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{{Afro-brasileiros}}
 
'''Afro-brasileiro''' ou '''brasileiro negro''' são os termos oficiais no [[Brasil]] que designam racialmente e de acordo com a cor das pessoas que se definem como pertencentes a [[Negros|esse grupo]].
 
  
De acordo com uma pesquisa do [[IBGE]] realizada em 2008 nos estados do [[Amazonas (estado)|Amazonas]], da [[Paraíba]], de [[São Paulo (estado)|São Paulo]], do [[Rio Grande do Sul]], do [[Mato Grosso]] e no [[Distrito Federal (Brasil)|Distrito Federal]], apenas 11,8% dos entrevistados reconheceram ter ascendência africana, enquanto que 43,5% disseram ter ancestralidade europeia, 21,4% indígena e 31,3% disseram não saber a sua própria ancestralidade. Quando indagados a dizer de forma espontânea a sua cor ou raça, 49% dos entrevistados se disseram brancos, 21,7% morenos, 13,6% pardos, 7,8% negros, 1,5% amarelos, 1,4% pretos, 0,4% indígenas e 4,6% deram outras respostas.<ref name="racial">{{Citar web|url=http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/caracteristicas_raciais/PCERP2008.pdf|título=Características étnico-raciais da população|arquivourl=https://web.archive.org/web/20130903031653/http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/caracteristicas_raciais/PCERP2008.pdf|arquivodata=3 de Setembro de 2013|urlmorta=yes}}</ref> Porém, quando a opção "afrodescendente" foi apresentada, 21,5% dos entrevistados se identificaram como tal.<ref>{{Citar web |url=http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/caracteristicas_raciais/tab_2.20.pdf |titulo=Cópia arquivada |acessodata=23 de Julho de 2011 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20120902010650/http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/caracteristicas_raciais/tab_2.20.pdf |arquivodata=2 de Setembro de 2012 |urlmorta=sim }}</ref> Quando a opção "negro" também foi apresentada, 27,8% dos entrevistados se identificaram com ela.<ref name="racial"/>
 
 
== Conceito de afro-brasileiro ==
 
O antropólogo [[Darcy Ribeiro]] considerava o contingente negro e mulato "o mais brasileiro dos componentes do nosso povo" uma vez que, desafricanizado pela escravidão e não sendo indígena nem branco reinol, só restava a ele assumir uma identidade plenamente brasileira.<ref name="darcy"/> Isto não quer dizer que negros e mulatos tenham se integrado à sociedade brasileira sem serem estigmatizados. Muito pelo contrário, muitos brasileiros desenvolveram vergonha das suas origens negras, seja pelo fato de que descender de escravos remete a um passado de humilhações e sofrimentos que deveria ser esquecido ou pelos estereótipos negativos que foram construídos em torno da negritude, associando-a a mazelas sociais como a pobreza e a criminalidade.<ref name="darcy"/><ref name=alma>{{citar livro | título = Negros de alma branca-|autor=Petrônio José Domingues|editora = 34}}</ref><ref name="Elaine">Rocha, Elaine Pereira. [http://www.periodicos.ufes.br/dimensoes/article/viewFile/2444/1940 "Antes índio que negro"]{{Ligação inativa|data=dezembro de 2019 }}. In: ''Dimensões —  Revista de História da Ufes'', 2006; 18:203-220</ref>
 
{{Imagem dupla|right|Camila Pitanga 25° PMB.jpg|150|Ronaldo-14-05-2013.jpg|154|A atriz [[Camila Pitanga]] autodeclara-se negra, mas apenas 27% dos brasileiros a consideram como tal, segundo pesquisa do [[Datafolha]].<ref name="data"/>|O futebolista [[Ronaldo Fenômeno|Ronaldo]] autodeclara-se branco, mas 64% dos brasileiros o consideram preto ou pardo, segundo pesquisa do [[Datafolha]].<ref name="data"/>}}
 
 
Portanto, assumir-se negro no Brasil sempre foi muito difícil, por todo o conteúdo ideológico anti-negro que historicamente se desenvolveu no país, onde ainda hoje impera a ideologia do branqueamento e um padrão branco-europeu estético e cultural.<ref name="alma"/> Portanto, no Brasil, apenas as pessoas de pele preta retinta são consideradas negras, sendo que o mulato já é pardo e portanto meio-branco e, se tiver a pele um pouco mais clara, passa a ser visto como branco. No passado, era raro o mulato saltar para o lado negro de sua dupla natureza uma vez que, diante da massa de negros afundados na miséria, com eles não queria se confundir.<ref name="darcy"/>
 
 
Nos últimos anos, contudo, cada vez mais brasileiros se assumem como negros. Isso é consequência do sucesso dos [[Afro-americanos|negros americanos]], vistos pelos brasileiros como uma "vitória da raça" e, principalmente, devido à ascensão social de parcela da população afrodescendente que, tendo acesso à educação e a melhores oportunidades de emprego, deixa de ter vergonha de assumir a sua cor.<ref name="darcy"/>
 
 
[[Raça]] é um conceito social, político e ideológico, não tendo uma sustentação biológica, uma vez que não é possível separar biologicamente seres humanos em raças distintas.<ref name="raças1">{{citar web|url=http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=1026|título=As raças não existem|website=historianet.com.br}}</ref> Em um país profundamente miscigenado como o Brasil, não é fácil definir quem é negro, uma vez que muitos brasileiros, aparentemente brancos, são parcialmente descendentes de africanos, assim como muitos negros são parcialmente descendentes de europeus. Acrescenta-se a isso o grande número de [[pardos]], cuja classificação racial pode ser bastante ambígua.<ref name="azevedo"/> A atriz [[Camila Pitanga]] autodeclara-se negra mas, em uma pesquisa do [[Datafolha]], apenas 27% dos entrevistados classificaram a atriz como de cor preta (36% disseram que ela é parda). O jogador [[Ronaldo Fenômeno]], por sua vez, disse em uma entrevista que se considera branco, mas, segundo a mesma pesquisa, 64% dos brasileiros o consideram preto ou pardo, e somente 23% como branco. O ex-presidente [[Luiz Inácio Lula da Silva]] foi classificado como pardo por 42% dos entrevistados, ao passo que o ex-presidente [[Fernando Henrique Cardoso]], que já disse ser "mulatinho", foi classificado como branco por 70%, como pardo por 17% e como preto por 1%. A atriz [[Taís Araújo]], autodeclarada negra, é vista como tal por apenas 54%.<ref name="data">{{Citar web|url=http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fj2311200827.htm|título =Cor de celebridades revela critérios "raciais" do Brasil|publicado = Folha de S.Paulo}}</ref>
 
 
Para o [[Movimento negro no Brasil|Movimento Negro]], são consideradas negras todas as pessoas que têm essa "aparência". Para o antropólogo Kabegele Munanga, da [[USP]], a questão é problemática e, segundo ele, deve prevalecer a autoclassificação. Portanto, se uma pessoa, aparentemente branca, se declara negra e se candidata a uma vaga com base em cotas raciais, a sua decisão deve ser respeitada.<ref name="desconfiado">{{Citar web |url=http://desconfiando.wordpress.com/2009/10/15/um-branco-pode-ser-negro-nao-e-uma-questao-biologica-mas-politica/ |titulo=Cópia arquivada |acessodata=8 de Janeiro de 2014 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20140108055909/http://desconfiando.wordpress.com/2009/10/15/um-branco-pode-ser-negro-nao-e-uma-questao-biologica-mas-politica/ |arquivodata=8 de Janeiro de 2014 |urlmorta=yes }}</ref>
 
{{Imagem dupla|left|Josué de Castro com 21 anos em sua formatura, 1929.jpg|157|Nilo Peçanha 02.jpg|150|[[Josué de Castro]], o maior cientista social brasileiro, era afrodescendente.|[[Nilo Peçanha]], o sétimo [[Presidente do Brasil]], era mulato.}}
 
 
Em 2007, um caso polêmico chamou a atenção da [[mídia]] brasileira: dois irmãos, [[gêmeos idênticos]], concorreram no [[vestibular]] da [[UnB]] sob o sistema de cotas. Na universidade havia uma banca que, após analisar as fotos dos candidatos, definia quem era negro e quem não era. Após terem suas fotos analisadas pela banca, um dos gêmeos foi considerado negro, e o outro não.<ref>{{citar web|url=http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL43786-5604-619,00.html|título=G1 > Vestibular e Educação - NOTÍCIAS - Cotas na UnB: gêmeo idêntico é barrado|website=g1.globo.com}}</ref> O sociólogo [[Demétrio Magnoli]] considera perigoso a instauração de "tribunais raciais" no Brasil, o que aproximaria o país das nações [[racialismo|racialistas]] e paranoicas do século passado. Em 1933, a Alemanha [[nazista]] definiu como [[judeu]] aquele que tinha ao menos um quarto de "sangue judaico" (equivalente a um avô). Em 1935, o próprio [[Hitler]] alteraria a regra, e passou-se a considerar como judeu somente quem tinha mais de dois terços de "sangue judaico", sendo alemães os "meio-judeus" (ou seja, com apenas dois avós judeus). Nos Estados Unidos sob as [[Leis de Jim Crow]], era considerada negra qualquer pessoa com uma gota de sangue africano ([[one-drop rule]]), mesmo que não aparentasse sê-la.<ref name=magnoli>MAGNOLI, Demétrio. ''Uma Gota de Sangue'', Editora Contexto 2008 (2008))</ref> Na África do Sul do [[Apartheid]], quando havia dúvida sobre a negritude da pessoa, era feito o "teste do pente": se o [[pente]] enroscasse no cabelo, a pessoa era negra, e se o pente deslizasse até o chão, era branca.<ref name=azevedo>Celia Maria Marinho de Azevedo. "Anti-racismo e seus paradoxos: reflexões sobre cota racial, raça e racismo"</ref>
 
 
No censo do [[IBGE]] de 2010, 7,6% dos brasileiros identificaram sua cor ou raça como preta, 43,1% como parda e 47,7% como branca.<ref name="racial1">IBGE. [ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/caracteristicas_religiao_deficiencia.pdf ''Censo Demográfico 2010'']. 2010</ref> Esses dados, contudo, devem ser analisados com cautela, haja vista a histórica tendência ao branqueamento que se observa nas classificações raciais no país.<ref name="darcy"/><ref name="alma"/> Para efeitos estatísticos, o IBGE classifica como população negra a soma dos pretos e pardos,<ref name="sebrae">{{Citar web |url=http://www.sae.gov.br/site/?p=19237 |titulo=Cópia arquivada |acessodata=8 de Janeiro de 2014 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20140108015212/http://www.sae.gov.br/site/?p=19237 |arquivodata=8 de Janeiro de 2014 |urlmorta=yes }}</ref> embora essa metodologia venha a ser questionada por alguns, uma vez que a maioria dos pardos são mestiços, que não se identificam nem como negros, nem como brancos, mas como um grupo separado.<ref>MAGNOLI, Demétrio. ''Uma Gota de Sangue'', Editora Contexto 2008 (2008).</ref> Além disso, muitos pardos não são descendentes de africanos, mas de [[índios]], principalmente nos estados do [[Norte do Brasil|Norte]].<ref>{{citar web|url=http://www.academia.org.br/artigos/genocidio-racial-estatistico|título=Genocídio racial estatístico|website=Academia Brasileira de Letras}}</ref>
 
 
O Estado brasileiro, que historicamente assumiu diversas atitudes claramente racistas, como no final do {{séc|XIX}}, quando proibiu a entrada de imigrantes africanos e asiáticos no país, ao mesmo tempo em que promovia a entrada de imigrantes europeus,<ref name="skidmore"/><ref name="branquitude">{{Citar web |url=http://www.ceert.org.br/premio4/textos/branqueamento_e_branquitude_no_brasil.pdf |titulo=Cópia arquivada |acessodata=8 de Janeiro de 2014 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20101112003550/http://www.ceert.org.br/premio4/textos/branqueamento_e_branquitude_no_brasil.pdf |arquivodata=12 de Novembro de 2010 |urlmorta=yes }}</ref>
 
recentemente tem se redimido e tomado atitudes políticas que visam a melhora das condições de vida da população negra, tanto do ponto de vista sócio-econômico como ideológico. Dentre as quais, a Lei n.º 10.639 de 2003, que tornou obrigatório o ensino da História da África e da cultura afro-brasileira nas escolas,<ref name="escolas">{{citar web|url=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm|título=L10639|website=www.planalto.gov.br}}</ref> a Lei n.º 12.288 de 2010, que instituiu o [[Estatuto da Igualdade Racial]],<ref name="estatuto">{{citar web|url=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm|título=L12288|website=www.planalto.gov.br}}</ref> a Lei n.º 12.519 de 2011, que instituiu o [[Dia da Consciência Negra|Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra]],<ref name="consciencia">{{citar web|url=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12519.htm|título=L12519|website=www.planalto.gov.br}}</ref> a Lei n.º 12.711 de 2012, que tornou obrigatória a reserva de [[Cota racial|cotas raciais]] no Ensino Superior<ref name="cotas">{{citar web|url=http://portal.mec.gov.br/cotas/perguntas-frequentes.html|título=:: Lei de Cotas para o Ensino Superior ::|primeiro =Ministerio da|último =Educacao|website=portal.mec.gov.br}}</ref> e a Lei n.º 12.990 de 2014, que também tornou obrigatória a reserva de cotas para negros nos [[Concurso público|concursos públicos]].<ref name="concursos">{{citar web|url=http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12990.htm|título=L12990|website=www.planalto.gov.br}}</ref>
 
 
== História ==
 
=== A escravidão no mundo ===
 
{{Principal|História da escravidão|Escravidão|Escravidão branca|Escravidão na Roma Antiga}}
 
[[Imagem:Slavery in Brazil, by Jean-Baptiste Debret (1768-1848).jpg|miniatura|Escravo sendo açoitado, em pintura de [[Jean-Baptiste Debret]]]]
 
Segundo o historiador Orlando Patterson, praticamente não existe ser humano que não seja descendente de escravos ou de senhores de escravos. A [[escravidão]] foi adotada em diversas sociedades humanas, em diferentes regiões do mundo, vigorando nas populações mais primitivas até as civilizações mais sofisticadas.<ref name = "social">PATTERSON, Orlando. ''Escravidão e Morte Social''. Editoria EDUSP, 2008.</ref>
 
 
No que viria a ser o Brasil, a escravidão já era praticada pelos índios, na sua forma mais primitiva, bem antes da chegada dos europeus. Entre os [[tupinambá]]s, a escravidão não tinha um valor econômico, vez que os cativos serviam para serem exibidos como troféus de valor militar e honra ou como carne a ser devorada em rituais canibalescos que poderiam acontecer até quinze anos após a captura.<ref name="social"/>
 
 
Pesquisas arqueológicas mostram que a escravidão foi praticada na Europa pelo menos desde o [[Neolítico]]. Com a [[revolução urbana]], iniciada a partir do V milênio a. C., os prisioneiros de guerra, no lugar de serem sacrificados em cerimônias antropofágicas, passaram a ser usados como trabalhadores cativos. O sistema escravista alcançou seu auge entre os europeus nas civilizações grega e romana, época em que milhares de pessoas foram traficadas como escravas no Mar Negro e no Mediterrâneo. A maioria desses escravos eram europeus, embora também viessem das colônias na África e na Ásia. A escravidão declinou no norte da Europa no fim da [[Idade Média]], porém persistiu no sul até a [[Idade Moderna]].<ref name="social"/>
 
 
Entre os povos mais primitivos da [[África Subsaariana]], assim como entre os índios do Brasil, os escravos raramente tinham um valor econômico, sendo símbolo de prestígio. Porém, a medida que os povos subsaarianos mais simples passaram a ter contato com povos mais avançados, os escravos geralmente constituíam a única mercadoria que eles poderiam oferecer em troca de bens de luxo.<ref name="social"/> Em 1580 a.C, navios já partiam do [[Egito]] para a [[Somalilândia]] com o único objetivo de capturar escravos. Com o avanço do [[islamismo]] na [[Península Arábica]] e no [[Norte da África]], o tráfico de escravos negros se intensificou, com a formação de postos comerciais na África oriental por comerciantes árabes. No início da Idade Média, traficantes árabes penetraram a África ocidental e iniciaram o tráfico transaariano de escravos, que culminou na escravização de milhões de africanos negros que foram mandados para as regiões islamizadas do norte da África e para os países árabes.<ref name="social"/>
 
 
=== O tráfico transatlântico de escravos ===
 
[[Imagem:Africa slave Regions.svg|miniatura|upright=1.3|Principais regiões de comércio de escravos na [[África]] entre os séculos XV e XIX]]
 
Nenhum continente foi tão afetado pela escravidão como a [[África]]. O último e o maior sistema escravista da História da humanidade foi o tráfico de africanos para as Américas. Praticamente todos os povos da [[Europa ocidental]] estiveram envolvidos nesse altamente lucrativo tráfico, embora [[Portugal]], [[Holanda]], [[Inglaterra]] e [[França]] se tenham destacado. Com a chegada dos europeus ao continente africano no {{séc|XVI}}, o tráfico de escravos, intenso há vários séculos, cresceu ainda mais. Em troca de mercadoria e dinheiro oferecidos pelos comerciantes europeus, vários povos africanos venderam pessoas de tribos vizinhas para os traficantes de pessoas.<ref name="social"/>
 
 
Como resultado do estímulo econômico advindo do comércio de escravos, surgiram na África Estados centralizados cuja economia estava fortemente dependente da venda de escravos, como [[Reino do Daomé|Daomé]] e o [[Império Ashanti]]. Neste processo, os comerciantes europeus e a elite africana lucravam por meio da escravização de milhões de africanos. De maneira geral, havia oito meios pelos quais as pessoas poderiam ser escravizadas:<ref name="social"/>
 
 
* Captura em guerras;
 
* Rapto;
 
* Pagamento de tributos e impostos;
 
* Dívida;
 
* Punição por crimes;
 
* Abandono e venda de crianças;
 
* Auto-escravização;
 
* Nascimento
 
 
A maioria dos africanos chegou às Américas por meio de rapto, ou seja, foram vítimas de ataques e incursões feitas com o único propósito de se adquirir escravos.<ref name="social"/> A maioria dos raptos eram feitos por intermediários africanos, que penetravam tribos vizinhas e vendiam os seus membros aos europeus embora, em muitos casos, os raptos fossem feitos pessoalmente pelos portugueses. A segunda forma mais comum da escravização foi por meio de capturas em guerras. Prisioneiros de guerra eram reduzidos à escravidão pela tribo vencedora e destinados à escravidão nas Américas. Rapto e captura em guerras não devem ser confundidos pois, no primeiro caso, a tribo é atacada com o único objetivo de se obter escravos e, no segundo, a tribo é escravizada como consequência de ter sucumbido na guerra. Patterson estima que, dos 1,6 milhão de africanos entrados no Novo Mundo antes do final do {{séc|XVII}}, 60% podem ter sido prisioneiros de guerra, enquanto menos de um terço foi raptado. Porém, dos 7,4 milhões entrados entre 1701 e 1810, 70% foram raptados e 20% foram vítimas de guerra.<ref name="social"/>
 
 
{| class="wikitable"
 
|+ Destinos dos escravos africanos (1519–1867)<ref>Stephen D. Behrendt, David Richardson, and David Eltis, [[W. E. B. Du Bois Institute|W. E. B. Du Bois Institute for African and African-American Research]], [[Harvard University]]. Based on "records for 27,233 voyages that set out to obtain slaves for the Americas". {{citar livro|último =Stephen Behrendt |título=Africana: The Encyclopedia of the African and African American Experience |ano=1999 |publicado=Basic Civitas Books |local=New York |isbn=0-465-00071-1 |capítulo=Transatlantic Slave Trade}}</ref>
 
|-
 
! Destino
 
! Porcentagem
 
|-
 
|América Portuguesa
 
|38,5%
 
|-
 
|América Britânica (menos a América do Norte)
 
|18,4%
 
|-
 
|América Espanhola
 
|17,5%
 
|-
 
|América Francesa
 
|13,6%
 
|-
 
|América do Norte Inglesa
 
|6,45%
 
|-
 
|América Inglesa
 
|3,25%
 
|-
 
|Antilhas Holandesas
 
|2,0%
 
|-
 
|Antilhas Dinamarquesas
 
|0,3%
 
|}
 
 
===Por que os africanos?===
 
 
De fato, teria sido muito mais barato aos europeus obter escravos na própria Europa do que enviar navios para a costa africana, com o objetivo de capturar mão de obra. Para os europeus, o grupo de indivíduos elegíveis para a escravidão era muito mais restrito do que para os africanos. A expansão ultramarina colocou os europeus em contato com povos "que diferiam mais deles, cultural e fisicamente, do que qualquer outro povo com o qual eles tinham interagido no milênio anterior". Na [[Europa]], a hipótese de escravizar outros europeus nunca foi levantada, ao passo que, na [[África]], havia grupos africanos dispostos a vender outros africanos para serem escravizados. Assim, a principal causa para a escravização em massa de africanos foi "um descompasso entre as concepções africana e europeia a respeito da elegibilidade para a escravização, em cujas raízes encontram-se a cultura, as normas sociais, que não estão claramente ligadas à economia".<ref name="emory">{{Citar web|url=http://www.slavevoyages.org/assessment/essays#|título=Um breve resumo do tráfico transatlântico de escravos - A escravização de africanos (visitado 30 de dezembro de 2016)|autor=David Eltis (Emory University), 2007|acessodata=30 de dezembro de 2016|arquivourl=https://web.archive.org/web/20161211184555/http://www.slavevoyages.org/assessment/essays|arquivodata=11 de dezembro de 2016|urlmorta=sim}}</ref>  Segundo o historiador David Eltis, "A África era uma massa continental muito maior, que abrigava mais diversidade de populações humanas do que se poderia encontrar em qualquer outra área de tamanho comparável no mundo. Não é de estranhar que os africanos não tivessem uma concepção continental de pertencimento — isto é, de povos que não se podia escravizar".<ref name="emory2">{{Citar web|url=http://www.slavevoyages.org/assessment/essays#|título=Um breve resumo do tráfico transatlântico de escravos - O fim do tráfico de escravos (visitado 30 de dezembro de 2016)|autor=David Eltis (Emory University), 2007|acessodata=30 de dezembro de 2016|arquivourl=https://web.archive.org/web/20161211184555/http://www.slavevoyages.org/assessment/essays|arquivodata=11 de dezembro de 2016|urlmorta=sim}}</ref>
 
