixou de existir.[21][22]

A partir da década de 80, Neusa trabalhou em diversos jornais, todos por pouco tempo. Nesse período foi repórter das Editorias de Cidades e Entretenimento do Diário de São Paulo, repórter de Economia e Cidades no Diário do Comércio, editora da Revista Panorama da Justiça, repórter e revisora do jornal Socorro News, assessora de imprensa do Clube Banespa, freelancer e pesquisadora da Editora Abril. Em relação às datas em que trabalhou em cada jornal, ela não se lembra dos anos, e parte dos locais em que trabalhou fecharam.[23]

No início dos anos 2000, tornou- se educadora social da Fundação CASA, antiga FEBEM. Lá, ela trabalhou de 2006 a 2010.[24]

Editora Abayomi

Neusa decidiu abrir uma editora quando percebeu que a imprensa hegemônica, imprensa formada por um grupo social que determina o que é notícia, excluindo temas abordados por minorias, não estava mais satisfazendo seus desejos naquilo que ela pensava como jornalista. Ela achava que abrindo uma editora, conseguiria fazer um jornalismo mais político, mais ideológico, entrevistando pessoas que achava interessante para o momento e dentro da concepção de jornal.[25][26]

Na época, Neusa já havia saído da imprensa hegemônica. Por isso resolveu dar outro norte em sua carreira de jornalista. A editora foi fundada em 2010 em parceria com outra jornalista, sua sócia Cátia Rodrigues.

O jornal é plural, mas o objetivo delas é atingir as mulheres negras da periferia. A intenção não é fazer um conteúdo para gueto, todas as matérias escritas pela editora são de interesse de mulheres de todas as raças que pertencem à classe B e C. Porém, elas querem que todos tenham acesso às informações publicadas.

Para decidir o nome da editora, Neusa e sua sócia se reuniram e ficaram pensando sobre nomes africanos ou afro-brasileiros. Elas decidiram dar um caráter mais afrodescendente para a editora, justamente devido a suas próprias origens.

O jornal Escrita Feminina foi a primeira publicação da editora Abayomi. A palavra Abayomi significa ‘vencer um inimigo' e ela é de origem yorubá. Ela vem de encontro ao ideal jornalístico das sócias que é estar de mãos dadas com as mulheres que ultrapassam barreiras para conseguirem seus objetivos com ética, amor e solidariedade.

A editora publica apenas um jornal e ainda está ativa, mas durante a pandemia tiveram dificuldades pois não possuem patrocinadores. Hoje, o projeto está sendo repensado para o digital, que é mais barato e a forma mais fácil de atingir o público.

Movimentos

Fé Cega, Faca Amolada

Anteriormente ao Movimento Negro Unificado, Neusa Maria também foi co-fundadora do Fé Cega, Faca Amolada, movimento negro feminista. Ele, no entanto, acabou assim que o MNU surgiu, pois seus membros decidiram se unir a ele.[27]

Ato Público de 1978

Ela foi uma das maiores incentivadoras do Ato Público, que aconteceu em 1978, em frente ao Theatro Municipal de São Paulo, em função do assassinato de Robson dos Santos e 4 meninos negros que foram impedidos de entrar no clube Tiête por conta de sua cor, mesmo sendo atletas profissionais.[28][29]

O Ato Público teve como base o manifesto sobre a discriminação contra a mulher negra, escrito pela jornalista e que, mais tarde, foi publicado no Jornal Versus.

Movimento Negro Unificado (MNU)

Neusa Pereira é co-fundadora do Movimento Negro Unificado, junto de Flávio Carrança, Hamilton Cardoso, Vanderlei José Maria, Milton Barbosa, Rafael Pinto e Jamu Minka, que teve início em 1978, durante a Ditadura Militar Brasileira. As primeiras reuniões aconteceram ainda nos porões do Jornal Versus, onde a jornalista trabalhava na época.[30][31]

O manifesto sobre a discriminação contra a mulher negra, escrito por Neusa em 1977, serviu como base para o ínicio do movimento.[32]

Nesse mesmo momento, diversas associações, Organizações Não Governamentais, estavam surgindo no país todo. Várias mulheres começaram a estudar após terem acesso ao manifesto da jornalista.[33]

O MNU surgiu em 1978 para mostrar que o Brasil, durante a Ditadura Militar, não era uma sociedade com democracia racial. Ele era um país racista, que prejudicava o negro em seu crescimento social, cultural e econômico.[34][35]


O MNU é mais do que apenas um movimento antirracista e político. Criado na tentativa de lutar contra o racismo no Brasil e dar visibilidade para a situação em que os negros viviam no país. A decisão de organizar o Ato Público de 1978, em frente ao Theatro Municipal de São Paulo, ocorreu porque o grupo acreditava que a única maneira de ter visibilidade era com uma grande manifestação.[36][37]


Diversas entidades se juntaram à manifestação para apoiar a ideia de denunciar o racismo no País. Eles conseguiram até mesmo mudar a forma de ver a história, colocando Zumbi dos Palmares como ídolo.[38]

Muitas das reivindicações do MNU foram base para a Assembleia Nacional Constituinte de 1987.[39]

Prêmio Neusa Maria de Jornalismo

O Prêmio Neusa Maria de Jornalismo é voltado para jornalistas negros, indígenas e pessoas trans. Ele nasceu com o intuito de reconhecer o trabalho de profissionais que geralmente são deixados de fora de outras premiações.[40][41]

O nome do prêmio foi dado em homenagem à Neusa Maria Pereira, por sua luta e protesto contra a violência policial durante a Ditadura Militar.

Premiações

Prêmio Vladimir Herzog

Em 2021, Neusa Maria foi uma das homenageadas do Prêmio Especial Vladimir Herzog. A premiação se deve a seus anos de contribuição ao jornalismo brasileiro e à sociedade. O Prêmio Especial é concedido desde 2009 a personalidades e profissionais que possuam uma contribuição relevante para Democracia, Justiça Social e Direitos Humanos.[42]

Neusa, por sua atuação no Movimento Negro Unificado e por ser a primeira mulher negra a escrever sobre o feminismo negro na mídia brasileira, foi selecionada.

Referências

  1. https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.
  2. http://memorialdaresistenciasp.org.br/entrevistados/neusa-maria-pereira/. Entrevista sobre o Theatro Municipal no contexto da ditadura civil-militar com Neusa Maria Pereira. Consultado em 7 de novembro de 2021.
  3. https://www.cartacapital.com.br/sociedade/premio-neusa-maria-de-jornalismo-abre-inscricoes-para-1a-edicao/. Consultado em 6 de novembro de 2021.
  4. https://www.conectas.org/noticias/premio-jornalistico-vladimir-herzog-de-anistia-e-direitos-humanos-anuncia-homenageados-de-2021/. Consultado em 6 de novembro de 2021.
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  6. https://www.geledes.org.br/frente-negra-brasileira-2/?gclid=Cj0KCQiAkZKNBhDiARIsAPsk0WgQ8HPnoTJvShKFJa24ntGpztYLtU9bj88mJQhwsxq_H8-G1Ju_k24aAsV-EALw_wc/. Consultado em 21 de novembro de 2021.
  7. https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/05/neusa-maria/. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro em 25 de setembro de 2021.
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