 
Concomitantemente, no Continente Americano, os povos [[ameríndio]]s estavam morrendo aos milhares e o número de colonos europeus dispostos a cruzar o [[Atlântico]] era muito pequeno. Assim, os colonizadores buscaram na África a mão de obra necessária para desenvolver as colônias.<ref name="emory"/>
 
 
=== A escravidão no Brasil ===
 
[[Imagem:Igreja do Rosário dos Homens Pretos (3597939043).jpg|miniatura|A [[Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (Olinda)|Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de Olinda]] é a mais antiga igreja do Brasil pertencente a uma irmandade de negros.<ref name="Rosário">{{Citar web|url=http://www.labhoi.uff.br/sites/default/files/4_inventario_igrejas.pdf|título=Inventário dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e da História dos Africanos Escravizados no Brasil|publicado=UFF|acessodata=4-3-2017}}</ref>]]
 
{{Artigo principal|Escravidão no Brasil}}
 
O [[Brasil]] recebeu cerca de 38% de todos os [[Escravidão na África|escravos africanos]] que foram trazidos para a [[América]].<ref>{{citar web|url=http://books.google.com.br/books?id=40x6CcmwLkAC&pg=PA890&dq=O+Brasil+recebeu+cerca+de+37%25+de+todos+os+escravos+africanos&hl=pt-BR&ei=M9CYTfi_Keaf0AGysPz_Cw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CDwQ6AEwAQ#v=onepage&q=O+Brasil+recebeu+cerca+de+37%25+de+todos+os+escravos+africanos&f=false|título=História Geral da África – Vol. VI – África do {{séc|XIX}} à década de 1880|primeiro =Editor J. F. Ade Aja|último =Yi|data=9 de novembro de 2017|publicado=UNESCO|via=Google Books}}</ref> A quantidade total de [[África Subsaariana|africanos subsaarianos]] que chegaram ao Brasil tem estimativas muito variadas: alguns citam mais de três milhões de pessoas, outros quatro milhões.<ref>{{Citar web|url=http://brasil500anos.ibge.gov.br/pt/estatisticas-do-povoamento/desembarques-no-brasil|arquivourl=https://web.archive.org/web/20130331060927/http://brasil500anos.ibge.gov.br/pt/estatisticas-do-povoamento/desembarques-no-brasil|arquivodata=8 de Maio de 2013|urlmorta=yes|titulo=Desembarque estimado de africanos|data=|acessodata=|publicado=IBGE|ultimo=|primeiro=|obra=Brasil: 500 anos de povoamento}}</ref><ref>{{citar livro|título=Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro, 2000|ultimo=INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA|ano=2000|local=Rio de Janeiro|página=223|capitulo=Apêndice: Estatísticas de 500 anos de povoamento}}</ref> Segundo uma estimativa, de 1501 a 1866, foram embarcados na África com destino ao Brasil 5.532.118 africanos, dos quais 4.864.374 chegaram vivos (667.696 pessoas morreram nos navios negreiros durante o trajeto África-Brasil). O Brasil foi, de longe, o país que mais recebeu escravos no mundo. Em comparação, no mesmo período, com destino à [[América do Norte]] foram embarcados 472.381 africanos, dos quais 388.747 chegaram vivos (83.634 não sobreviveram).<ref>{{Citar web |url=http://www.slavevoyages.org/tast/index.faces;jsessionid=0A6CC1AA4C4D16DE06B2D060BDFE5F02 |titulo=Cópia arquivada |acessodata=18 de Setembro de 2011 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20140525232155/http://www.slavevoyages.org/tast/index.faces;jsessionid=0A6CC1AA4C4D16DE06B2D060BDFE5F02 |arquivodata=25 de Maio de 2014 |urlmorta=yes }}</ref>
 
[[Imagem:Francisco Félix de Souza.jpg|miniatura|[[Francisco Félix de Sousa]] (1754-1849), traficante de escravos tido como dono de uma grande fortuna em seu tempo, era mulato (ou mestiço indefinido).<ref>{{citar web |url=http://www.cartasdafrica.com/familias/desouza.htm |publicado=Cartasdafrica.com |obra= |autor= |título=De Souza - Benim |língua= |data= |acessodata=17 de novembro de 2019 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20080309131321/http://www.cartasdafrica.com/familias/desouza.htm |arquivodata=9 de março de 2008 |urlmorta=sim }}</ref><ref>{{citar web |url=http://veja.abril.com.br/101203/p_114.html |publicado=[[Veja]] |autor=OLTRAMANI, Alexandre |título=Veja, edição 1832 |data=10 de dezembro de 2003 |acessodata=17 de novembro de 2019}}</ref><ref>{{citar web |url=http://www.tesisenxarxa.net/TESIS_UV/AVAILABLE/TDX-0127105-131719//garcia.pdf |publicado=Tesisenxarxa.net |formato=PDF |obra= |autor=Dolores Cantus. Fernando Poo |título=Una Aventura Colonial Española en el África Occidental |língua= |ano=1778-1900 |página=195 |acessodata=17 de novembro de 2019 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20110724093009/http://www.tesisenxarxa.net/TESIS_UV/AVAILABLE/TDX-0127105-131719//garcia.pdf |arquivodata=2011-07-24 |urlmorta=yes }}</ref><ref>[[Alberto da Costa e Silva|SILVA, Alberto da Costa e]]. Francisco Félix de Souza, mercador de escravos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/EdUERJ, 2004</ref>]]
 
[[Imagem:Francisco Paulo de Almeida (Barão de Guaraciaba).jpg|miniatura|[[Francisco Paulo de Almeida]] ([[1826]]-[[1901]]), primeiro e único [[Barão]] de [[Guaraciaba (Minas Gerais)|Guaraciaba]], título concedido pela Princesa Isabel.<ref name="Caio Barretto Briso">{{citar web|url=http://oglobo.globo.com/rio/um-barao-negro-seu-palacio-seus-200-escravos-14573740|titulo=Um barão negro, seu palácio e seus 200 escravos|data=5 de março de 2008|acessodata=5 de setembro de 2018|publicado=[[O Globo]]|ultimo=Barretto Briso|primeiro=Caio}}</ref> Negro, possuiu uma das maiores fortunas do [[Império do Brasil|período imperial]], chegando a ser dono de aproximadamente mil escravos.<ref name="Caio Barretto Briso"/><ref>{{citar web|url=https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44792271|titulo=A história esquecida do 1º barão negro do Brasil Império, senhor de mil escravos|data=15 julho 2018|acessodata=5 de setembro de 2018|publicado=[[BBC]]|ultimo=Lopes|primeiro=Marcus}}</ref>]]
 
 
De acordo com a estimativa do IBGE, o número total de africanos que chegou ao Brasil foi de 4.009.400.<ref>{{citar web|url=http://www.ibge.gov.br/brasil500/index2.html|título=Página 404 - IBGE :: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística|primeiro=Felipe Miguel Marmello|último=Barreiro|website=www.ibge.gov.br|acessodata=29 de Agosto de 2008|arquivourl=https://web.archive.org/web/20130508154311/http://www.ibge.gov.br/brasil500/index2.html|arquivodata=8 de Maio de 2013|urlmorta=yes}}</ref>
 
 
Os [[Imigração portuguesa no Brasil|portugueses]] lideraram o tráfico de escravos por séculos. Herdaram da [[Invasão muçulmana da península Ibérica|tradição islâmica]] sua cultura técnica, fundamentalmente para a navegação, produção de açúcar e incorporação de negros escravos para a força de trabalho.<ref name=darcy>[[Darcy Ribeiro|RIBEIRO, Darcy]]. ''O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil''. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. [https://books.google.com.br/books?id=0phkBQAAQBAJ link]. [1. ed., 1995].</ref> A mão de obra escrava de africanos na produção de açúcar já estava sendo utilizada nas ilhas atlânticas da [[Região Autónoma da Madeira|Madeira]] e dos [[Açores]] à época do descobrimento do Brasil, seguindo uma nova forma de organização de produção: a [[fazenda]].<ref name="darcy"/> No início do {{séc|XVI}}, cerca de 10% da população de [[Lisboa]] era composta por escravos africanos, número surpreendentemente alto para um contexto europeu.<ref name="green">{{citar livro | título = Inquisição- O Reinado do Medo|autor=Toby Green|páginas = 463–463|ano=2011|editora= [[Editora Objetiva|Objetiva]]}}</ref> Os portugueses, mais do que qualquer outro povo europeu, estavam culturalmente condiciados a lidar com povos de pele mais escura e preparados para contingenciar indígenas ao trabalho forçado e a aliciar multidões de africanos com o intuito de viabilizar seus interesses econômicos. O Brasil se configurou como uma formação colonial-escravista de caráter agromercantil. Primeiramente, o português usou do trabalho forçado do indígena. Porém, com a deterioração dessa população aborígene, o tráfico de pessoas oriundas da África se intensificou gradativamente, passando a compor a massa de trabalhadores no Brasil.<ref name="darcy"/>
 
 
A escravidão fincou raízes profundas na sociedade brasileira. Os africanos e seus descendentes resistiram durante todos os séculos contra a escravatura, por meio de rebeliões ou fugas, formando [[quilombo]]s. Porém, possuir escravos era uma prática tão disseminada e aceita pela sociedade que muitos ex-escravos, após conseguirem a liberdade, também tratavam de adquirir um cativo para si. Ter escravos significava status e afastava as pessoas do mundo do trabalho pesado, que na mentalidade brasileira apenas os escravos podiam exercer. Portanto, no Brasil escravagista, ninguém se espantava ao ver um negro ou um mulato comprando um escravo, mas essa cena seria chocante nos [[Estados Unidos]] à época e difícil de ser imaginada pelos brasileiros atualmente.<ref name="chica"/> Toda a vida econômica do império ultramarino português na África e na América se organizava com base no trabalho escravo, e o sentimento abolicionista sempre foi muito débil no mundo luso-brasileiro.<ref>{{citar web|url=http://www.historia.uff.br/polis/files/texto_19.pdf|título=OS NEGOCIANTES DE ESCRAVOS E A PRESSÃO INGLESA PELA ABOLIÇÃO DO  TRÁFICO TRANSATLÂNTICO (1830-1850)|website=uff.br}}</ref> Em decorrência, o Brasil só extinguiu o tráfico de escravos em 1850, sob pressão da [[Inglaterra]] e após desrespeitar acordos nos quais se comprometia a abolir o tráfico. A escravatura só foi abolida em território brasileiro em 1888, sendo o Brasil o último país das Américas a abolir a escravidão.<ref name=abolicionismo>{{citar livro |título = Abolicionismo: Estados Unidos e Brasil, uma história comparada: {{séc|XIX}}|autor=Celia Maria Marinho de Azevedo|páginas =249–249|ano=2003|editora=[[Annablume]]}}</ref> A escravatura era um dos pilares do [[Império do Brasil]] e, com a abolição, o imperador {{lknb|Pedro|II|do Brasil}} perdeu o apoio dos fazendeiros escravistas insatisfeitos por não terem recebido [[indenização]], sendo uma das causas da queda da Monarquia no Brasil.<ref>{{Citar web |url=http://veja.abril.com.br/historia/republica/queda-imperio-velha-monarquia.shtml |titulo=Cópia arquivada |acessodata=18 de Setembro de 2011 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20111119031019/http://veja.abril.com.br/historia/republica/queda-imperio-velha-monarquia.shtml |arquivodata=19 de Novembro de 2011 |urlmorta=yes }}</ref>
 
 
== Fluxos imigratórios ==
 
=== Rotas do tráfico entre Brasil e África ===
 
[[Imagem:Augosto-stahl-1865.jpg|miniatura|Escravo do Brasil fotografado por [[Augusto Stahl]] (c.1865)]]
 
 
O projeto ''The Trans-Atlantic Slave Trade Database'' estimou que, durante o tráfico negreiro, desembarcaram no Brasil 5.099.816 africanos. Após minuciosas análises na África e nas Américas, os pesquisadores conseguiram traçar as origens dos africanos trazidos ao Brasil. Cerca de 68% dos escravos desembarcados no Brasil eram provenientes do Centro-Oeste africano. Atualmente, situam-se nessa região os Estados de Angola, República do Congo e República Democrática do Congo.<ref name="voyage"/>
 
 
{| class="wikitable" style="float: center;"
 
|-
 
! colspan="4" | Origem dos africanos trazidos ao Brasil<ref name="voyage">{{citar web |url=http://www.slavevoyages.org/tast/assessment/estimates.faces |título=Regiões de origem dos Africanos desembarcados no Brasil|data=2015 |acessodata=4 de junho de 2015 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20131027021745/http://www.slavevoyages.org/tast/assessment/estimates.faces |arquivodata=27 de Outubro de 2013 |urlmorta=yes }}</ref>
 
|-
 
! Região de origem!! Número de pessoas!! Porcentagem !!Países na atual região
 
|-
 
| Centro-Oeste da África
 
| 3.507.222 || 68,7% || [[Angola]], [[República do Congo]] e [[República Democrática do Congo]]
 
|-
 
| [[Golfo do Benim]]
 
| 908.044 || 17,8% || Parte leste da [[Nigéria]], [[Camarões]], [[Guiné Equatorial]] e [[Gabão]]
 
|-
 
| Sudeste da África e ilhas do Índico
 
| 288.390 || 5,6% ||[[Moçambique]] e [[Madagascar]]
 
|-
 
| [[Senegâmbia]]
 
| 177.625 || 3,4% ||[[Senegal]] e [[Gâmbia]]
 
|-
 
| [[Golfo do Biafra]]
 
| 133.431 || 2,5% ||[[Togo]], [[Benim]] e oeste da Nigéria
 
|-
 
| [[Costa do Ouro (região)|Costa do Ouro]]
 
| 62.170 || 1,2%|| [[Gana]] e oeste da [[Costa do Marfim]]
 
|-
 
| Serra Leoa
 
| 14.960 || 0,2%|| [[Serra Leoa]]
 
|-
 
| Costa de Barlavento
 
| 7.974|| 0,15% ||[[Libéria]] e Costa do Marfim
 
|-
 
| Totais
 
| 5.099.816
 
|}
 
 
Cada época da História do Brasil tem diferentes portos importantes de embarque de escravos, e cada porto recebia escravos provenientes de uma grande região que ia centenas de quilômetros dentro do interior da [[África]]. Portanto, a origem étnica dos escravos recebidos no Brasil é muito variada, além de se ter alterado ao longo dos séculos de tráfico negreiro.
 
 
Um fator essencial para a compreensão das regiões de origem dos africanos trazidos para o Brasil está nos ventos e correntes marítimas do Atlântico Norte e do Atlântico Sul. Existem dois sistemas de ventos e de correntes marítimas nos Atlânticos (que atuam como "[[roda-gigante|rodas-gigantes]]"): um ao norte do equador e gira no sentido horário; o outro, ao sul, gira no sentido anti-horário. Esses ventos e correntes foram determinantes para que os escravos levados para a [[América do Norte]] e o [[Caribe]] fossem originários sobretudo das áreas mais setentrionais da África subsaariana, ao passo que, para o Brasil, foram trazidos principalmente africanos das partes mais ao sul, predominantemente de [[Angola]], enquanto que o sudeste da África e o golfo do Benim desempenharam papéis secundários.<ref name="emory"/>
 
 
Apesar disto, os grupos étnicos acabaram se dividindo por locais, com preponderância dos [[Bantos]] no Rio de Janeiro e dos escravos oeste-africanos na [[Bahia]] e norte do Brasil.<ref name="jb">{{Citar web |url=http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cadernos/ideias/2001/07/20/joride20010720001.html |título=PINHEIRO, Flávio; COSTA, Cristiane. A escravidão e seus mitos. Entrevista com Manolo Florentino. Jornal do Brasil, 21 de Julho de 2001 (visitado 10 de setembro de 2008) |acessodata=2008-09-11 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20040503060006/http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cadernos/ideias/2001/07/20/joride20010720001.html |arquivodata=2004-05-03 |urlmorta=yes }}</ref> Uma das razões foi o momento histórico em que ocorreu cada ciclo econômico em uma região diferente do Brasil (açúcar no nordeste, ouro em Minas Gerais e café no Rio de Janeiro) e a oferta maior de escravos em uma região da África
 
[[Imagem:Alberto Henschel - Pernambuco 4.jpg|esquerda|miniatura|Retratos de negras e negros de [[Pernambuco]], por [[Alberto Henschel]] (c. 1870)]]
 
 
De modo simplificado, podemos dizer que os escravos africanos trazidos para o Brasil originavam-se nos seguintes locais de embarque:
 
* Oeste-Africano: portos do Senegal e Gâmbia (em menor escala, a ilha de [[Gorée]]),<ref name="curtin">{{Citar web |url=http://www.h-net.org/~africa/threads/goree.html |título=CURTIN, Philip. "Goree and the Atlantic Slave Trade".  History Net (Visitado em 10 de outubro de 2008) |acessodata=14 de outubro de 2008 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20160402084801/https://www.h-net.org/~africa/threads/goree.html |arquivodata=2 de abril de 2016 |urlmorta=sim }}</ref><ref name="guidebleus">''Les Guides Bleus: Afrique de l'Ouest''(1958 ed.), p. 123</ref> [[São Jorge da Mina|Mina]] (hoje Elmina) em [[Gana]], [[Uidá]] em [[Benim]] e [[Calabar (Nigéria)|Calabar]] na [[Nigéria]];
 
* Centro-oeste Africano: portos de [[Cabinda (cidade)|Cabinda]] (próximo a foz do [[rio Congo]]) e [[Luanda]], ambos na atual [[Angola]];
 
* Leste Africano: portos de [[Ibo]], [[Maputo|Lourenço Marques]] e [[Inhambane (cidade)|Inhambane]] em [[Moçambique]]; portos de [[Zanzibar]] e [[Ruínas de Kilwa Kisiwani e de Songo Mnara|Quiloa]] na atual [[Tanzânia]].<ref name="rota"/>
 
 
Quanto às fases de imigração, segundo a periodização de [[Luís Viana Filho|Viana Filho]], são definidos:<ref>VIANNA FILHO, Luiz. ''O negro na Bahia''. São Paulo: José Olympio, 1946. [http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/92306/O%20negro%20na%20Bahia.pdf link].</ref>
 
 
* o ciclo da Guiné (séculos XVI e XVII): portos do Senegal e Gâmbia (em menor escala, a ilha de [[Gorée]])<ref name="curtin"/><ref name="guidebleus"/> enviando escravos "sudaneses" (ou oeste-africanos, negros da [[Guiné]]) principalmente para [[Recife]] e [[Salvador (Bahia)|Salvador]];
 
* o ciclo de Angola ({{séc|XVII}}): Portos de [[São Jorge da Mina|Mina]], [[Uidá]], [[Calabar (Nigéria)|Calabar]]; [[Cabinda (cidade)|Cabinda]]  e [[Luanda]]; e [[Zanzibar]], enviando escravos bantos que eram desembarcados principalmente em [[Salvador (Bahia)|Salvador]] e [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], de onde a maior parte ia para Minas Gerais;<ref name="resende"/>
 
* o ciclo da Costa da Mina ({{séc|XVIII}}-1815): Portos de [[São Jorge da Mina|Mina]], [[Uidá]] e [[Calabar (Nigéria)|Calabar]]; [[Cabinda (cidade)|Cabinda]]  e [[Luanda]]; [[Zanzibar]] e [[Ruínas de Kilwa Kisiwani e de Songo Mnara|Quiloa]]; [[Ibo]], [[Maputo|Lourenço Marques]] e [[Inhambane (cidade)|Inhambane]] enviando escravos "sudaneses" e islamizados que eram desembarcados principalmente em [[Salvador (Bahia)|Salvador]] e [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]],<ref name="rota"/> de onde a maior parte seguia para as plantações de café no vale do [[Paraíba do Sul]] e cana-de-açúcar do norte fluminense;
 
* a fase da ilegalidade (1815-1831).
 
 
Na primeira metade do {{séc|XIX}}, em que ocorreu o apogeu do tráfico de escravos para o Brasil, os escravos do oeste-africano iam principalmente para [[Salvador (Bahia)|Salvador]], enquanto os centro-oeste e leste-africano iam principalmente para o [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]]. A razão é simplesmente a distância menor entre portos de embarque e desembarque, transportando uma carga que literalmente perecia com as más condições da viagem. Deste modo, os grandes grupos étnicos acabaram predominando em alguns locais como os bantos no Rio de Janeiro e os escravos oeste-africanos na Bahia e norte do Brasil.<ref name="jb"/> Minas Gerais foi um caso peculiar, pois recebeu grande quantidade de escravos oeste-africanos e bantos, sendo que os primeiros predominaram até meados do {{séc|XVIII}}, e os segundos durante o XIX.<ref>[http://www.ichs.ufop.br/memorial/trab/h7_2.pdf AS NOSSAS “ÁFRICAS”: UM ESTUDO COMPARATIVO SOBRE A COMPOSIÇÃO ÉTNICA DOS ESCRAVOS NAS MINAS GERAIS DOS SÉCULOS XVIII E XIX.]</ref>
 
 
{| class="wikitable" style="float: center;"
 
|-
 
! colspan="4" | Região de desembarque dos africanos trazidos ao Brasil<ref name="voyage2">{{citar web |url=http://www.slavevoyages.org/tast/assessment/estimates.faces |título=Regiões de desembarque de africanos no Brasil|data=2015 |acessodata=4 de junho de 2015 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20131027021745/http://www.slavevoyages.org/tast/assessment/estimates.faces |arquivodata=27 de Outubro de 2013 |urlmorta=yes }}</ref>
 
|-
 
! Regiões de desembarque!! Número de pessoas!! Porcentagem
 
|-
 
| [[Sudeste do Brasil]]
 
| 2.259.987|| 46,8%
 
|-
 
| [[Bahia]]
 
| 1.545.006 || 32%
 
|-
 
| [[Pernambuco]]
 
| 824.312 || 17%
 
|-
 
| [[Amazônia]]
 
| 141.774 || 2,9%
 
|-
 
| Não especificada
 
| 50.048 || 1%
 
|-
 
| Totais
 
| 4.821.127
 
|}
 
 
=== Retorno à África ===
 
Diversas comunidades de escravos libertos no Brasil retornaram à [[África]] entre os séculos XVIII e XIX.<ref>''Brasil - África: como se o mar fosse mentira'', de Rita Chaves, Carmen Secco e Tânia Macedo ([[Unesp]]).</ref> Entre eles destacam-se os [[Tabom]], retornados ao [[Gana]] em 1835-36,<ref>O primeiro livro sobre a história dos tabons ("Tabom. A comunidade de afro-brasileiros do Gana") foi escrito pelo brasileiro Marco Aurelio Schaumloeffel.</ref> e os [[Agudás]] ou [[Amarôs]], no [[Benim]] (ver: [[Francisco Félix de Sousa]]), no [[Togo]] e na [[Nigéria]]. Numerosos, esses "brasileiros" estabeleceram-se na região da antiga costa dos Escravos - que abrangia todo o golfo de Benim, indo da atual cidade de [[Lagos (Nigéria)|Lagos]], na Nigéria, até [[Acra]], no Gana. [[Milton Guran]] em seu livro "Agudás – os “brasileiros” do Benim" resume: "Os “brasileiros” do Benim, Togo e Nigéria, também conhecidos como agudás, nas línguas locais, são descendentes dos antigos escravos do [[Brasil]] que retornaram à África durante o {{séc|XIX}} e dos comerciantes baianos lá estabelecidos nos séculos XVIII e XIX. Possuem nomes de família como ''Souza, Silva, Almeida'', entre outros, festejam [[Senhor do Bonfim|Nosso Senhor do Bonfim]], dançam a ''burrinha'' (uma forma arcaica do [[bumba-meu-boi]]), fazem desfiles de [[Carnaval]] e se reúnem frequentemente em torno de uma [[feijoada]] ou de um ''kousidou''. Ainda hoje é comum os agudás mais velhos se cumprimentarem com um sonoro “Bom dia, como passou?” “Bem, ‘brigado’” é a resposta."<ref>* [http://www.ugf.br/editora/catalogo/resenhas/agudas/agudas1.html Os “brasileiros” do Benin Milton Guran] {{Wayback|url=http://www.ugf.br/editora/catalogo/resenhas/agudas/agudas1.html |date=20080514010408 }}</ref><ref>[http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2003/030206_agudas1cs.shtml Agudás, um pedaço do Brasil no Benin]. [[BBC]].</ref>
 
 
=== Imigração africana recente ===
 
Nas décadas recentes, africanos negros têm imigrado ao [[Brasil]],<ref>{{Citar web|url=http://www.ciranda.net/spip/article385.html|título=A visita ao Ilê Axé Opô Afonjá|arquivourl=https://web.archive.org/web/20070919162654/http://www.ciranda.net/spip/article385.html|arquivodata=19 de Setembro de 2007|urlmorta=yes}}</ref> especialmente de países que falam português como [[Angola]], [[Cabo Verde]] e [[São Tomé e Príncipe]], em busca de oportunidades de trabalho ou comerciais.
 
 
== Grupos étnicos ==
 
[[Imagem:Mulher negra banto.jpg|250px|miniatura|Mulher africana bantu com seu filho no [[Recife]], [[Capitania de Pernambuco]] — óleo sobre tela de [[Albert Eckhout]] ({{séc|XVII}}). A maioria dos africanos trazidos para o Brasil é de origem bantu]]
 
 
Os portugueses classificavam diversas etnias africanas de forma genérica, sem levar em conta as peculiaridades existentes entre esses diferentes grupos. De maneira geral, os escravos eram identificados de acordo com a região do porto onde embarcaram. Em consequência, um grupo classificado como único pelos portugueses poderia, de fato, abarcar diversas etnias dentro dele.
 
 
Em termos gerais, pode-se classificar as culturas africanas vindas ao Brasil em três grandes grupos:<ref name="darcy"/><ref>[[Nina Rodrigues|NINA RODRIGUES, Raimundo]]. ''[[Os Africanos no Brasil]]''. 6. ed. São Paulo: Ed. Nacional; [Brasília]: Ed. Universidade de Brasília, 1982. [1. ed., 1932.]</ref><ref>[[Arthur Ramos|RAMOS, Arthur]]. ''O negro brasileiro: ethnographia religiosa e psychanalyse''. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1940. [http://www.brasiliana.com.br/obras/o-negro-brasileiro-1-v-etnologia-religiosa link] {{Wayback|url=http://www.brasiliana.com.br/obras/o-negro-brasileiro-1-v-etnologia-religiosa |date=20180124071433 }}. [1. ed., 1934.]</ref>
 
* as culturas "sudanesas": os [[iorubás]] ("[[nagôs]]") da [[Nigéria]], os [[daomeano]]s ("[[jejês]]") de Daomé ([[Benim]]), os [[Fanti (povo)|fanti]] e [[Axântis|ashanti]] da Costa do Ouro ([[Gana]]), dentre outros;
 
* as culturas islamizadas: os [[fulas]], os [[mandingas]] e os [[hauçás]], do norte da Nigéria, chamados de negros [[malês]] na Bahia e negros [[alufá]]s no Rio de Janeiro;
 
* as culturas [[bantus]]: do [[Congo]], [[Angola]] e [[Moçambique]].
 
 
Os oeste-africanos, oriundos da denominada [[Costa da Mina]], sobretudo da atual [[Nigéria]] e do [[Benim]], eram genericamente denominados de escravos ''minas'' ou ''sudaneses'', embora dentro desse grupo genérico eram incluídas etnias diversas, como os [[nagôs]], [[jejes]], [[fantis]] e [[axântis]], gás e txis (minas), [[malês]] ([[islã|islamizados]]), [[hauçás]], [[canúris]], [[Nupe|tapa]]s, [[gurunsis]], [[fulas]] e [[mandingas]]. Muitos dos escravos trazidos da Costa da Mina eram seguidores da religião [[Islamismo|muçulmana]]. Alguns deles sabiam ler e escrever em [[Língua árabe|árabe]], fato inusitado no Brasil colonial, onde a maioria da população, inclusive a elite, era [[analfabeto|analfabeta]]. A influência islâmica desses escravos pode ainda ser vista em [[Salvador (Bahia)|Salvador]], sobretudo no vestuário das [[Baiana (vestuário)|baianas]], com seu característico turbante muçulmano, saias largas e compridas, xales e mantras listradas.<ref name=freyre>FREYRE, Gilberto. ''[[Casa-Grande & Senzala]]'', 51. ed. São Paulo: Global, 2006. [1.
 
ed., 1933.]</ref>
 
 
O outro grande grupo que veio para o Brasil foi o dos [[bantos]], a maioria oriunda de [[Angola]], mas esse grupo incluía também escravos de lugares longínquos, como [[Moçambique]].<ref>[http://www.ichs.ufop.br/memorial/trab/h7_2.pdf]</ref>
 
 
=== Bantus ===
 
Os [[Bantus]] são descendentes de um grupo etnolinguístico que se espalhou rápida e recentemente desde a atual região de [[Camarões]] em direção ao sul, atingindo tanto o litoral oeste quanto o leste da África. Como esta expansão foi recente, as diferentes nações Bantus têm muitos aspectos étnico-culturais, linguísticos e genéticos em comum, apesar da grande área pela qual se espalharam.<ref>[[Jared Diamond|DIAMOND, Jared]]. [[Armas, Germes e Aço - Os Destinos das Sociedades Humanas|Armas, Germes e Aço]]. São Paulo: Editora Record, 2002. ISBN 85-01-05600-6</ref>
 
 
Os Bantus trazidos para o Brasil vieram das regiões que atualmente são os países de [[Angola]], [[República do Congo]], [[República Democrática do Congo]], [[Moçambique]] e, em menor escala, [[Tanzânia]]. Pertenciam a grupos étnicos que os traficantes dividiam em [[Cassanga (etnia)|Cassanga]]s, [[Benguela (etnia)|Benguela]]s, [[Cabinda (etnia)|Cabinda]]s, [[Dembo (etnia)|Dembo]]s, [[Rebolo (etnia)|Rebolo]]s, [[Anjico (etnia)|Anjico]]s, [[Macuas]], [[Quiloa (etnia)|Quiloa]]s, etc.
 
 
Constituíram a maior parte dos escravos levados para o [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]], [[Minas Gerais]] e para a zona da [[Zona da Mata|mata]] do [[Região Nordeste do Brasil|Nordeste]].<ref name="jb"/><ref name="rota">{{Citar web |url=http://www.unesco.org/culture/dialogue/slave/images/Ppdf.PDF |título=UNESCO 2000. Slave Route Project. Projeto Rota dos Escravos. Mapa das Rotas de Escravos. (Visitado em 10 de setembro de 2008)}}</ref><ref name="resende">{{Citar web |url=http://www.ichs.ufop.br/memorial/trab/h7_2.doc |título=REZENDE, Rodrigo Castro. As Nossas Áfricas: Um Estudo Comparativo sobre a Composição Étnica dos Escravos nas Minas Gerais dos Séculos XVIII E XIX}}</ref>
 
 
=== Oeste-africanos ===
 
 
Os oeste-africanos provinham de uma vasta região litorânea que ia desde o [[Senegal]] até à [[Nigéria]], além do interior adjacente. A faixa de terra fronteiriça ao sul da região do [[Sahel]], que se estende no sentido oeste-leste atravessando toda a África, é denominada Sudão. Frequentemente, os escravos de origem oeste-africana são chamados de sudaneses, o que causa confusão com os habitantes do atual [[Sudão]], que comprovadamente não teve sua população escravizada nas [[Américas]]. Além disto, apenas parte dos escravos de origem oeste-africana vieram da vasta região chamada ''Sudão''. Os nativos do oeste-africano foram os primeiros escravos a serem levados para as Américas sendo chamados, nesta época, de negros da [[Guiné]].<ref name="rota"/>
 
[[Imagem:Barracao do Opo Afonja.jpeg|miniatura|esquerda|O vestuário da [[Baiana (vestuário)|baiana]] reflete a influência muçulmana dos escravos oeste-africanos.<ref name="freyre" />]]
 
 
No livro ''[[Diálogos das grandezas do Brasil]]'', de 1610, [[Ambrósio Fernandes Brandão]] fala da abundância de "escravos da Guiné" existente nas [[capitania hereditária|capitanias]] nordestinas.
 
 
::(...) porquanto neste Brasil se há criado um novo Guiné com a grande multidão d'escravos vindos de lá que nele se acham; em tanto que, em algumas das capitanias, há mais deles que dos [''índios''] naturais da terra, e lodos os homens que nele vivem tem metida quase toda sua fazenda em semelhante mercadoria.<ref name="Archeo" >{{citar web|URL=https://archive.org/stream/revistadoinstit08perngoog/revistadoinstit08perngoog_djvu.txt|título=Descrição geral da capitania da Paraíba|autor=Confraria do IAGP|data=1883|publicado=Revista do Instituto Archeológico e Geográphico Pernambucano (IAGP)|acessodata=15 de fevereiro de 2015}}</ref>
 
 
Os oeste-africanos eram principalmente nativos das regiões que atualmente são os países de [[Costa do Marfim]], [[Benim]], [[Togo]], [[Gana]] e [[Nigéria]]. A região do golfo de Benim foi um dos principais pontos de embarque de escravos, tanto que era conhecida como Costa dos Escravos. Os oeste-africanos constituíram a maior parte dos escravos levados para a [[Bahia]].<ref name="jb"/> Pertenciam a diversos grupos étnicos que o [[tráfico negreiro]] dividia, principalmente, em:
 
* [[Nagôs]]  - os que falavam ou entendiam a língua dos [[Iorubás]], o que incluía etnias como os  [[Ketu (Benim)|Kètu]], [[Egba]], [[Egbado]], [[Sabé]], etc;
 
* [[Jejes]] - que incluía etnias como [[Fons]], [[Ashanti (povo)|Ashanti]], [[Ewés]], [[Fanti (povo)|Fanti]], [[São Jorge da Mina|Mina]] e outros menores como [[Crus]], [[Agni (etnia)|Agni]], [[Nzema]], [[Timini]], etc.
 
 
Os [[Malês]] eram escravos de origem oeste-africana, na maior parte falantes da [[língua haúça]], que seguiam a religião [[Islamismo|muçulmana]]. Muitos deles falavam e escreviam em [[língua árabe]], ou usavam [[Alfabeto árabe|caracteres do Árabe]] para escrever em haúça.<ref name="freyre"/> Além dos [[Hauçás]], isto é, dos falantes de [[língua haúça]], outras etnias islamizadas trazidas como escravos para o Brasil foram os [[Mandingas]], [[Fulas]], [[Nupes|Tapas]], [[Bornu (povo)|Bornu]], [[Gurunsi]], etc.
 
 
Havia também oeste-africanos de outras etnias além das acima citadas como os [[Maís]], [[Savalu]] e vários outros grupos menores.
 
 
<gallery>
 
Imagem:Rugendas - Escravos de Cabinda, Quiloa, Rebola e Mina.jpg|<div style="text-align: center;">Escravos de [[Cabinda (província)|Cabinda]], [[Kilwa Kisiwani|Quiloa]], [[Guiné Equatorial|Rebola]] e [[São Jorge da Mina|Mina]]</div>
 
Imagem:Rugendas - Escravos Benguela, Angola, Congo, Monjolo.jpg|<div style="text-align: center;">Escravos de [[Benguela]], [[Angola]], [[Reino do Congo|Congo]] e [[Monjolo (etnia)|Monjolo]]</div>
 
Imagem:Rugendas - Escravos de Benguela e Congo.jpg|<div style="text-align: center;">Escravos de Benguela e Congo</div>
 
Imagem:Rugendas - Escravos de Moçambique.jpg|<div style="text-align: center;">Escravos de [[Moçambique]]</div>
 
</gallery>
 
 
== Demografia ==
 
[[Imagem:Pretos no Brasil 2009.png|miniatura|esquerda|300px|Estados de acordo com a percentagem dos negros em 2009]]
 
 
{| class="wikitable" style="float:right; margin:1em;"
 
|-
 
! colspan="5" style="text-align:center;"|Entrada de escravos africanos no Brasil<sup>([[IBGE]])</sup>
 
|-
 
|Período||1500-1700||1701-1760||1761-1829||1830-1855
 
|-
 
|Quantidade||align="right"|510.000||align="right"|958.000||align="right"|1.720.000||align="right"|718.000
 
|}
 
Muitos negros foram trazidos para o Brasil como escravos no período colonial e imperial e eram uma parcela grande da população, mas, o crescimento da população negra foi relativamente pequeno em comparação com a entrada de escravos da [[África subsaariana]]. Primeiramente, porque os homens eram a grande maioria dos escravos traficados para o Brasil, atingindo quantidades até oito vezes maiores do que a de mulheres.<ref name="jb"/> Segundo, porque a mortalidade era muito maior entre os escravos do que entre o resto da população brasileira. Em certos momentos da [[História do Brasil]], o crescimento da população escrava deveu-se somente ao crescimento do tráfico de escravos. Deve ser registrado que não há certeza quanto ao número que entrou porque no Brasil não foi realizado censo da população brasileira antes de 1872.<ref>{{citar web|url=http://www.ibge.gov.br/censo/censobrasil.shtm|título=Censo 2000|website=www.ibge.gov.br}}</ref> O que é certo, porém, é que o número de africanos trazidos foi grande, porém, a maior parte deles era do sexo masculino, com expectativa de vida no geral muito baixa. Nas palavras de [[Auguste de Saint-Hilaire]]: "Uma infinidade de negros morreu sem deixar descendência".<ref>Viagem à província de São Paulo, fls. 69, Livraria Itatiaia Editora Ltda, 1976)</ref>
 
Tanto é que a população inteira do Brasil, estimada em 4 milhões por volta de 1823, abrangendo todos os segmentos da população (brancos, pardos e mestiços em geral, africanos livres e escravos, e índios), corresponde ao número total de africanos que, de acordo com alguns, teria vindo ao Brasil durante todo o período colonial,<ref>[[Ronaldo Vainfas|VAINFAS, Ronaldo]], Dicionário do Brasil Imperial, Objetiva, 2002</ref> não se podendo dizer, então, que o número de africanos trazidos corresponda àquele que contribuiu, efetivamente, para o crescimento demográfico do país.
 
 
A população negra cresceu com força com a melhoria de tratamento dos escravos que ocorreu depois do fim do tráfico com a [[Lei Eusébio de Queirós]] de 1850.{{carece de fontes}} No primeiro levantamento sobre a cor da população feito no Brasil, em 1872, os resultados foram os seguintes: 4.188.737 pardos, 3.787.289 brancos e 1.954.452 pretos, sendo assim, os pretos eram o terceiro maior grupo, como ainda o são. No segundo levantamento feito, em 1890, houve um tímido aumento da população preta, os resultados foram os seguintes: 6.302.198 brancos, 5.934.291 pardos e 2.097.426 pretos, o que mostra que os pretos continuaram sendo o terceiro maior grupo da população brasileira naquela época mas que não tiveram o mesmo rápido crescimento populacional que os brancos e pardos tiveram entre 1872 e 1890.<ref>{{Citar web |url=http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/povoamento/negros/popnegra.html |titulo=IBGE teen<!-- Titulo gerado automaticamente --> |acessodata=29 de dezembro de 2010 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20101221233359/http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/povoamento/negros/popnegra.html |arquivodata=21 de Dezembro de 2010 |urlmorta=yes }}</ref>
 
[[Imagem:Evolução da população brasileira conforme a cor (1872-1991).jpg|miniatura|300px|Evolução em valores absolutos da população de cada cor]]
 
[[Imagem:Evolução da população brasileira conforme a cor - percentuais (1872-1991).jpg|miniatura|300px|Evolução em porcentagem relativa à população total]]
 
 
Os escravos homens, jovens, mais fortes e saudáveis eram os mais valorizados. Havia um grande desequilíbrio demográfico entre homens e mulheres na população de escravos. No período 1837-1840, os homens constituíam 73,7% e as mulheres apenas 26,3% da população escrava. Os navios negreiros embarcavam mais homens do que mulheres.{{carece de fontes}} Além disto, os donos de escravos não se preocupavam com a reprodução natural da escravaria, porque era mais barato comprar escravos recém trazidos pelo tráfico internacional do que gastar com a alimentação de crianças.<ref name="pompeu">[http://www.secrel.com.br/jpoesia/pompeu01.html TOLEDO, Renato Pompeu de. À Sombra da Escravidão] {{Wayback|url=http://www.secrel.com.br/jpoesia/pompeu01.html |date=20080607215614 }} (visitada em 22 de agosto de 2008)</ref>  O número de crianças era inferior, de 3% a 6% dos embarcados.{{carece de fontes}}
 
 
Os fatores que contribuíram para a brusca diminuição no número relativo de negros foram diversos. Primeiro, houve a grande [[Imigração no Brasil|imigração européia para o Brasil]] na segunda metade do {{séc|XIX}} e na primeira metade do XX. Segundo, a mortalidade era bem maior entre os pretos, que, em geral, não tinham acesso à boa alimentação, saneamento básico e serviços médicos.
 
 
Referindo-se à diminuição de negros na população brasileira, [[João Batista de Lacerda]], único latino-americano a apresentar um relatório no I Congresso Universal de Raças, em [[Londres]], no ano de 1911, escreveu que: "''no Brasil já se viram filhos de métis (mestiços, pardos) apresentarem, na terceira geração, todos os caracteres físicos da raça branca[...]. Alguns retêm uns poucos traços da sua ascendência negra por influência do atavismo(…) mas a influência da seleção sexual (…) tende a neutralizar a do atavismo, e remover dos descendentes dos métis todos os traços da raça negra(…) Em virtude desse processo de redução étnica, é lógico esperar que no curso de mais um século os métis tenham desaparecido do Brasil. Isso coincidirá com a extinção paralela da raça negra em nosso meio''".
 
 
A política de imigração brasileira no {{séc|XX}} não era somente um meio do governo de ocupar terras não ocupadas, conseguir mais mão de obra e desenvolver-se, mas também de "civilizar" e "embranquecer" o país com população europeia. O decreto número 528 de 1890, assinado pelo presidente [[Deodoro da Fonseca]] e pelo ministro da Agricultura [[Francisco Glicério]] determinava que a entrada de imigrantes da [[África]] e da [[Ásia]] seria permitida apenas com autorização do [[Congresso Nacional do Brasil|Congresso Nacional]]. O mesmo decreto não restringia, até incentivava, a imigração de europeus. Até ser revogado em 1907, este decreto praticamente proibiu a imigração de africanos e asiáticos para o Brasil.<ref name="lima">{{Citar web|url=http://catalogos.bn.br/redememoria/chineses.html|título=LIMA, Silvio Cezar de Souza. Os filhos do império celeste: a imigração chinesa e sua incorporação à nacionalidade brasileira. Rede de Memória Virtual Brasileira (visitada em 22 de agosto de 2008)|arquivourl=https://web.archive.org/web/20090331092135/http://catalogos.bn.br/redememoria/chineses.html|arquivodata=31 de Março de 2009|urlmorta=yes}}</ref> Apesar de necessitar muito de mão de obra pouco qualificada em vários momentos históricos, depois do [[Lei Eusébio de Queirós|fim do tráfico de escravos para o Brasil]] nunca se pensou em trazer imigrantes livres da [[África]].
 
 
=== A família escrava ===
 
Durante muitos anos, diversos historiadores e antropólogos sustentaram que, no Brasil, os escravos não formavam famílias. [[Florestan Fernandes]] afirmava que os escravos eram anômicos, não tinham solidariedade entre si e a família, não apenas a linhagem, como a nuclear, com o pai presente, nunca existiu.<ref name="familia">UFF. [http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg6-4.pdf ''Família escrava e trabalho''].</ref> Para esses autores, a união entre negros era passageira, gerando filhos ilegítimos, sendo que os laços de parentesco e a vida familiar eram destruídos pela venda, pelos obstáculos impostos pelos senhores quanto à formação de famílias entre os escravos e pelo comércio interno que desmantelava essas uniões. As poucas famílias que existiam eram centradas na mãe e, quase sempre, os filhos eram criados sem a presença do pai.<ref name="libertos"/>
 
 
[[Imagem:José Christiano Júnior - Mãe e Filha.jpg|miniatura|Mãe e filha negras no {{séc|XIX}}. Os laços familiares eram importantes na vida dos escravos]]
 
 
Estudos mais recentes, contudo, refutam essas ideias. Apesar de incipientes, as novas pesquisas mostram que eram altas as taxas de casamentos entre escravos, feitos na igreja, nas regiões de ''plantation'' do Sudeste do Brasil. Indicam também uma estabilidade impressionante nessas famílias, havendo convivência próxima entre pais e filhos. Nas propriedades grandes e antigas, em particular, essa estabilidade era evidente nas diversas famílias extensas encontradas, nas quais existiam membros de três gerações convivendo com seus irmãos adultos e respectivos filhos. Este foi, pelo menos, o quadro encontrado no [[Oeste Paulista]] e no [[Vale do Paraíba]] oitocentista.<ref name="familia"/>
 
 
Havia, contudo, diferenças regionais. Na [[Bahia]] tanto para o {{séc|XVIII}} quanto para o XIX, as taxas de ilegitimidade eram altíssimas, denotando a falta de casamentos formais entre escravos, sendo que algumas paróquias sequer registraram um único filho legítimo. Em contrapartida, na freguesia de [[Campos dos Goitacases]], no Rio de Janeiro setecentista, a taxa de legitimidade entre as crianças nascidas de escravos era elevadíssima, sendo metade do total, chegando a 86% em algumas freguesias. Ainda não se sabe explicar a razão dessas diferenças regionais, embora possam denotar que os níveis de assimilação cultural variavam entre as etnias africanas. Enquanto no Sudeste do Brasil a maioria dos escravos era [[Bantos|banto]], considerado mais facilmente assimilável na tradição católica (embora isso possa ser questionado), no Nordeste e, em particular, na Bahia, a maioria dos escravos era [[nagô]], sendo que Salvador foi palco de diversas revoltas escravas que não foram observadas no resto do Brasil. Isso indicaria que o nagô estava menos disposto a aceitar as regras familiares impostas pelo catolicismo.<ref name="familia"/>
 
 
De qualquer maneira, não se pode dizer que os escravos eram anômicos. Mesmo nas regiões onde não imperava a formação de famílias segundo as normas católicas, havia outras maneiras pelas quais os escravos podiam criar seus laços familiares, como na substituição dos pais biológicos por outros parentes e também na inclusão de não parentes para preencher os vazios na família extensa.<ref name="familia"/> De maneira geral, os casamentos formais eram pouco frequentes no Brasil colonial, mesmo entre os livres, quer brancos, quer de ascendência africana. Em 1805, na comarca de [[Sabará]], em Minas Gerais, apenas 29,7% dos brancos, 24,5% dos mulatos e 21,4% dos negros haviam se casado na igreja.<ref name="libertos"/>
 
 
Para Florestan Fernandes, os senhores destruíam as famílias escravas para viabilizar a manutenção do escravismo, vez que criariam escravos anômicos, sem união e sem poder de organização. Florentino e Góes têm uma visão oposta, sustentando que os senhores incentivavam a formação de famílias entre os escravos pois a criação desses laços afetivos coibiam as revoltas internas, garantindo a paz nas senzalas.<ref name="familia"/>
 
 
[[Hebe Maria da Costa Mattos Gomes de Castro|Hebe Maria Mattos]] sustenta que, no Brasil, a formação dessas famílias não construiu uma identidade negra e escrava, em oposição a uma identidade branca e livre, como ocorreu nos Estados Unidos. A família, embora núcleo fundamental na vida dos cativos, não criou uma identidade racial, mas uma que aproximava os escravos dos homens livres pobres.<ref name="familia"/>
 
 
== Miscigenação ==
 
O processo de miscigenação entre africanos, europeus e indígenas foi fundamental na constituição da população brasileira. O fenômeno, contudo, não levou a uma [[democracia racial]], como quiserem alguns autores, vez que raça, cor da pele, origem e classe social sempre exerceram influência direta nas oportunidades de mobilidade social dos habitantes do Brasil. Alguns autores, como [[Gilberto Freyre]] e [[Sérgio Buarque de Holanda]] defendiam a tese de que, entre os portugueses, havia ausência ou pouquíssimo preconceito de raça, fato que explicaria a sua propensão à miscigenação racial.<ref name="colonizacao1"/> Estudiosos posteriores, como [[C. R. Boxer]], discordavam dessa teoria pois, segundo ele, os portugueses eram um dos povos mais racistas de sua época, sendo que desenvolveram, entre os séculos XVI e XVIII, um complexo mecanismo de "limpeza de sangue" que produzia inabilitações e criava estigmas de toda a sorte contra descendentes de judeus, mouros, índios, negros e outros.<ref name="green"/><ref name="colonizacao1">http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg8-1.pdf</ref>
 
 
Se os portugueses eram nada, pouco ou muito racistas, esse juízo dependerá das diferentes interpretações históricas, contudo a teoria de que eles estavam mais propensos a se miscigenar com outras raças é derrubada a medida que se analisa a situação nas outras colônias portuguesas. Ao contrário do Brasil, na [[África]] e na [[Índia]] nenhuma miscigenação expressiva ocorreu entre os portugueses e os nativos.<ref name="colonizacao1"/> Em consequência, o que se extrai dessas análises é que o processo de miscigenação no Brasil foi oriundo de um projeto português de ocupação e exploração do território brasileiro, que já estava definido até certo ponto. Portugal tinha uma população muito pequena, portanto não conseguiria apenas com colonos portugueses firmar a exploração agrária no território colonial brasileiro.<ref name="colonizacao1"/> A Coroa portuguesa precisava de uma camada intermediária de mestiços e de ex-escravos negros e mulatos para viabilizar seus projetos econômicos.<ref name="skidmore"/> Em consequência, apesar das exigências de "limpeza de sangue" terem se tornado uma obsessão em Portugal,<ref name="green"/> na colônia, haja vista a falta crônica de pessoas brancas, sobretudo de mulheres, a Coroa frequentemente tinha que fazer "vista grossa" quanto à origem mestiça, sobretudo dos indivíduos que galgavam poder na sociedade colonial. Isso, contudo, não eliminava a inferiorização e as maiores dificuldades de ascensão social que enfrentavam essas pessoas.<ref name="libertos"/>
 
 
=== Miscigenação entre negros e brancos ===
 
==== Exploração sexual ====
 
[[Imagem:Alberto Henschel - Negra com turbante.jpg|miniatura|140px|Negra com turbante fotografada por [[Albert Henschel]] (c.1870)]]
 
[[Imagem:Negra da Bahia, 1885. Foto de Marc Ferrez.jpg|miniatura|140px|Mulher negra da Bahia fotografado por [[Marc Ferrez]] (c.1885)]]
 
[[Imagem:Alberto Henschel Pernambuco 2.jpg|miniatura|140px|Moça [[Mulato|mulata]] fotografada por [[Albert Henschel]] (c.1869)]]
 
::"Doze anos é a idade flor das africanas. Nelas há de quando em quando um encanto tão grande, que a gente esquece a cor...As negrinhas são geralmente fornidas e sólidas, com feições denotando agradável amabilidade e todos os movimentos cheios de uma graça natural, pés e mãos plasticamente belos. Dos olhos irradia um fogo tão peculiar e o seio arfa em tão ansioso desejo, que é difícil resistir a tais seduções".<ref>[[Carl Schlichthorst]]. O Rio de Janeiro como é (1825-26). Apud: Maria Lúcia Mott. A Criança Escrava na Literatura dos Viajantes. 1979, p. 64.</ref>
 
 
Durante vários séculos, no mundo Ocidental, as mulheres, independentemente da raça ou origem, viveram subordinadas aos homens e foram frequentemente vítimas de violência física e sexual. Nas sociedades escravocratas, a situação era particularmente pior vez que, em qualquer lugar onde há escravidão, os escravos são frequentemente vítimas de exploração sexual por parte dos seus senhores, seja em relações [[Heterossexual|heterossexuais]] ou [[Homossexual|homossexuais]].<ref name="social"/><ref name="green"/> Para as mulheres, o cenário era ainda mais degradante e, no caso do Brasil, além da exploração sexual típica da hierarquização senhor-escrava, somava-se a [[misoginia]] racista que se formou na sociedade colonial. Os homens dirigiam palavras chulas e investidas sexuais sobre as negras escravas ou forras e mulatas, enquanto para as brancas eram destinados os galanteios e palavras amorosas. A mulher de origem africana, assim como a indígena no primeiro século de colonização, foi frequentemente degradada à situação de objeto sexual dos homens brancos.<ref name="intimas"/>
 
 
A beleza das mulheres africanas era frequentemente elogiada pelos viajantes europeus que chegavam ao Brasil, particularmente das escravas oriundas da [[Costa da Mina]], que tinham a pele mais clara e, embora continuassem exóticas, aproximavam-se do padrão de beleza apreciado na [[Europa]].<ref name="chica">{{citar livro |título = Chica da Silva e o Contratador de Diamantes - O Outro Lado do Mito|autor=Júnia Ferreira Furtado|páginas =403|ano=2009|editora=[[Companhia das Letras]]}}</ref> Contudo, o fato de os colonizadores portugueses terem se sentido sexualmente atraídos pelas mulheres indígenas, negras e mulatas não pode ser equivocadamente interpretado como ausência do preconceito racial, vez que muitas dessas relações eram desiguais e hierarquizadas e feitas à base de violência e sadismo.<ref name=sortilégio>{{citar livro|título=O Sortilégio da Cor - Identidade, Raça e Gênero no Brasil|autor =Elisa Larkin Nascimento|páginas=-–-|ano=2003|publicado=Summus Editorial}}</ref>
 
 
A mulher de origem africana, particularmente a mulata, assim como todas as pobres de maneira geral, vistas como um objeto sexual a ser desfrutado pelos homens abastados, é uma concepção que ecoa na sociedade até os dias atuais. Como escreveu [[Darcy Ribeiro]], "O que caracteriza o português de ontem e o brasileiro de classe dominante de hoje é a duplicidade de seus padrões de relação sexual: um, para relações dentro de seu círculo social, e outro, oposto, para com a gente de camadas mais pobres".<ref name="darcy"/>
 
 
Não se pode, contudo, acreditar que a geração da ampla camada de mestiços e mulatos no Brasil tenha sido resultado somente da exploração sexual dos senhores sobre as suas escravas. Sem negar sua existência, também existiam relacionamentos consensuais, normalmente concubinatos, alguns bastante duradouros, entre homens brancos e mulheres de cor.<ref name="chica"/> Segundo o historiador Manolo Florentino, "A miscigenação brasileira tem muito mais a ver com o português pobre que interage matrimonialmente e sexualmente com as mulheres negras do que propriamente com homens de elite mantendo relações sexuais com mulheres pobres negras escravizadas".<ref name="BBC2">{{citar web|url=http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/05/070326_dna_estudo_pena_cg.shtml|título=BBCBrasil.com - Reporter BBC - Metade de negros em pesquisa tem ancestral europeu|website=www.bbc.co.uk}}</ref>
 
 
==== Relacionamentos e concubinatos no passado ====
 
Na sociedade hierarquizada e excludente do Brasil colonial, as desigualdades social, racial e de origem entre os noivos obstaculizavam os casamentos legais. Quase sempre o Estado português impedia a união entre pessoas de condições desiguais, chegando a instaurar processos para examinar a origem dos nubentes. Em consequência, negros e mulatos só podiam casar com pessoas de igual condição. Contudo, a falta de mulheres brancas na colônia empurrava muitos homens brancos para relacionamentos com mulheres de cor. Dificilmente esses relacionamentos eram oficializados na igreja, haja vista a rigidez da legislação portuguesa, resultando em [[concubinato]]s, alguns passageiros, outros duradouros.<ref name="chica"/>
 
 
O concubinato com homens brancos, por um lado, era vantajoso para as mulheres negras e mulatas vez que, ao alcançarem a liberdade, conseguiam diminuir o estigma da escravidão e da cor, para elas próprias e, sobretudo, para seus descendentes. Por outro lado, a situação de concubinas lhes negava os privilégios legais inerentes à condição de esposa. O casamento oficial permitia à mulher tomar posse do pecúlio do marido, mas a concubinagem não, a não ser que a companheira fosse agraciada no testamento, o que frequentemente acontecia. Algo que parecia positivo no concubinato, todavia, era o fato de que evitava a perpetuação, nos documentos oficiais, dos estigmas de cor e da antiga condição de escrava da mãe. Em uma sociedade na qual a linhagem era supervalorizada e na qual a "marca" da escravidão era passada de geração em geração, a ocultação de uma origem escrava e negra na família era considerada vantajosa. Era o processo de "branqueamento", tanto biológico como social, que muitas ex-escravas legavam a seus descendentes.<ref name="chica"/>
 
 
A [[Igreja Católica]] tentava como podia reprimir o concubinato, considerado crime. De tempos em tempos, as vilas e arraiais eram visitados por bispos, as chamadas Visitas Eclesiásticas, com o intuito de apurar os crimes morais e de fé praticados pelos habitantes da colônia. Os moradores eram compelidos a confessar seus próprios crimes e a delatar outras pessoas. Nesses momentos, alguns confessavam o que já era público e notório, enquanto outros aproveitavam da situação para se vingar de vizinhos ou inimigos. Contudo, a Igreja, apesar dos intentos, por muito tempo não conseguiu controlar a proliferação dos concubinatos no Brasil.<ref name="chica"/>
 
 
A miscigenação de africanos no Brasil ocorreu sobretudo através de [[concubinato]]s envolvendo mulheres negras ou mulatas e homens brancos de origem portuguesa. Em um levantamento de pessoas acusadas de concubinato na Comarca do Rio das Velhas, em Minas Gerais, entre 1727 e 1756, os números mostram que entre os concubinos, 92% eram homens brancos. Porém, das concubinas, 52,1% eram africanas, 35,1% crioulas (negras brasileiras) ou mestiças, e apenas 11,8% eram brancas. Havia, portanto, um nítido predomínio de concubinato envolvendo um homem branco (92%) e uma mulher negra ou mulata (87,2%).<ref name="Seminário">{{citar web
 
|url=http://www.cedeplar.ufmg.br/seminarios/seminario_diamantina/2008/D08A021.pdf
 
|titulo=D08A021.pdf (objeto application/pdf)
 
|publicado=www.cedeplar.ufmg.br
 
|acessodata=22 de junho de 2011
 
}}</ref> Por muito tempo, a historiografia associava a prática disseminada da concubinagem no Brasil colonial à ausência de moral, à condição de extrema pobreza desses indivíduos, aos parcos recursos para realizar um casamento, à pouca disponibilidade de mulheres brancas etc. Estas explicações não levavam em conta a influência das culturas africana e indígena nesse contexto. As mulheres africanas e suas descendentes crioulas, pardas e mulatas tinham percepções culturais diferentes das europeias. Para muitas dessas mulheres, permanecer solteira não representava uma degradação, mas uma virtude.<ref name="Seminário" /> O [[casamento]] [[católico]] na [[igreja]], tão valorizado na cultura portuguesa, ainda não era uma prioridade para as mulheres de origem africana no Brasil colonial. Apenas mais tarde é que houve uma valorização do casamento no Brasil, e as mulheres solteiras passaram a ser estigmatizadas. Isso se deu através da importação da cultura portuguesa, disseminando aspectos culturais como a devoção à [[Santo António de Lisboa|Santo Antônio]] (santo casamenteiro).<ref name=intimas>{{citar livro | título = Histórias íntimas-sexualidade e erotismo na História do Brasil|autor=Mary del Priore|páginas =254–254|ano = 2011|editora = Planeta}}</ref> A Igreja Católica se esforçou para instituir o casamento [[monogamia|monogâmico]] na [[Europa]] no {{séc|XIII}}. Foi um processo árduo de normatização de comportamento feito à base de grande repressão. No Brasil, este processo só se concretizou a partir da segunda metade do {{séc|XIX}}, após a [[transferência da corte portuguesa para o Brasil]]. Antes disso, proliferavam no Brasil formas heterodoxas de organização familiar, imperando o concubinato e as relações temporárias. O papel da mulher no Brasil também era mais dinâmico do que se esperava para os padrões católicos de mulher recatada e devota, que se tentava imprimir.<ref name="chica"/> Só no {{séc|XIX}}, através de enorme repressão sexual, é que a concepção de que o sexo servia apenas para [[reprodução]] se instalou no Brasil e o casamento passou a ser a norma a ser seguida. Tal concepção só viria a se dissolver a partir da [[revolução sexual]] que se disseminou pelo [[mundo ocidental]] na década de 1960.<ref name=íntimas>{{citar livro | título = Histórias íntimas-sexualidade e erotismo na História do Brasil|autor=Mary del Priore|páginas = 254–254|ano = 2011|editora = Planeta}}</ref>
 
[[Imagem:MarcFerrez MachadodeAssis.jpg|miniatura|230px|esquerda|Considerado o maior nome da [[literatura brasileira]],<ref>Candido, 1970, p.18.</ref><ref>Fernandez, 1971, pp.255-256.</ref><ref>Damata, Fernandes, Luz, 2007, p.236.</ref><ref>Achcar, 2005, p.9.</ref><ref name=gironepoca1>Giron, 2008, p.136.</ref> [[Machado de Assis]] era filho de pai [[mulato]] e mãe [[Imigração portuguesa no Brasil|portuguesa]]]]
 
Na concepção de muitas mulheres de origem africana no Brasil colonial, o concubinato não restringia a liberdade das mulheres como o casamento, e ainda era uma forma de ascensão social, pois muitas escravas conseguiam a liberdade ao se unirem a homens brancos. Estes, após a morte, costumavam deixar bens para os filhos tidos com a concubina. Mulheres de origem africana figuravam em relações [[Endogamia|endogâmicas]], [[Poligamia|poligâmicas]] ou mesmo relações [[Monogamia|monogâmicas]], onde elas eram o centro dessa estrutura. Muitas ex-escravas, após conseguirem a liberdade, caíam na pobreza, por não dominarem algum ofício, somado ao preconceito por serem mulheres, de cor e ex-escravas. Algumas forras viviam em situação mais degradante do que alguns escravos, como os domésticos. Outras, por sua vez, se inseriam no mercado de trabalho e conseguiam uma ascensão social, acumulando riquezas. Estas moravam sozinhas, adquiriam escravos e desenvolviam atividades econômicas. Há vários relatos de mulheres negras e pardas forras, durante o período colonial, que desfrutavam de um padrão de vida equiparado ao da elite, principalmente em Minas Gerais, onde a ascensão social era mais maleável. Gozavam da liberdade de decidir o futuro de suas vidas, contrastando com a situação de submissão de muitas mulheres brancas, que primeiro viviam sob o jugo dos seus pais, para depois terem que se submeter ao marido, passando a viver praticamente enclausuradas dentro de casa. A figura mais emblemática da ascensão social das mulheres de ascendência africana no Brasil colonial é [[Chica da Silva]], mas muitas outras mulheres [[Alforria|forras]] desconhecidas alcançaram ascensão social semelhante.<ref name=chica/>
 
 
Já no final do {{séc|XIX}}, a mistura entre negros brasileiros e [[Imigração italiana no Brasil|imigrantes italianos]] não era incomum,  conforme anotou um membro do Comissário Geral de Emigração (CGE), em tom preconceituoso: "A degradação não para nem diante da distinção de raça: não são incomuns os casamentos de italianos com negras e, o que é pior, de mulheres italianas com negros". Contudo, os casamentos eram exceções, sendo que a maioria dessas relações eram concubinatos, o que deixava em aberto um possível retorno do imigrante para a Itália e também refletia um preconceito de cor desses italianos, ao não assumirem formalmente seus relacionamentos com brasileiros de pele mais escura.<ref>Angelo Trento, ''Do outro lado do Atlântico: um século de imigração italiana no Brasil''. Studio Nobel, 1989. ISBN 852130563X, 9788521305637.</ref>
 
 
==== A miscigenação atualmente ====
 
Os dados do [[IBGE]] desconstroem o mito da harmonia racial brasileira. Segundo o censo de 2010, 70% dos brasileiros casam com pessoas da sua mesma raça ou cor. Se os casamentos não fossem influenciados pela raça, esse índice deveria ser de 50%. Conforme a pesquisa, a cor é um dos fatores que os brasileiros levam em conta na hora de escolher seu parceiro, além da renda e do nível educacional. O fato de negros e pardos serem o grupo com menor rendimento e nível de instrução contribui para a racialização dos matrimônios. De acordo com os dados, 75,3% dos homens brancos casam com mulheres brancas, 69% dos pardos casam entre si, assim como 65,4% dos indígenas, 44,2% dos amarelos e 39,9% dos negros.<ref name="exame">EXAME. [http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/brasileiros-preferem-casar-dentro-da-propria-etnia ''Brasileiros preferem casar com pessoas da mesma cor''].</ref><ref name="IG">IG. [http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2012-10-17/ibge-70-dos-casamentos-no-pais-ocorrem-entre-pessoas-da-mesma-cor.html ''IBGE: 70% dos casamentos no País ocorrem entre pessoas da mesma cor''].</ref>
 
 
== Influência cultural ==
 
{{Artigo principal|Cultura afro-brasileira}}
 
[[Imagem:Encontro estadual de maracatus.jpg|miniatura|Em [[Pernambuco]] surgiram o primeiro folguedo e o primeiro ritmo afro-brasileiros: a [[Congada]] e o [[Maracatu (ritmo)|Maracatu]]. Na foto, cortejo de [[Maracatu Nação]] no [[Recife]].<ref name="Congada">{{Citar web|url=https://educacao.uol.com.br/disciplinas/cultura-brasileira/congada-festa-folclorica-une-tradicoes-africanas-e-ibericas.htm|título=Congada: Festa folclórica une tradições africanas e ibéricas|publicado=UOL|acessodata=3-3-2017}}</ref><ref name="Maracatu">{{citar web|url=https://novaescola.org.br/conteudo/3106/o-maracatu|título=O maracatu|publicado=Nova Escola|acessodata=3-3-2017}}</ref>]]
 
[[Imagem:Capoeira-in-the-street-2.jpg|miniatura|A [[capoeira]] é uma arte brasileira criada pelos negros. Considera-se que a expressão cultural tenha surgido no [[Quilombo dos Palmares]], na então Capitania de Pernambuco.<ref>{{citar web|url=http://www.cultura.gov.br/o-dia-a-dia-da-cultura/-/asset_publisher/waaE236Oves2/content/estado-e-exaltado-em-festa-nacional-161433/10883|título=Estado é exaltado em festa nacional|publicado=Ministério da Cultura|acessodata=12-4-2019|arquivourl=https://web.archive.org/web/20181117151214/http://www.cultura.gov.br/o-dia-a-dia-da-cultura/-/asset_publisher/waaE236Oves2/content/estado-e-exaltado-em-festa-nacional-161433/10883|arquivodata=2018-11-17|urlmorta=yes}}</ref>]]
 
[[Imagem:Museu Afro Brasil (09).jpg|miniatura|[[Museu Afro Brasil]], em São Paulo]]
 
[[Imagem:Salvador, museo afro-brasileiro, sala degli orixas 02.JPG|miniatura|thumb|[[Museu Afro-Brasileiro]], em [[Salvador]]]]
 
Os africanos no Brasil conseguiram preservar uma parca herança africana. Todavia, apesar de ter sido pequena, essa herança africana, somada à indígena, deixou para o Brasil, no plano ideológico, uma singular fisionomia cultural. Os negros trazidos como escravos eram capturados ao acaso, em centenas de tribos diferentes e falavam línguas e dialetos não inteligíveis entre si. O fato de todos serem negros não ensejava uma unidade linguístico-cultural quando submetidos à escravidão. A própria religião, que atualmente serve como união entre os afro-brasileiros, na época da escravidão, devido à diversidade de credos, os desunia. Em consequência, a diversidade linguística e cultural trazida pelos escravos, aliada à hostilidade entre as diferentes tribos e à política de evitar que escravos da mesma etnia ficassem concentrados nas mesmas propriedades, impediram a formação de núcleos solidários que retivessem o patrimônio cultural africano.<ref name="darcy"/>
 
 
A cultura brasileira foi influenciada pela africana, sobretudo nas áreas onde houve maior concentração do elemento negro (no Nordeste açucareiro e nas regiões mineradoras do centro do país). Porém, uma vez inseridos na nova sociedade, nela os escravos foram se aculturando. De fato, enquanto nenhum idioma africano sobreviveu no Brasil, os negros, ironicamente, tiveram papel crucial no "aportuguesamento" do Brasil e na expansão da língua portuguesa. Eles foram o agente de europeização que difundiu a língua do colonizador, ensinando aos escravos recém-chegados o novo idioma e os aculturando no novo ambiente. Assim, o escravo transitava entre o negro boçal, recém-chegado da África, sem saber falar o português ou o falando de forma bastante limitada, sem que isso o impedisse de desempenhar as tarefas mais pesadas. Por outro lado, havia o negro ladino, já adaptado e mais integrado na nova cultura.<ref name="darcy"/>
 
 
Apesar de não terem conseguido preservar grande parte da sua herança, os africanos conseguiram exercer influência no meio cultural em que se concentraram, influenciando o português falado no Brasil e impregnando todo o contexto cultural com o pouco que pode preservar. Nessa esteira, por exemplo, o [[catolicismo no Brasil]] assumiu características populares mais discrepantes que qualquer das heresias tão perseguidas em Portugal. A influência africana sobreviveu, em grande parte, pelo menos no plano ideológico, nas crenças religiosas e nas práticas mágicas, nas reminiscências rítimicas e musicais e nos gostos culinários dos brasileiros.<ref name="darcy"/>
 
 
Uma das consequências do comércio de escravos foi estabelecer contato entre o que estava afastado, provocando a convivência de pessoas de diferentes origens e determinando a miscigenação, não somente biológica, mas também cultural.
 
Ao chegarem ao Brasil, os africanos deviam adotar, em princípio, um modo de vida calcado no de seus senhores. Entretanto, é preciso assinalar que, em contato com seus senhores os escravos se europeizavam, por uma curiosa reviravolta, estes mesmos senhores se africanizavam em contato com seus escravos.<ref>[http://www.usp.br/celacc/ojs/index.php/blacc/article/view/188/216]</ref>
 
 
A Bahia se africanizava e em toda parte se encontrava o negro, com sua cultura, seus costumes, seu inconsciente. Mesmo sem o querer, ele os transmitia à nova sociedade na qual estava integrado à força, e sem perceber, era assimilado o que o negro ensinava. A sociedade organizada segundo as normas portuguesas não levava em conta que uma tal influência fosse possível. Entretanto, ela se fazia sentir, lenta e discretamente, de maneira tanto mais eficaz porquanto não tinha caráter combinado e deliberado, o que, na época, teria provocado uma viva oposição.<ref>{{Citar web |url=http://www.fecra.edu.br/admin/arquivos/Antonio_Candido_-_Literatura_e_Sociedade.pdf |titulo=Cópia arquivada |acessodata=20 de Junho de 2012 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20111026234343/http://www.fecra.edu.br/admin/arquivos/Antonio_Candido_-_Literatura_e_Sociedade.pdf |arquivodata=26 de Outubro de 2011 |urlmorta=yes }}</ref>
 
 
=== Influência no português falado no Brasil ===
 
Atualmente, nenhum idioma africano é falado correntemente no Brasil. Hoje, a maioria dos pesquisadores acreditam que [[Línguas crioulas|dialetos crioulos]] devem ter existido no país no passado, mas todos tiveram existência efêmera. Contudo, nos 400 anos que a língua portuguesa teve contato com os idiomas africanos no Brasil, diversas influências dessas línguas foram absorvidas na fala brasileira.<ref name="Influência">{{citar web|url=http://www.funag.gov.br/biblioteca/dmdocuments/Influencia_Africana_no_portugues_do_Brasil.pdf|título=FUNAG|website=www.funag.gov.br}}</ref><ref name="Influência2">{{Citar web |url=http://www.educacao.salvador.ba.gov.br/documentos/linguas-africanas.pdf |titulo=Cópia arquivada |acessodata=14 de Janeiro de 2014 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20150923233831/http://www.educacao.salvador.ba.gov.br/documentos/linguas-africanas.pdf |arquivodata=23 de Setembro de 2015 |urlmorta=yes }}</ref><ref name="Influência3">{{citar web|url=http://www.funag.gov.br/http://su.diva-portal.org/smash/get/diva2:623888/FULLTEXT01.pdf/dmdocuments/Influencia_Africana_no_portugues_do_Brasil.pdf|título=FUNAG|website=www.funag.gov.br}}</ref>
 
 
Os escravos [[Costa da Mina|oeste-africanos]] foram numerosos no Brasil, contudo exerceram uma menor influência no português. Dentre as línguas oeste-africanas, também chamadas de “sudanesas”, as mais importantes foram as da família [[Línguas kwa|kwa]], faladas no [[Golfo do Benim]]. Seus principais representantes no Brasil foram os [[iorubás]] e os povos de línguas do grupo [[Língua ewe|ewe]]-[[Língua fon|fon]], conhecidos antigamente como minas ou [[jejes]]. A influência das suas línguas hoje se limitam sobretudo aos léxicos relacionados às [[religiões afro-brasileiras]] ([[Iemanjá]], [[Xangô]], [[Oxum]], [[Oxóssi]] etc.)<ref name="Influência2"/>
 
 
O [[português do Brasil]] foi influenciado mais profundamente pelas [[línguas bantas]], dada a antiguidade da presença desses africanos na colônia, sendo que veio da região banta da África o maior número de escravos recebidos pelo Brasil e eles se espalharam por diversas regiões do território brasileiro. Os idiomas deste ramo que mais tiveram força no Brasil foram o quicongo, o quimbundo e o umbundo. O [[Língua kongo|quicongo]] é falado na [[República Popular do Congo]], na [[República Democrática do Congo]] e no norte de Angola. O [[Kimbundu|quimbundo]] é a língua da região central de [[Angola]], enquanto o [[Umbundu|umbundo]] é falado no sul de Angola e em [[Zâmbia]].<ref name="Influência2"/>
 
 
A influência africana no português do Brasil não se limitou ao enriquecimento com a encorporação de novas palavras, mas também influenciou a fonética, a morfologia, a sintaxe, a semântica, o ritmo das frases e a música da língua. Na fonologia, a tendência do brasileiro de omitir as consoantes finais das palavras e transformá-las em vogais (fal'''á''' no lugar de falar, diz'''ê''' no lugar de dizer, Brasi'''u''' no lugar de Brasil) assemelha-se à estrutura silábica banto e iorubá, que nunca termina em consoante. Por influência africana, os ditongos ''ei'' e ''ou'', reduziram-se na língua popular do Brasil (ch'''ê'''ro no lugar de cheiro, p'''ê'''xe no lugar de peixe e b'''ê'''jo no lugar de beijo). Também se atribui à influência negra as aféreses violentas encontradas na fala brasileira (tá no lugar de está, ocê no lugar de você, cabar no lugar de acabar) entre outras influências.<ref name="Influência"/><ref name="Influência2"/><ref name="Influência3"/>
 
 
Renato Mendonça conseguiu arrolar cerca de 350 palavras de origem africana usadas no português do Brasil, enquanto que Yeda Pessoa de Castro encontrou 3 mil termos de reconhecida proveniência africana em sua pesquisa de campo na Bahia.<ref name="Influência"/> Muitas dessas palavras ainda não constam nos dicionários brasileiros, devido à falta de novas pesquisas na área.<ref name="Influência3"/> Muitas palavras usadas no Brasil e originárias de idiomas africanos não existem ou são pouco usadas no [[Português europeu|português de Portugal]], vez que se limitam à realidade brasileira, tais como [[acarajé]], [[vatapá]], [[berimbau]], [[bobó]], cafuné (estalidos com o polegar no alto da cabeça), moleque (menino, garoto), cambada (corja, súcia), [[canjica]], [[quilombo]], sinhá (forma popular de senhora) e várias outras. Certos léxicos portugueses caíram em desuso no Brasil e foram substituídos por palavras de origem africana, como se observa a seguir:<ref name="Influência"/>
 
 
{| class="wikitable" style="margin:auto;"
 
|-
 
!Palavra portuguesa !! Palavra mais usada no Brasil !! Língua de origem<ref name="Influência"/>
 
|-
 
|Insultar || Xingar|| Do quimbundo ''xinga'' (injuriar, ofender)
 
|-
 
|Dormitar || Cochilar || Do quimbundo ''koxila'' (cabecear com sono)
 
|-
 
| Trapo|| Mulambo || Do quimbundo ''mulambo'' (trapo, roupa esfarrapada)
 
|-
 
| Benjamim || Caçula || Do quimbundo ''kazuli'' (o filho mais moço, o último da família)
 
|-
 
|Óleo-de-palma|| Dendê || Origem africana (palmeira do Congo e da Guiné, introduzida no Brasil desde o {{séc|XVI}})
 
|-
 
|Nádegas || Bunda ||Do quimbundo ''mbunda'' (nádegas, assento)
 
|-
 
| Vespa|| Marimbondo || Do quimbundo ''ma'', prefixo plural da quarta classe + ''rimbondo'', vespa (inseto, vespa)
 
|-
 
|Sinete|| Carimbo || Do quimbundo ''ka'', prefixo diminutivo + ''rimbu'', repartições
 
(objeto usado nas repartições e casas de negócio)
 
|-
 
| Aguardente|| Cachaça || Origem africana (aguardente)
 
|}
 
 
== Discriminação ==
 
{{Artigo principal|Racismo no Brasil}}
 
[[Imagem:Ilé Axé Iya Nassô Oká Casa Branca.JPG|miniatura|240px|[[Casa Branca do Engenho Velho|Terreiro da Casa Branca]], em Salvador]]
 
O [[Racismo no Brasil|preconceito racial no Brasil]] é o que alguns autores chamam de preconceito “de marca”, ou seja, que recai sobre o fenótipo do indivíduo (tipo de cabelo, traços e cor da pele). Ele não recai diretamente sobre a ancestralidade, pois no Brasil as classificações raciais se baseiam mais na aparência física da pessoa do que na ancestralidade. É um racismo que aparece como expressão de foro íntimo, mais apropriado ao recesso do lar.<ref name=lilia>{{citar livro | título =História da Vida Privada no Brasil - Contrastes da intimidade contemporânea|autor=Lilia Moritz Schwarcz|páginas =–|ano =1998 |editora = Companhia das Letras }}</ref> A escravidão foi abolida, houve a universalização das leis, mas o padrão tradicional de acomodação racial não foi alterado, mas apenas camuflado. Apesar da tão falada “miscigenação brasileira”, um sistema enraizado de hierarquização social com base em critérios como classe social, educação formal,  origem familiar e na raça continuaram. Se após a Segunda Guerra Mundial o darwinismo racial foi perdendo força e o conceito biológico de raça foi se desmontando, o “preconceito de cor” fazia as vezes da raça.<ref name="lilia"/>
 
 
Os anos 70 representaram a chegada de todo um movimento de contestação dos valores vigentes no Brasil, por meio de política oficial e, sobretudo, alternativa, na literatura e música. Nessa época surgiu o [[Movimento Negro Unificado]] (MNU) que, ao lado de outras organizações paralelas, passaram a discutir as formas tradicionais de poder. A existência de movimentos negros no Brasil, porém, é bastante antiga. Os movimentos de mobilização racial existem no Brasil desde o {{séc|XIX}}. No pós-abolição, a população negra foi marginalizada, o que a levou a criar dezenas de grupos (grêmios, clubes ou associações) em alguns estados, como a Sociedade Progresso da Raça Africana (1891), em [[Lages]], Santa Catarina; a Sociedade União Cívica dos Homens de Cor (1915), a Associação Protetora dos Brasileiros Pretos (1917), ambas no Rio de Janeiro e o Club 13 de Maio dos Homens Pretos (1902) e o Centro Literário dos Homens de Cor (1903), em São Paulo. No início do {{séc|XX}}, existiam centenas de associações negras espalhadas pelo Brasil.<ref name="movimento">{{citar periódico|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1413-77042007000200007&lng=en&nrm=iso&tlng=pt|título=Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos históricos|primeiro =Petrônio|último =Domingues|periódico=Tempo|volume=12|número=23|páginas=100–122|via=SciELO|doi=10.1590/S1413-77042007000200007}}</ref> Data de 1931 a criação da Frente Negra Brasileira e do seu jornal, e periódicos dedicados ao tema já circulavam no Brasil.<ref name="lilia"/>
 
 
O [[racismo no Brasil]] está nas diferenças no acesso à educação e ao lazer, na distribuição desigual de rendas, marcas da discriminação que fugiam à alçada oficial, mas que eram evidentes no cotidiano. A desconstrução do mito da democracia racial circunscreveu o tema racial a uma questão de classe e abandonou a cultural. O tema racial parecia subsumido à luta entre classes e seu problema não seria resolvido por meio do enfrentamento de suas especificidades. Os estudos mais recentes, todavia, demonstraram que o preconceito de cor não estava exclusivamente atrelado a uma questão econômica e social, mas que continuava como um divisor da sociedade.<ref name="lilia"/>
 
 
O racismo brasileiro é de foro íntimo, presente na intimidade, mas camuflado quando toma a esfera pública. Ele se reflete nas relações pessoais mais íntimas, num modelo antigo de hierarquização social e de oportunidades desiguais entre os cidadãos. Reflete-se em práticas reiteradas, como o "elevador social", reservado ao moradores do prédio e o "elevador de serviços", reservado aos serviçais, majoritariamente negros. Na situação econômica se aflora, assim como na relação com a justiça, sendo que os réus negros têm 80% de chance a mais de serem incriminados que os brancos. O Brasil vive uma dicotomia, ao exaltar a miscigenação racial e cultural mas de, ao mesmo tempo, perceber-se um país extremamente desigual.<ref name="lilia"/>
 
 
===Casos de racismo divulgados===
 
 
Casos bem divulgados de racismo fazem parte da História recente do Brasil. Em 1950, a atriz negra norte-americana [[Katherine Dunham]] foi impedida de se hospedar em um hotel de São Paulo por ser "pessoa de cor". O caso rendeu críticas de [[Gilberto Freyre]] na tribuna da [[Câmara dos Deputados do Brasil|Câmara dos Deputados]] e foi um dos motivadores para a edição da [[Lei Afonso Arinos]], a primeira lei antirracista do Brasil.<ref>{{citar periódico|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0104-026X2008000300011&lng=en&nrm=iso&tlng=pt|título=Pela igualdade|primeiro =Yvonne|último =Maggie|data=1 de dezembro de 2008|periódico=Revista Estudos Feministas|volume=16|número=3|páginas=897–912|via=SciELO|doi=10.1590/S0104-026X2008000300011}}</ref>
 
 
No [[Futebol do Brasil|futebol]], os casos de racismo são antigos no Brasil. O esporte teve uma origem elitista, dominado por brancos, no início do {{séc|XX}}. Porém, paulatinamente, o futebol tornou-se motivo de diversão para jovens negros e pobres, que se tornariam os grandes nomes do futebol brasileiro, até hoje. Contudo, nos primeiros tempos, houve grande resistência à participação de jogadores negros. Para o [[Campeonato Sul-Americano de Futebol de 1921]], o Presidente da República [[Epitácio Pessoa]] "recomendou" que a seleção não levasse jogadores negros para a Argentina pois, segundo ele, era necessário projetar uma imagem "melhor" do Brasil para os estrangeiros. Em decorrência, jogadores famosos na época, como o mulato [[Arthur Friedenreich]], ficaram de fora do campeonato.<ref name=mario/> Naquela altura, era comum que jogadores negros e mulatos usassem pó-de-arroz no rosto e alisassem os cabelos para serem aceitos.<ref name=mario>{{citar livro|autor=Mario Filho|titulo=O Negro no Futebol Brasileiro|editora=MAUADX|ano=1947}}</ref> [[Pelé]], durante sua carreira, foi ridicularizado pelos colegas e pela mídia em decorrência da sua cor, embora o jogador tenha-se negado a participar de qualquer luta antirracista.<ref>{{citar web|url=http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2014/09/25/pele-foi-alvo-de-racismo-na-carreira-mas-esteve-alheio-a-luta-antirracista.htm|título=Pelé foi alvo de racismo na carreira, mas ignorou luta antirracista - Futebol - UOL Esporte|website=uol.com.br}}</ref>
 
 
[[Imagem:Mariajulia coutinho.jpg|miniatura|200px|[[Maria Júlia Coutinho]] foi vítima de ataques racistas nas [[redes sociais]], em 2015, e procurou a polícia. A jornalista recebeu o apoio de milhares de pessoas, que fizeram a hashtag "somostodosMaju" ser o assunto mais postado nas [[redes sociais]].<ref>{{citar web|url=http://www.jornalopcao.com.br/ultimas-noticias/maria-julia-do-jornal-nacional-e-destaque-nas-redes-apos-ser-alvo-de-racismo-39509/|título=Maria Júlia, do Jornal Nacional, é destaque nas redes após ser alvo de racismo - Jornal Opção|data=3 de julho de 2015|website=jornalopcao.com.br}}</ref>]]
 
 
Nos últimos anos, vários brasileiros negros famosos continuam sendo vítimas de racismo. Apenas em 2014 um árbitro e três jogadores de [[futebol]] foram vítimas de ataques de conteúdo racista por parte da torcida brasileira: o árbitro Márcio Chagas, no início de 2014; o zagueiro do [[Sport Club Internacional]], [[Paulo Marcos de Jesus Ribeiro|Paulão]]; o [[Arouca (futebolista)|Arouca]], então jogador do [[Santos Futebol Clube|Santos]], e o goleiro [[Aranha (futebolista)|Aranha]], então do Santos, que foi insultado de "macaco" por parte da torcida do [[Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense|Grêmio]].<ref name="bbc">{{Citar web|url=http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/11/141125_racismo_futebol_aranha_rm|título =Caso Aranha fica sem julgamento; 'Falta consciência negra ao Judiciário', diz OAB|autor = Renata Mendonçar|ano =2014|publicado = BBC}}</ref> No último caso, o Grêmio foi excluído da Copa do Brasil pelo [[Tribunal de Justiça Desportiva]].<ref>{{citar web|url=http://zh.clicrbs.com.br/rs/esportes/gremio/noticia/2014/09/stjd-exclui-gremio-da-copa-do-brasil-por-ofensas-racistas-a-aranha-4590000.html|título=GaúchaZH|website=zh.clicrbs.com.br}}</ref> Contudo, os quatro torcedores identificados como ofensores escaparam de ser julgados pelo crime de injúria racial, porquanto fizeram um acordo judicial, comprometendo-se a comparecer a uma delegacia em todos os dias de jogos do Grêmio, trinta minutos antes da partida.<ref name="bbc"/>
 
 
Mulheres negras com visibilidade na mídia também foram vítimas da intolerância. Em 2015, a jornalista da [[Rede Globo]] [[Maria Júlia Coutinho]] foi alvo de ataques racistas nas redes sociais. A hashtag: #SomostodosMaju teve ampla repercussão nas [[Rede social|redes sociais]] e o caso foi exposto no [[Jornal Nacional]], pelos âncoras [[William Bonner]] e [[Renata Vasconcellos]], na presença de Maria Júlia.<ref>Redação do [http://www.portalimprensa.com.br/noticias/brasil/73115/maria+julia+coutinho+recebe+comentarios+racistas+na+pagina+do+jn+no+facebook Portal da Impresa], página visitada em 4 de julho de 2015.</ref> A jornalista procurou a polícia, que descobriu posteriormente que um dos suspeitos do crime era um adolescente de 15 anos de idade, de [[Carapicuíba]], interior de São Paulo.<ref>{{citar web|url=http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/07/policia-identifica-suspeito-de-publicar-ofensas-contra-maria-julia-coutinho.html|título=Polícia identifica suspeito de publicar ofensas contra Maria Júlia Coutinho|data=7 de julho de 2015|website=globo.com}}</ref> Também em 2015, a atriz [[Taís Araújo]] teve seu perfil no [[Facebook]] atacado por ofensores com mensagens de conteúdo racista. A hashtag #SomosTodosTaísAraújo, em defesa da artista, virou "trending topic" no [[Twitter]]. Nas redes sociais, a atriz escreveu "Não vou me intimidar" e procurou a polícia, que investiga o caso.<ref>{{citar web|url=http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/11/policia-investiga-se-crime-contra-tais-araujo-foi-racismo-ou-injuria-racial.html|título=Polícia investiga se crime contra Taís Araújo foi racismo ou injúria racial|data=3 de novembro de 2015|website=globo.com}}</ref>
 
 
Segundo a ONG SaferNet Brasil, em 2014 houve um aumento de 34,15% das páginas indicadas como racistas e de 365,46% das páginas de conteúdos relacionados à [[xenofobia]] no Brasil.<ref>{{citar web|url=http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-02/cresce-numero-de-denuncias-de-crimes-na-internet-em-2014|título=Crimes de racismo, xenofobia e tráfico de pessoas cresceram na internet|website=ebc.com.br}}</ref> O suposto anonimato da Internet tornou a rede um ambiente propício para os racistas se manifestarem, ao ponto de o racismo ser o segundo crime de direitos humanos mais praticado nas redes brasileiras, atrás apenas da [[pornografia infantil]].<ref>{{citar web|url=http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/tecnologia/2015/07/12/interna_tecnologia,586182/racismo-tem-a-internet-como-um-feroz-aliado-na-propagacao-do-preconceito.shtml|título=Racismo tem a internet como um feroz aliado na propagação do preconceito|website=www.diariodepernambuco.com.br}}</ref> Porém, segundo o especialista Leonardo Zanatta, "Se houver uma cooperação entre a rede social e a polícia brasileira, é fácil chegar até os responsáveis por atos racistas, ainda que tudo seja deletado".<ref>{{citar web|url=http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/tecnologia/2015/05/06/interna_tecnologia,575022/mesmo-deletado-perfil-de-racista-pode-ser-rastreado-diz-especialista.shtml|título=Mesmo deletado, perfil de racista pode ser rastreado, diz especialista|website=www.diariodepernambuco.com.br}}</ref>
 
 
Em 2014, o Brasil registrou 7 mil denúncias no [[Disque Racismo]], uma média de 700 por mês.<ref>{{citar web|url=http://www.jornaldebrasilia.com.br/noticias/cidades/616421/aumenta-o-numero-de-denuncias-envolvendo-racismo/|título=Aumenta o número de denúncias envolvendo racismo - JBr.|website=www.jornaldebrasilia.com.br}}</ref>
 
 
=== Indicadores sócio-econômicos ===
 
{{Artigo principal|Problemas sociais do Brasil}}
 
[[Imagem:Recife 2005 JAN 25 GarbageCollection.jpg|miniatura|[[Catador de lixo|Catadores de lixo]] no [[Recife]]. Mais de 70% dos brasileiros que vivem na miséria são negros ou pardos]]
 
 
Um relatório da [[UFRJ]] divulgado em 2011 aponta que tem crescido a parcela de negros e pardos no total de desempregados.<ref name="ufrj2011">{{citar web|url=http://www.novo.afrobras.org.br/pesquisas/relatorio_2009-2010.pdf|título=Relatório Anual das Desigualdades Raciais - UFRJ|website=afrobras.org.br|acessodata=2 de Novembro de 2011|arquivourl=https://web.archive.org/web/20111104052724/http://www.novo.afrobras.org.br/pesquisas/relatorio_2009-2010.pdf|arquivodata=4 de Novembro de 2011|urlmorta=yes}}</ref> De acordo com o relatório, em 2006, 54,1% do total de desocupados eram negros e pardos (23,9% de homens e 30,8% de mulheres). Pouco mais de 10 anos antes, ou seja, em 1995, os negros e pardos correspondiam a 48,6% desse total (25,3% de homens e 23,3% de mulheres).<ref name="ufrj2011"/>
 
 
Em relação aos que estão empregados, as diferenças entre as raças também são claramente perceptíveis: em 2006, o rendimento médio mensal real dos homens brancos equivalia a R$ 1.164,00, valor 56,3% superior à remuneração obtida pelas mulheres brancas (R$ 744,71), 98,5% superior à conseguida pelos homens negros e pardos (R$ 586,26) e 200% à obtida pelas mulheres negras e pardas.<ref name="ufrj2011"/>
 
 
Um levantamento do [[MDS]] divulgado em 2011 estima que, na parcela ''extremamente pobre'' da população, 50,5% são mulheres e 70,8% declararam ser pretas ou pardas. O [[Censo demográfico do Brasil de 2010|Censo 2010]] apurou que, dos 16 milhões de brasileiros vivendo em extrema pobreza (ou com até R$ 70 mensais), 4,2 milhões são brancos e 11,5 milhões são pardos ou pretos.<ref>Monteiro, André (10 de maio de 2011). [http://www1.folha.uol.com.br/poder/913919-numero-de-pobres-pardos-ou-pretos-e-quase-o-triplo-de-brancos.shtml ''Número de pobres pardos ou pretos é quase o triplo de brancos'']. [[Folha Online]], acesso em 10 de maio de 2011</ref>
 
 
=== Diferenças sociais baseada na origem étnica ===
 
Os indicadores sociais revelam que no Brasil os trabalhadores brancos recebem o dobro dos trabalhadores negros e pardos.<ref>{{citar web|url=http://noticias.r7.com/economia/noticias/salario-de-brancos-e-o-dobro-do-recebido-por-negros-e-pardos-20120629.html|título=Salário de brancos é o dobro do recebido  por negros e pardos - Economia - R7|website=noticias.r7.com|acessodata=19 de Junho de 2013|arquivourl=https://web.archive.org/web/20140107225707/http://noticias.r7.com/economia/noticias/salario-de-brancos-e-o-dobro-do-recebido-por-negros-e-pardos-20120629.html|arquivodata=7 de Janeiro de 2014|urlmorta=yes}}</ref>
 
 
==== Histórico da desigualdade ====
 
[[Imagem:Senhora escravos 1860.jpg|miniatura|esquerda|Mulher sendo carregada na [[liteira]] por seus escravos, em São Paulo, 1860]]
 
A desigualdade social entre brancos e negros e mulatos no Brasil remonta aos tempos coloniais. Embora nos primeiros dois séculos de colonização a maioria da população de origem africana no Brasil fosse escrava, no {{séc|XVIII}} houve um incrível crescimento das [[Carta de alforria|alforrias]] e negros e mulatos livres chegaram a formar a maioria da população em algumas capitanias. Porém, as leis e decretos vindos da Coroa Portuguesa e as práticas sociais impediram enormemente o progresso econômico dessa população. Os libertos de ascendência africana eram discriminados por leis que, frequentemente, deixavam de distingui-los dos escravos. Essas leis eram mais evidentes com relação a porte de armas e no uso de certas vestimentas. Pessoas de origem africana eram proibidas de ocupar cargos públicos, uma vez que era necessário comprovar a "pureza de sangue" para se candidatar.<ref name=libertos>RUSSEL-WOOD, A. J. R. ''Escravos e Libertos no Brasil colonial''. Rio de Janeiro: Ed. Civilização brasileira, 2005.</ref>
 
[[Imagem:Alberto Henschel - Baba com o menino Eugen Keller.jpg|200px|miniatura|Escrava [[babá]] e [[ama de leite]] com o menino Eugen Keller na província de Pernambuco, 1874]]
 
 
O negro e o mulato livres tinham três possibilidades de ganhar a vida. A primeira era obter a independência financeira a qualquer custo tirando proveito de qualquer oportunidade comercial que surgisse. A segunda era deixar-se absorver no sistema escravocrata como feitor e trabalhador assalariado. A última era desistir de enfrentar os desafios e as desvantagens de ser um indivíduo de cor e entregar-se à vagabundagem. Muitos ex-escravos tinham imensa dificuldade em se integrar ao mundo dos livres. No cativeiro, tudo que se exigia de um escravo era sua força física.<ref name="libertos"/> A instituição escravocrata minava a sua iniciativa, a capacidade de tomar decisões, a oportunidade de demonstrar liderança e a capacidade de autocontrole. Apenas os indivíduos mais determinados e resolutos conseguiam ultrapassar essas barreiras psicológicas. Portanto, os negros e mulatos nascidos livres tinham mais oportunidades que aqueles nascidos escravos e alforriados depois. E, por fim, os mulatos de pele mais clara, mesmo os nascidos no cativeiro, tinham mais chances de ser assimilados no "mundo branco" do que os negros de pele mais escura, mesmo os nascidos livres.<ref name="libertos"/>
 
 
Assim, enfrentar a sociedade livre mostrou-se uma tarefa complicada para a crescente população de negros e mulatos livres no período colonial. Socialmente marginalizados, desprovidos de recursos financeiros, muitos viviam em situação mais precária do que os escravos. A Coroa Portuguesa e as autoridades municipais brasileiras nada fizeram para resgatar essa população da marginalidade. Não havia nenhuma política de recuperação social ou ajuda financeira. As únicas organizações do Brasil colonial que tinham alguma preocupação com os indivíduos de origem africana foram as irmandades leigas.<ref name="libertos"/> A [[Santa Casa de Misericórdia]], única fonte institucionalizada de assistência social de todo o império marítimo português, costumava oferecer dotes para mulheres negras e mulatas em idade de se casar, cuidava dos doentes de graça e ajudava pessoas a aprender algum ofício. Em consequência, as irmandades do Brasil colonial ajudavam, até certo ponto, a aliviar os problemas decorrentes da total ausência do Estado e da Igreja na recuperação social dos negros e mulatos livres na sociedade colonial brasileira.<ref name="libertos"/>
 
 
==== Após a Abolição da Escravatura ====
 
{{Artigo principal|Abolicionismo no Brasil|Lei Áurea|Abolição da escravatura no Brasil}}
 
[[Imagem:Lei Áurea (Golden Law).tif|miniatura|upright|A carta original da Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil em maio de 1888]]
 
::"Depois que os últimos escravos houverem sido arrancados ao poder sinistro que representa para a raça negra a maldição da cor, será ainda preciso desbastar, por meio de uma educação viril e séria, a lenta estratificação de 300 anos de cativeiro, isto é, de despotismo, superstição e ignorância." - [[Joaquim Nabuco]], abolicionista brasileiro.<ref>Joaquim Nabuco. O abolicionismo (1883). São Paulo, 1938, p.5.</ref>
 
 
O Estado brasileiro independente não mudou a sua política em relação à população negra e mulata. A medida que mais e mais pessoas de origem africana iam se libertando da escravidão, passavam a engrossar a população de marginalizados na entrada de vilas e cidades.<ref name="darcy"/>
 
 
No dia 13 de maio de 1888, a [[Princesa Isabel]], como regente do trono na ausência de seu pai, o [[Pedro II do Brasil|Impedor Pedro II]], proclamou a abolição da escravatura. A abolição não trouxe a transformação econômica e social esperada pelos abolicionistas. O Brasil continuou sendo um país essencialmente agrário, com um sistema paternalista de relações sociais e com uma rígida estratificação social. Os proprietários de terras (brancos em sua maioria e, por vezes, mulatos claros) praticamente detinham o monopólio do poder econômico, social e político. Os estratos baixos majoritários da sociedade, formados por brancos pobres e descendentes de escravos, a eles se submetiam.<ref name=skidmore>{{citar livro |título = Preto no Branco - Raça e Nacionalidade no Pensamento Brasileiro|autor=Thomas E. Skidmore|páginas =391–|ano=1989|editora=[[Companhia das Letras]]}}</ref>
 
 
Os cerca de meio milhão de escravos libertos com a abolição foram lançados numa sociedade já multirracial, na qual muitos descendentes de escravos já se encontravam em liberdade. No {{séc|XVIII}}, havia mais escravos do que livres ou libertos em algumas regiões do Brasil, sendo que os brancos nunca foram maioria em parte nenhuma do Brasil, até a imigração europeia alterar o perfil demográfico de vários estados do Sul e Centro-Sul a partir do {{séc|XIX}}. No início do {{séc|XIX}}, a maioria da população de origem africana ainda vivia sob a escravidão. Em 1819, cerca de 30% da população brasileira era escrava e os libertos constituíam somente entre 10 e 15%. Porém, no decorrer desse século, assistiu-se a um crescimento exponencial da população de descendentes de ex-escravos, uma vez que em 1872 os descendentes de ex-escravos já representavam 42% da população brasileira e os escravos haviam se reduzido para apenas 16%. Neste ano, havia na população parda quase três vezes mais libertos do que escravos.<ref name="skidmore"/>
 
 
Portanto, quando da Abolição, o Brasil já possuía uma grande classe de libertos, de variados tons de pele, e uma tradição longa, que remontava aos primórdios da colonização, de ascensão social por parte de um pequeno número de escravos alforriados. Uma carência centenária de mão de obra branca qualificada e semiqualificada no Brasil colonial obrigou os colonizadores portugueses a legitimar a criação de uma classe de ex-escravos que fosse capaz de exercer essas atividades, tendência essa que provavelmente continuou no {{séc|XIX}}.<ref name="skidmore"/>
 
 
A [[mobilidade social|ascensão social]] dos descendentes de africanos dependia de diversos fatores. A cor da pele, a textura capilar e os traços faciais se mostravam elementos determinantes da categoria racial a qual pertenceria uma pessoa. O patrimônio e a posição social aparente, como a vestimenta e círculo social, também tinham influência, seguindo a linha de pensamento que no Brasil o "dinheiro embranquece", embora esse fenômeno se limitasse aos mulatos claros. Os limites à ascensão social dependiam, portanto, da aparência física (quanto mais "negroide", mais difícil ela era) e também do grau de "brancura" social (educação, maneiras e renda). Mas não era apenas a aparência física que importava, a origem ainda tinha importância no Brasil. Era comum que mestiços em ascensão escondessem a sua origem familiar, o que demonstrava que mesmo os mulatos que tinham um fenótipo que lhes permitia a ascensão social se sentiam inseguros que sua origem familiar pudesse ameaçar a sua mudança social.<ref name="skidmore"/>
 
 
O fato é que os libertos de cor, quase invariavelmente mulatos claros, já desempenhavam um papel importante bem antes da Abolição em 1888. Alguns haviam alcançado uma considerável ascensão social, ingressando em ocupações qualificadas ou se destacando como artistas, políticos e escritores, mesmo quando a escravidão ainda vigorava. Essa minoria contrastava com a maioria afundada na pobreza. Com a Abolição, milhares deixaram as fazendas e passaram a viver da [[agricultura de subsistência]]. Em seguida, muitos voltaram para seus antigos senhores e se inseriram novamente na força de trabalho. Outros rumaram para as cidades, não preparadas para receber esse fluxo de trabalhadores não qualificados. No Centro-Sul, os ex-escravos tiveram que competir pelos postos de trabalho com a massa de [[Imigração no Brasil|imigrantes europeus]] que estava chegando, mais qualificados que eles para sobreviver no mundo capitalista urbano. No Nordeste, decadente economicamente, as oportunidades de emprego eram poucas para todos. Assim, para as classes baixas brasileiras, na qual se encontravam a maioria dos negros e mulatos, a ascensão social era dificílima.<ref name="skidmore"/>
 
 
Com a Abolição, assistiu-se à saída dos ex-escravos que não queriam mais servir aos seus antigos senhores, seguida à expulsão dos negros velhos e enfermos das [[fazenda]]s. Grande número de negros passaram a se concentrar na entrada das vilas e cidades, vivendo em condições precárias, o que forçou muitos deles a regressar para o trabalho nos latifúndios. Com o desenvolvimento da economia agrícola, outros contingentes de trabalhadores e agregados foram expulsos, engrossando a população das vilas. Essa massa não era constituída apenas por negros, mas também por pardos e brancos pobres, que ficavam à disposição para o aliciamento de mão de obra. Essa massa, predominantemente negra e mulata, ainda hoje pode ser vista junto aos conglomerados urbanos brasileiros e em todas as áreas de latifúndio, vivendo em situação de miserabilidade.<ref name="darcy"/>
 
 
==== Comparação entre negros e imigrantes ====
 
[[Imagem:Slaves in coffee farm by marc ferrez 1885.jpg|200px|miniatura|Escravos em uma plantação de café, em 1885]]
 
[[Imagem:Lavoura de café.jpg|200px|miniatura|[[Imigração italiana no Brasil|Imigrantes italianos]] em uma plantação de café no início do {{séc|XX}}]]
 
No final do {{séc|XIX}}, um grande número de imigrantes, sobretudo europeus, foram para o Brasil. A maioria desses imigrantes rumou para o estado de São Paulo, onde foram engajados como trabalhadores em plantações de café. Neste momento, estava havendo a transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado. Muitos imigrantes trabalharam lado a lado de negros e mulatos, exercendo as mesmas funções, ou seja, imigrantes europeus e afrodescendentes estavam, inicialmente, no mesmo nível social. Porém, com o passar do anos os imigrantes e sobretudo seus filhos tenderam a alcançar uma incrível ascensão social, enquanto a maioria dos negros e mulatos continuaram pobres.<ref name="vantagens">{{citar periódico|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0011-52582010000300001&lng=en&nrm=iso&tlng=pt|título=Vantagens de imigrantes e desvantagens de negros: emprego, propriedade, estrutura familiar e alfabetização depois da abolição no oeste paulista|primeiro =Karl|último =Monsma|periódico=Dados|volume=53|número=3|páginas=509–543|via=SciELO|doi=10.1590/S0011-52582010000300001}}</ref>
 
 
Vários autores já tentaram explicar o porquê desse fenômeno. [[Florestan Fernandes]] explicava que os libertos não estavam preparados para competir com imigrantes, porque a desumanização e a violência da escravidão tornavam os primeiros anômicos, sem laços familiares e comunitários fortes, sem disciplina e tendentes a enxergar a liberdade como ausência de trabalho. A literatura atual dá mais ênfase ao racismo dos fazendeiros brasileiros, que preferiam contratar imigrantes aos trabalhadores nacionais de origem africana.<ref name="vantagens"/>
 
 
O sociólogo Karl Monsma foi mais além em sua pesquisa, ao analisar dados censitários do município de São Carlos, em São Paulo. Embora a pesquisa tenha se limitado a esse estado, ela pode ser aplicada em outras partes do país. Em 1907, em muitos aspectos a situação de negros e imigrantes era muito semelhante. A principal ocupação dos imigrantes no município era o colonato, assim como era a principal ocupação de negros e mulatos.<ref name="vantagens"/> Isso mostra que os afrodescendentes não foram inteiramente excluídos das fazendas. Naquela altura, os imigrantes ainda não tinham grande acesso à terra: apenas 13% dos italianos e 10,1% dos espanhóis eram proprietários, número inferior ao de proprietários mulatos (16%) e pretos (13,5%). A tese de Florestan Fernandes, hoje muito criticada, de que negros e mulatos, após a liberdade, passaram a viver em anomia, também não é comprovada. Em São Carlos, a porcentagem de famílias chefiadas por mulheres foi maior entre os brasileiros brancos (15,8%) do que entre pretos (14,2%) e mulatos (12,8%). As taxas de casamentos de pretos e mulatos era maior do que aquela entre brasileiros brancos o que, num contexto católico tradicional, afasta a tese de uma desorganização familiar.<ref name="vantagens"/>
 
 
Quanto à taxa de alfabetização, ela era evidentemente maior entre brasileiros brancos do sexo masculino (61,7%), portugueses (45,6%), espanhóis (45,5%) e italianos (43,8%) do que entre mulatos (30,5%) e pretos (14,7%).<ref name="vantagens"/>
 
 
O autor do trabalho chega às seguintes conclusões que tentam explicar porque imigrantes e seus descendentes progrediram enormemente no Brasil, enquanto negros e mulatos, na maioria dos casos, continuaram pobres.<ref name="vantagens"/>
 
 
* A grande presença de imigrantes europeus pobres barateou a mão de obra nas fazendas, o que prejudicou trabalhadores negros e outros brasileiros.
 
* Em cada nacionalidade imigrante havia uma elite escolarizada com a qual os compatriotas podiam contar para lutar contra os abusos dos fazendeiros e da polícia. A elite imigrante também empregava os compatriotas nas fazendas, oficinas e lojas e ajudava os pobres e analfabetos a lidar com a burocracia do Estado. Essa ajuda também vinha dos [[Consulado]]s, onde os imigrantes recebiam assistência para a defesa dos seus direitos. Entre os negros, praticamente não havia uma elite, muito menos Consulados, e eles tinham de contar apenas com a ajuda da elite branca local, o que coibia a organização coletiva dos negros. A falta de uma elite negra deixava os negros desorganizados e incapazes de contrapor às representações negativas a eles atribuídas pelos brancos.
 
* Os poucos mulatos bem-sucedidos estavam se "embranquecendo" por meio do casamento com pessoas brancas e não se identificavam com os negros pobres. Com o passar de uma ou duas gerações, seus descendentes se tornavam brancos, engrossando a população de brancos bem-sucedidos.
 
* As famílias dos imigrantes eram, em média, maiores que as dos negros. As famílias maiores eram preferidas dos fazendeiros e podiam ganhar mais como empreiteiros ou colonos.
 
* A proporção de brasileiros brancos e imigrantes alfabetizados era muito maior que a de negros. Isso impedia que os negros pudessem buscar empregos melhores no comércio e no serviço público, limitando-se ao trabalho braçal. O racismo enfrentado nas escolas fazia com que a evasão escolar fosse alta entre os negros, impedindo a sua formação acadêmica.
 
* Os negros eram rejeitados pela elite brasileira. Por outro lado, os imigrantes e descendentes se integravam mais facilmente com as elites locais, favorecendo sua ascensão social.
 
* Com a ascensão social, os imigrantes e descendentes passaram a controlar um número crescente de postos de trabalho e favoreciam os seus semelhantes, internalizando o racismo, excluindo o negro de posições de poder e estigmatizando-o como moralmente inferior.
 
 
==== Salário por origem étnica ====
 
Uma pesquisa realizada em 1998, pelo sociólogo mineiro [[Simon Schwartzman]], mostra que a desigualdade salarial no Brasil também possui um viés étnico e racial. A pesquisa mostrava que os brasileiros que ganhavam mais eram de cor ou raça amarela e branca, enquanto pretos, pardos e indígenas ganhavam menos. A renda mensal de um brasileiro branco era de R$848,41, maior do que entre indígenas (R$515,07), pardos (R$440,14) e pretos (R$400,84).<ref name="ancestry" />
 
 
Por origem ancestral, os descendentes de imigrantes ocupavam o topo da pirâmide social brasileira. Os entrevistados que apontaram ter ancestralidade judia, árabe ou japonesa eram os mais bem sucedidos. Descendentes de judeus ganhavam R$2.047,24 mensais, de japoneses ganhavam R$1.719.14 e de árabes R$1.759.26.<ref name="ancestry" />
 
 
No grupo intermediário estavam os descendentes de italianos (R$1.135.66), de espanhóis (R$1.134.55), de portugueses (R$1.071.97) e de alemães (R$976.59). Brancos que disseram ter só origem "brasileira" ganhavam menos, R$778.09.<ref name="ancestry">http://www.schwartzman.org.br/simon/pdf/origem.pdf</ref>
 
 
Pardos que disseram ter ancestralidade africana ganhavam R$496.14, os de ancestralidade "brasileira", R$431.64. Pretos de ancestralidade africana recebiam R$515.3 e, o grupo mais pobre de todos, pretos de ancestralidade "brasileira", ganhavam R$384.81. Nota-se que pretos e pardos que associaram uma ancestralidade africana ganhavam mais que aqueles que só se disseram de ancestralidade "brasileira". Isso sugere que uma identificação com uma ancestralidade africana está relacionada a uma posição social melhor e, provavelmente, a um maior grau de escolaridade do indivíduo.<ref name="ancestry" />
 
 
=== Representatividade na mídia ===
 
[[Imagem:Taís Araújo, 2013.jpg|miniatura|[[Taís Araújo]] foi a primeira protagonista negra de uma novela brasileira]]
 
Os afrodescendentes têm pouca visibilidade na mídia brasileira. Na [[televisão]] brasileira ainda impera o modelo hegemônico branco, refletindo um anseio por uma euro-norte-americanização do retrato social brasileiro.<ref name="raça">{{Citar web |url=http://www.bibliotecadigital.ufrgs.br/da.php?nrb=000429421&loc=2004&l=a53f9ea881157d5a|título=Os negros representados na revista Raça Brasil}}</ref> Apesar da resistência cultural e política de grupos negros, a televisão brasileira ainda não foi capaz de representar os valores, experiências e importância desse grupo formador da população brasileira.<ref name="raça"/> A [[telenovela]], importante produto da indústria cultural brasileira, já representou várias classes sociais, mas os centros de suas tramas sempre rodam em torno de uma [[classe média]] branca e suas relações com os ricos. A "classe média da Zona Sul" é retratada nas novelas brasileiras de forma destacada e glamourizada, e os personagens negros são retratados a partir da visão dos brancos. Os personagens negros aparecem como "empregados fiéis e anjos da guarda dos protagonistas e personagens mais relevantes do horário nobre". Mesmo a classe média negra, quando retratada nas novelas, aparece de forma tão normal e assimilada, sem ligação com a cultura afro-brasileira, que poderia ser interpretada por atores brancos.<ref name="raça"/>
 
 
O Brasil produz telenovelas desde a década de 1960, porém só em 1996 é que uma atriz negra, [[Taís Araújo]], se tornou protagonista, em [[Xica da Silva (telenovela)|Xica da Silva]]. Sobre os títulos de ter sido a primeira atriz negra a se destacar em diversas áreas da televisão, Taís Araújo declarou que dispensaria esses títulos pois "mostram o preconceito e o atraso existentes no meu país". Indagada sobre o porquê de haver tão poucos negros na televisão brasileira, a atriz declarou: "Porque vivemos num país recheado de preconceito. Existem muitos atores negros no mercado, bons profissionais e muito bem preparados para enfrentar qualquer personagem".<ref>{{Citar web |url=http://www.feminismo.org.br/livre/index.php?option=com_content&view=article&id=2225:tais-araujo-a-primeira-protagonista-negra-da-tv-esse-titulo-mostra-o-preconceito-do-meu-pais&catid=108:mulheres-negras&Itemid=493 |titulo=Taís Araújo, a primeira protagonista negra da TV: “Esse título mostra o preconceito do meu país”. |acessodata=7 de Agosto de 2011 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20140107225528/http://www.feminismo.org.br/livre/index.php?option=com_content&view=article&id=2225:tais-araujo-a-primeira-protagonista-negra-da-tv-esse-titulo-mostra-o-preconceito-do-meu-pais&catid=108:mulheres-negras&Itemid=493 |arquivodata=7 de Janeiro de 2014 |urlmorta=yes }}</ref> Reflexo nítido disso aconteceu em 1970, na adaptação do livro americano [[Uncle Tom's Cabin]] para a televisão [[A Cabana do Pai Tomás|feita pela Rede Globo]]. Quem foi escalado para fazer o papel do Tio Tomás, que no livro era um personagem negro, foi o ator branco [[Sérgio Cardoso]]. Para parecer negro, Cardoso teve que se pintar de preto durante toda a novela. Numa outra adaptação do livro de Jorge Amado, na novela [[Porto dos Milagres]], de 2001, praticamente todos os atores eram brancos, embora no livro original a história se passasse na [[Bahia]] e o próprio autor descrevia que os personagens fossem em sua maioria negros.<ref name="joel"/> Em 2013, a Rede Globo foi acusada de racismo nas redes sociais por não haver um único ator negro na novela [[Amor à Vida]]. Em resposta, a emissora argumentou que "não divide elenco pela cor de pele e que a escalação das novelas se dá por compatibilidade artística com a personagem e a história".<ref>{{citar web|url=http://f5.folha.uol.com.br/televisao/2013/06/1292382-globo-responde-a-criticas-por-ausencia-de-personagens-negros-em-amor-a-vida.shtml|título=F5 - televisão - Globo responde a críticas por ausência de personagens negros em "Amor à Vida" - 10/06/2013|website=f5.folha.uol.com.br}}</ref>
 
 
Em 2018, novamente a Rede Globo foi criticada pela ausência de pessoas negras em sua programação, dessa vez em decorrência da novela [[Segundo Sol]], ambientada no estado da [[Bahia]], onde, segundo o censo, cerca de 80% da população se declara de cor preta ou parda; todavia, entre os atores da novela, quase todos eram brancos. Dos 27 atores da novela, apenas três eram negros e nenhum deles tinha um papel de destaque. Grande parte do público estranhou e indignou-se com essa falta de representatividade, o que levou o [[Ministério Público do Trabalho]] (MPT) do Rio de Janeiro a notificar a Rede Globo sobre o assunto, recomendando que a emissora respeite a diversidade racial existente no Brasil.<ref>{{citar web|url=http://cultura.estadao.com.br/noticias/televisao,mpt-notifica-globo-sobre-falta-de-representacao-racial-em-novela,70002306033|título=MPT notifica Globo sobre falta de representação racial em novela|obra=Estadão|acessodata=2018-15-05}}</ref> Em comunicado, a emissora admitiu que a representatividade foi "menor do que gostaria".<ref>[http://emais.estadao.com.br/noticias/tv,globo-admite-representatividade-menor-do-que-gostaria-em-novela,70002294875 Globo admite 'representatividade menor do que gostaria' em novela]</ref> Esse caso teve inclusive repercussão internacional, com matéria publicada no jornal britânico [[The Guardian]].<ref>[https://www.theguardian.com/world/2018/may/18/brazil-segundo-sol-telenovela-white-black-cast-race Bahia is Brazil's blackest state – but you'd never guess it from latest TV soap]</ref>
 
 
No Brasil, os personagens negros são frequentemente estereotipados, normalmente em papéis submissos, de [[empregada doméstica]], motorista, serviçal, [[guarda-costas]] ou [[favela]]do. As negras normalmente são retratadas como mulheres com grande apetite sexual e exacerbada sensualidade. Os homens negros, por sua vez, estereotipados como malandros e criminosos.<ref name=joel>{{citar livro |título = A Negação do Brasil|autor=Joel Zito Araúo|páginas =331–|ano=2004|editora=[[Senac]]}}</ref> Embora desde a década de 1970 os movimentos negros no Brasil lutem por uma maior representação de afrodescendentes na mídia, a televisão brasileira ainda segue o padrão do "branqueamento" e, apesar dos avanços, em muitas novelas os personagens negros são simplesmente ignorados. Com exceção de produções com temática escravagista, das 98 telenovelas produzidas pela [[Rede Globo]] na década de 1980 e de 1990, em 28 delas simplesmente não havia sequer um personagem negro. Em apenas 28% delas mais de 10% dos atores eram negros, em um país onde pelo menos 50% da população é formada por descendentes de africanos. A telenovela, ao não refletir a real composição étnica da população brasileira, concilia-se com a negação da diversidade racial do Brasil. Atores morenos ou mestiços também não são destacados. Telenovelas com uma temática que dê destaque à cultura ou às experiências específicas dos afro-brasileiros raramente são retratadas no horário nobre, ficando restritas a algumas minisséries.<ref name="raça"/>
 
 
No meio publicitário brasileiro a situação não é diferente. Há negros em apenas 3% dos comerciais de televisão. Na década de 1980, movimentos negros e publicitários renomados se reuniram para analisar a falta de negros na publicidade brasileira. Chegou-se à conclusão que o negro era ignorado pois a propaganda pretendia retratar um modelo de família da classe média brasileira, onde a presença negra seria escassa. Ademais, o negro não seria consumidor, os clientes não estariam aceitando a inclusão do negro em seu produto e, por fim, a publicidade seria um reflexo de uma sociedade preconceituosa. O cineasta mineiro [[Joel Zito Araújo]], que fez um amplo trabalho sobre a representação do negro na mídia brasileira, afirmou: "na lógica dessa maioria, preto é igual a pobre, que é igual a consumo de subsistência". Como muitos brasileiros ainda vivem sob a égide do mito da [[democracia racial]], muitos publicitários e produtores simplesmente acreditam que a questão racial não é importante, o que elimina a preocupação em retratar a diversidade racial do Brasil.<ref name="raça"/>
 
 
Porém, nos últimos anos, a publicidade brasileira tem percebido que muitos negros vêm ascendendo socialmente, transformando-se em potenciais consumidores. Dos brasileiros que ganham mais de vinte salários mínimos, 28% são negros. Somado a isso, há anos há pressão de grupos e de políticos negros para que haja uma maior representação dessa parcela da população. Assim, de forma paulatina a visibilidade do negro na publicidade vem aumentando. Porém, em muitos casos, os publicitários escalam para as suas propagandas um único negro, rodeado de brancos, seguindo a linha do [[politicamente correto]].<ref name="raça"/>
 
 
A "branquidade normativa", ou seja, os brancos tidos como o padrão a ser seguido, não é algo exclusivo dos meios de comunicação do Brasil, sendo também uma constante em diversos países da [[América Latina]]. Nesses países, negros, índios e mestiços, sobretudo, são desvalorizados. Na mídia latino-americana, ter um [[fenótipo]] branco e, preferencialmente, o [[Raça nórdica|nórdico]], é associado com valores positivos, como inteligência, habilidade, educação, beleza, honradez e amabilidade. São países que vivem uma dualidade pois, apesar de haver uma promoção oficial da miscigenação e um orgulho em um contexto internacional, o padrão branco é aquele tido como normal, e os outros grupos são excluídos ou estereotipados.<ref>{{citar web|url=http://www.neab.ufpr.br/pdf/Notas_sobre_os_escritos_do_projeto_Racismo_e_discurso_na_America_Latina.pdf|título=Racismo e Discurso na América Latina|website=ufpr.br}}{{Ligação inativa|data=janeiro de 2019}}</ref>
 
 
=== Negros nos livros didáticos ===
 
Nos livros didáticos brasileiros, há uma invisibilidade dos negros e uma disparidade em relação à representação de brancos. Em uma pesquisa, nos textos não verbais analisados, em apenas 11% há representação de negros, embora mais de 40% da população brasileira se defina como preta ou parda.<ref name="aluno">{{Citar web |url=http://200.144.182.150/neinb/files/PERCEP%C3%87%C3%95ES%20DE%20ALUNOS%20E%20PROFESSORES%20SOBRE%20A%20DISCRIMINA%C3%87%C3%83O%20RAC.pdf|autor=Candida Soares da Costa|título=Percepção de alunos e professores sobre a discriminação racial no livro didático|ano=2007}}</ref> A representação dos negros nos livros escolares acontece com uma ênfase no lado pejorativo e degradante dessas pessoas. Em mais de 72% das representações nos livros, o negro está exposto sob uma perspectiva negativa e em somente 30% de forma positiva. No meio escolar brasileiro, a representação dos negros no livro didático está normalmente associada com o que há de pior, com a delinquência, as drogas, a escravidão, a miséria, o lixo.<ref name="aluno"/> Frequentemente fazem referências à cor do personagem de forma negativa. A maioria dos professores entrevistados dizem não perceber essa representação negativa do negro ou não dá a devida importância ao tema, muitas vezes delegando o preconceito ao próprio aluno negro. Para a maioria dos professores, o racismo existente na sociedade não adentra o meio escolar. A ótica dos alunos, por outro lado, se mostrou mais aguçada quanto à percepção dessa discriminação. A maioria dos estudantes relataram que percebem que nos livros didáticos há uma maior representação do grupo branco do que do negro, apenas 11,11% disseram que tanto brancos quanto negros são representados de forma igual. Porém uma minoria entende isso como uma manifestação de racismo. Os alunos, ao terem contato com o livro, associam os personagens ali contidos com os colegas de classe. Como a maioria dos negros são retratados de forma pejorativa no livro didático, os colegas negros passam a ser estigmatizados e ridicularizados, gerando sérios reflexos na sua formação.<ref name="aluno"/>
 
 
A educadora Andreia Lisboa de Sousa, ao analisar a representação do negro na literatura infanto-juvenil, chegou à conclusão de que a representação negativa e degradante do negro leva a uma extrema baixa autoestima dos alunos negros: "Os instrumentos legitimadores como família, escola e mídias tendem a desqualificar os atributos do segmento étnico-racial negro", afirmou ela.<ref name=juvenil>{{citar livro | título =A representação da personagem feminina negra na literatura infanto-juvenil brasileira|autor=Andreia Lisboa de Sousa}}</ref>
 
 
A partir de 2010, ganhou repercussão na [[mídia]] e nos meios jurídicos brasileiros a questão em torno da obra de [[Monteiro Lobato]], [[Caçadas de Pedrinho]], publicada em 1933. No livro em questão, a personagem negra Tia Anastácia é chamada de "macaca de carvão" e referida como pessoa que tem "carne preta".<ref>{{citar web|url=http://educacao.uol.com.br/noticias/2012/09/25/discussao-sobre-racismo-na-obra-de-monteiro-lobato-continua-hoje-em-reuniao-no-mec.htm|título=Discussão sobre racismo na obra de Monteiro Lobato continua hoje em reunião no MEC - Notícias - UOL Educação|website=uol.com.br}}</ref> A obra, cuja leitura é obrigatória nas escolas públicas, foi alvo de [[mandado de segurança]] impetrado pelo Instituto de Advocacia Racial (Iara) perante o [[Supremo Tribunal Federal]]. No referido remédio constitucional, o Iara demandava que a questão fosse decidida pela Presidência da República e requeria a retirada do livro de Lobato da lista de leitura obrigatória, para que as crianças brasileiras não ficassem expostas ao seu alegado conteúdo racista. Tal pedido já havia sido feito e negado pela Câmara de Educação Básica, pelo Plenário do Conselho Nacional de Educação e pelo ministro da Educação. Também requeria que o [[MEC]] incluísse "notas explicativas" nos livros fornecidos às bibliotecas e que apenas a "professores preparados a explicar as nuances do racismo do Brasil da República Velha" fosse permitido o lecionamento acerca do livro. Em 2014, o ministro [[Luiz Fux]], após análise tão somente do pedido de liminar, sem adentrar o mérito, concordou com o parecer da Procuradoria-Geral da República de que o presidente não é omisso se decide não avocar um tema para si.<ref>{{citar web|url=http://www.conjur.com.br/2014-dez-24/fux-nega-liminar-tirar-cacadas-pedrinho-escolas-publicas|título=Fux nega liminar para tirar Caçadas de Pedrinho de escolas públicas|website=conjur.com.br}}</ref> É sabido que Monteiro Lobato era abertamente racista, sendo membro da [[Movimento eugênico brasileiro|Sociedade Eugênica de São Paulo]], grupo que pregava a superioridade da raça branca sobre as demais. Em correspondência a um amigo, não escondeu que defendia a atuação da [[Ku Klux Klan]] no Brasil, grupo racista que promovia assassinatos, [[linchamento]]s e outras atrocidades contra [[negros]] nos Estados Unidos.{{nota de rodapé|Em uma correspondência, Lobato escreveu sobre o Brasil: "Paiz de mestiços onde o branco não tem força para organizar uma Kux-Klan, é paiz perdido para altos destinos. André Siegfried resume numa phrase as duas attitudes. "Nós defendemos o front da raça branca – diz o Sul – e é graças a nós que os Estados Unidos não se tornaram um segundo Brazil." Um dia se fará justiça ao Klux Klan; tivéssemos ahi uma defeza desta ordem, que mantem o negro no seu lugar, e estariamos hoje livres da peste da imprensa carioca – mulatinho fazendo o jogo do gallego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destróe a capacidade constructiva".<ref name="lobato">{{citar periódico|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0011-52582013000100004&lng=en&nrm=iso&tlng=pt|título=Monteiro Lobato e o politicamente correto|primeiro1 =João|último1 =Feres Júnior|primeiro2 =Leonardo Fernandes|último2 =Nascimento|primeiro3 =Zena Winona|último3 =Eisenberg|data=1 de março de 2013|periódico=Dados|volume=56|número=1|páginas=69–108|via=SciELO|doi=10.1590/S0011-52582013000100004}}</ref>}} Em suas obras, a personagem negra Tia Anastácia é constantemente retratada de forma pejorativa e discriminatória.{{nota de rodapé|"Esse não é o único livro da série do Pica-pau Amarelo que contém tais imprecações contra Anastácia. O livro que dá início à coleção, Reinações de Narizinho, de 1931, abre a primeira página apresentando todos os personagens. À Anastácia cabe o epíteto de "negra de estimação". Nesse livro Lobato refere-se à personagem 56 vezes usando o termo "a negra", ao invés de seu nome. Pelo menos 13 vezes tal chamamento é acompanhado de alusões pejorativas aos seus "beiços", ou às vezes "beiçaria", ao tamanho avantajado de sua boca, "a maior boca do mundo", "de caber dentro uma laranja", ou ainda a sua ignorância "tudo que ela não entendia era [para ela] inglês".<ref name="lobato"/>}} Os meios de comunicação brasileiros, majoritariamente, posicionaram-se contrários ao parecer desfavorável à obra de Lobato, frequentemente alegando que se tratava de uma tentativa de "censura" e de um "atentado à livre expressão de ideais".<ref name="lobato"/>
 
 
== Municípios brasileiros com maior população afrodescendente ==
 
Segundo dados do recenseamento de 2000, feito pelo [[IBGE]],<ref>{{Citar web|url=http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl1.asp?c=2112&n=0&u=0&z=cd&o=7&i=P|título=www.sidra.ibge.gov.br|arquivourl=https://web.archive.org/web/20150924101941/http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl1.asp?c=2112&n=0&u=0&z=cd&o=7&i=P|arquivodata=24 de Setembro de 2015|urlmorta=yes}}</ref> dos dez municípios brasileiros com maior população preta, cinco estavam em [[Tocantins]] e três no [[Piauí]]. [[Mato Grosso]] e [[Bahia]] tiveram um município representado cada.
 
 
* 1) [[Riacho Frio]] (PI) – 61,71%
 
* 2) [[Pugmil]] (TO) – 41,35%
 
* 3) [[Silvanópolis]] (TO) – 41,25%
 
* 4) [[Pedrão]] (BA) – 39,42%
 
* 5) [[São Valério da Natividade]] (TO) – 36,17%
 
* 6) [[Vera Mendes]] (PI) – 35,92%
 
* 7) [[Nossa Senhora do Livramento (Mato Grosso)|Nossa Senhora do Livramento]] (MT) – 35,67%
 
* 8) [[São Félix do Tocantins]] (TO) – 35,41%
 
* 9) [[Santa Rosa do Tocantins]] (TO) – 33,35%
 
* 10) [[Arraial]] (PI) – 32,86%
 
 
== Pesquisas genéticas ==
 
 
=== Perfil da população brasileira ===
 
{| class="toccolours" style="float: right; margin-left: 1em; margin-right: 1em; font-size: 95%; background:#c6dbf7; color:black; width:23em; max-width: 35%;" cellspacing="7"
 
| style="text-align: left;" |
 
"É de se supor que, por esse caminho, a população brasileira se homogeneizará cada vez mais, fazendo com que, no futuro, se torne ainda mais co-participado por todos um patrimônio genético multirracial comum. Ninguém estranha, no Brasil, os matizes de cor dos filhos dos mesmos pais, que vão, freqüentemente, do moreno amulatado, em um deles, ao branco mais claro, no outro; ou combinam cabelos lisos e negros de índio ou duros e encaracolados de negro, ou sedosos de branco, de todos os modos possíveis; com diferentes aberturas de olhos, formas de boca, conformações nasais ou proporções das mãos e pés. Na verdade, cada família brasileira de antiga extração retrata no fenótipo de seus membros características isoladas de ancestrais mais próximos ou mais remotos dos três grandes troncos formadores. Conduzindo, em seu patrimônio genético, todas essas matrizes, os brasileiros se tornam capazes de gerar filhos tão variados como variadas são as faces do homem."
 
|-
 
| style="text-align: left;" | ''O Povo Brasileiro'', [[Darcy Ribeiro]], pag. 16.<ref>{{citar web|url=http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/darcy-ribeiro/o-povo-brasileiro-9.php|título=Darcy Ribeiro, O Povo Brasileiro, page 09|website=colegiosaofrancisco.com.br}}{{Ligação inativa|data=janeiro de 2019}}</ref>
 
|}
 
 
Uma recente pesquisa [[Gene|genética]], encomendada pela [[BBC Brasil]], analisou a ancestralidade de 120 brasileiros auto-declarados pretos que vivem em [[São Paulo (estado)|São Paulo]].<ref name="bbc2">{{Citar web |url=http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/cluster/2007/05/070427_raizesafrobrasileiras.shtml |título=Especial Raízes Afro-brasileiras|obra= [[BBC]] |data= maio de 2007}}</ref> Foram analisados o [[cromossomo Y]], herdado do pai, e o [[DNA mitocondrial]], herdado da mãe. Ambos permanecem intactos através de gerações porque não se misturam com outros materiais genéticos provenientes do pai ou da mãe, salvo as raras  [[mutação|mutações]] que podem ocorrer. O DNA mitocondrial de cada pessoa é herdado da sua mãe, e esta o herdou do ancestral materno mais distante (a mãe da mãe da mãe etc). Já o cromossomo Y, presente apenas nos homens, é herdado do pai, e este o herdou do ancestral paterno mais distante (o pai do pai do pai etc).
 
 
{| class="wikitable" style="float:right; margin:1em 0 1em 2em;"
 
|-
 
!colspan="4"|Miscigenação racial dos brasileiros<br /><small>''Valores arredondados provenientes de duas pesquisas independentes feitas respectivamente com brasileiros negros e com brasileiros brancos''</small>
 
|-
 
! style="width:110px;"| Lado || style="width:120px;"| Origem || style="width:75px;"| Negros Porc.(%)<ref name="DNANegro">{{Citar web |url=http://afrobras.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2112&Itemid=2 |título=DNA do Negro - Negros de Origem Européia}}</ref> || style="width:75px;"| Brancos Porc.(%)<ref name="scielo">{{Citar web |url=http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142004000100004&script=sci_arttext&tlng=en#tab06 |titulo=Estudos Avançados - Pode a genética definir quem deve se beneficiar das cotas universitárias e demais ações afirmativas?<!-- Titulo gerado automaticamente -->|acessodata=29 de dezembro de 2010 }}</ref>
 
|- style="text-align:right;"
 
| rowspan="3" style="text-align:left;"| Materno<br />([[DNA mitocondrial|DNAmt]])  || style="text-align:left;"| [[África subsaariana]] || 85% || 29%
 
|- style="text-align:right;"
 
| style="text-align:left;"| [[Europa|Européia]] ||  2,5% ||  38%
 
|- style="text-align:right;"
 
| style="text-align:left;"|[[Ameríndio|Ameríndia]] || 12,5% || 33%
 
|- style="text-align:right;"
 
| rowspan="3" style="text-align:left;"|Paterno<br />([[Cromossomo Y]]) || style="text-align:left;"|[[África subsaariana]] ||  48% ||  2%
 
|- style="text-align:right;"
 
| style="text-align:left;"| [[Europa|Européia]] || 50% || 98%
 
|- style="text-align:right;"
 
| style="text-align:left;"|[[Ameríndio|Ameríndia]] || 1,6% || 0%
 
|}
 
 
Esta pesquisa mostrou proporções quase iguais de pessoas com [[cromossomo Y]] provenientes da [[Europa]] (50%) e da [[África subsaariana]] (48%) no grupo de brasileiros negros que foi analisado. Com segurança pode-se afirmar que metade (50%) desta amostra de pretos brasileiros são descendentes de pelo menos um europeu homem. Por outro lado, esta pesquisa mostrou que no grupo de brasileiros e brasileiras pretos analisados, cerca de 85% das pessoas tinham [[DNA mitocondrial]] originado de uma antepassada da África subsaariana e 12,5% de uma [[Ameríndio|índia]].<ref name="DNANegro" />
 
 
Se o grupo analisado representa uma boa amostra da população brasileira, pode-se dizer que os brasileiros negros descendem pelo lado paterno tanto de europeus quanto de [[África subsaariana|africanos subsaarianos]], embora pelo lado materno sejam na maior parte descendentes de africanas subsaarianas (85%). Nota-se também que uma parte considerável (12,5%) deste grupo de brasileiros auto-declarados pretos é descendentes pelo lado materno de pelo menos uma ancestral [[Ameríndio|índia]].
 
 
[[Imagem:Daiane dos Santos 13072007.jpg|miniatura|150px|[[Daiane dos Santos]],
 
40,8% de ancestralidade europeia, 39,7% africana e 19,6% [[Ameríndio|ameríndia]] de acordo com um estudo de seu [[DNA]]]]
 
 
A mesma pesquisa genética também analisou a ancestralidade de brasileiros negros famosos. O resultado surpreendeu ao mostrar que pessoas auto-classificadas e consideradas pretas perante a sociedade apresentam alto grau de ancestralidade europeia. Alguns resultados obtidos foram:
 
 
* [[Daiane dos Santos]], atleta : 40,8% de genes europeus, 39,7% da [[África subsaariana]] e 19,6% [[ameríndio]]s;<ref>{{Citar web |url=http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/05/070409_dna_daiane_cg.shtml |título=Daiane dos Santos é 'protótipo da brasileira'. BBC.com}}</ref>
 
* [[Neguinho da Beija-Flor]], [[Samba|sambista]] : 67% de genes europeus e 32% da [[África subsaariana]];<ref>{{Citar web |url=http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/05/070424_dna_neguinho_cg.shtml |título=Neguinho da Beija-Flor tem mais gene europeu. BBC.com}}</ref>
 
* [[Ildi Silva]], atriz : 71,3% de genes europeus, 19,5% de genes da [[África subsaariana]] e 9,3% [[ameríndio]]s;<ref>{{Citar web |url=http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/05/070514_dna_ildisilva_cg.shtml |título=Ninguém sabe como me definir, diz atriz negra e '70% européia'. BBC.com}}</ref>
 
* [[Sandra de Sá]], cantora : 96,7% de genes da [[África subsaariana]];<ref>{{Citar web |url=http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/05/070423_dna_sandradesa_cg.shtml |título=Tenho orgulho de ser quase 100% africana. BBC.com}}</ref>
 
* [[Milton Nascimento]], compositor e cantor : 99,3% de genes da [[África subsaariana]].<ref>{{Citar web |url=http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/06/070531_dna_milton_cg.shtml |título=Milton Nascimento é '99,3% africano'. BBC.com}}</ref>
 
 
Outra pesquisa genética sugere que uma quantidade considerável de brasileiros brancos não carregam em si apenas DNA proveniente de povos europeus, tendo também DNA proveniente de índios e africanos, devido a miscigenação. Como esperado, o ancestral não europeu está mais comumente do lado materno. De acordo com essa pesquisa os brasileiros brancos seriam resultado mais da miscigenação com [[Ameríndio|índias]] do que com [[África subsaariana|africanas subsaarianas]], embora a diferença seja pequena.<ref name="scielo" /> (os resultados desta pesquisa foram colocados na mesma tabela com a pesquisa genética de brasileiros negros anteriormente mencionada) A mesma pesquisa permitiu comparar o grau de miscigenação dos brasileiros brancos com o de [[Estados Unidos|estadunidenses]] brancos, comprovando-se, como esperado, que os primeiros são mais miscigenados, embora também tenha havido miscigenação entre os segundos.<ref name="scielo" />
 
 
De acordo com esse mesmos estudo genético, 45% de todos os brasileiros, brancos e pretos, teriam cerca de 90% de [[gene]]s [[África subsaariana|africanos subsaarianos]]; e que cerca de 86% possuem 10% ou mais de [[gen]]es africanos subsaarianos. Mas esse próprio estudo admite que seus limites de confiança são amplos e foram feitos por extrapolação (extrapolação de 173 amostras de Queixadinha, Norte de Minas Gerais, para todo o Brasil): "Obviamente estas estimativas foram feitas por extrapolação de resultados experimentais com amostras relativamente pequenas e, conseqüentemente, têm limites de confiança bastante amplos".<ref name="scielo"/> Um outro estudo genético autossômico, também levado a cabo pelo geneticista brasileiro [[Sérgio Pena]], em 2011, e contando  com aproximadamente 1000 amostras de todas as regiões do país, "negros", "pardos" e "brancos" (de acordo com suas respectivas proporções na população brasileira), concluiu que: "Em todas as regiões estudadas, a ancestralidade europeia foi a predominante, com proporções variando de 60,60% no Nordeste a 77,70%  no Sul do país". A ancestralidade africana encontra-se presente em grau alto em todas as regiões do Brasil. E a indígena, em grau menor, também encontra-se presente em todas as regiões do Brasil. Os "negros" possuem significativo grau de ancestralidade europeia e, em menor grau, ancestralidade indígena.<ref name="ReferenceB"/> Esse estudo foi realizado com base em doadores de sangue, sendo que a maior parte dos doadores de sangue no Brasil vêm das classes mais baixas (além de enfermeiros e demais pessoas que laboram em entidades de saúde pública, representando bem, assim, a população brasileira).<ref>{{citar web|url=http://www.amigodoador.com.br/estatisticas.html|título=Seja um amigo doador - Estatísticas sobre os doadores de sangue|primeiro=iSee|último=Comunicação|website=www.amigodoador.com.br|acessodata=26 de Agosto de 2016|arquivourl=https://web.archive.org/web/20120502213529/http://www.amigodoador.com.br/estatisticas.html|arquivodata=2 de Maio de 2012|urlmorta=yes}}</ref>
 
 
De acordo com um estudo genético autossômico feito em 2010 pela [[Universidade Católica de Brasília]] e publicado no American Journal of Human Biology, a herança genética europeia é a predominante no Brasil, sendo que no sul esse percentual é mais alto.<ref name=autogenerated3>{{Citar web |url=http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u633465.shtml |título= DNA de brasileiro é 80% europeu, indica estudo|autor= Reinaldo José Lopes|obra= Folha de S. Paulo|data= 05/10/2009 |acessodata=29 de dezembro de 2010}}</ref> Esse estudo se refere à população brasileira como um todo: "Um novo retrato das contribuições de cada etnia para o DNA dos brasileiros, obtido com amostras das cinco regiões do país, indica que, em média, ancestrais europeus respondem por quase 80% da herança genética da população. A variação entre regiões é pequena, com a possível exceção do Sul, onde a contribuição europeia chega perto dos 90%. Os resultados, publicados na revista científica "American Journal of Human Biology" por uma equipe da Universidade Católica de Brasília, dão mais peso a resultados anteriores, os quais também mostravam que, no Brasil, indicadores de aparência física como cor da pele, dos olhos e dos cabelos têm relativamente pouca relação com a ascendência de cada pessoa.<ref name=autogenerated3/>
 
Outro estudo genético autossômico recente, de 2009, também indica que a ancestralidade Européia é mais importante, seguida da Africana, e depois da Ameríndia. "Todas as amostras (regiões) encontram-se mais perto dos Europeus do que dos Africanos ou dos Mestizos do México", do ponto de vista genético.<ref name=autogenerated5>{{Citar web |url=http://www.alvaro.com.br/pdf/trabalhoCientifico/ARTIGO_BRASIL_LILIAN.pdf |titulo=Allele frequencies of 15 STRs in a representative sample of the Brazilian population<!-- Titulo gerado automaticamente --> |acessodata=29 de dezembro de 2010 |arquivourl=https://www.webcitation.org/5xmleMZgv?url=http://www.alvaro.com.br/pdf/trabalhoCientifico/ARTIGO_BRASIL_LILIAN.pdf |arquivodata=8 de Abril de 2011 |urlmorta=yes }}</ref>
 
 
De acordo com um estudo autossômico realizado em 2008, pela UnB, a população brasileira é formada pelos componentes Europeu, Africano, e Indígena, com as seguintes proporções: 65,90% de contribuição européia, 24,80% de contribuição africana e 9,30% de contribuição indígena.<ref>{{citar web|url=http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/5542/1/2008_NeideMOGodinho.pdf|título="O impacto das migrações na constituição genética de populações latino-americana"|website=unb.br}}</ref>
 
 
Um estudo genético de 2013, com base em populações urbanas de várias partes do Brasil, chegou à seguinte conclusão: "seguindo um gradiente Norte Sul, a ancestralidade europeia foi a principal em todas as população urbanas (com valores até 74%). As populações do Norte têm proporção significativa de ancestralidade indígena que é duas vezes maior do que a contribuição africana. No Nordeste, Centro Oeste e Sudeste, a ancestralidade africana foi a segunda mais importante. Todas as populações estudadas são no geral miscigenadas, sendo a variação maior entre indivíduos do que entre populações".<ref name="ReferenceA">[http://www.plosone.org/article/fetchObject.action?uri=info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0075145&representation=PDF]</ref>
 
 
Um estudo genético de 2015, o qual também analisou dados de 25 estudos de 38 diferentes populações brasileiras concluiu que: a ancestralidade europeia é quem mais contribuiu para a ancestralidade dos brasileiros, seguida da ancestralidade africana, e ameríndia. O percentual encontrado foi: 62% de contribuição europeia, 21% africana e 17% indígena. A região sul tem o maior percentual de ancestralidade europeia (77%). A região nordeste tem o maior percentual de contribuição africana (27%). E a região norte tem o maior percentual de contribuição indígena (32%).<ref>{{citar periódico|url=http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ajhb.22714/abstract|título=Meta-analysis of Brazilian genetic admixture and comparison with other Latin America countries|primeiro1 =Ronald|último1 =Rodrigues de Moura|primeiro2 =Antonio Victor Campos|último2 =Coelho|primeiro3 =Valdir|último3 =de Queiroz Balbino|primeiro4 =Sergio|último4 =Crovella|primeiro5 =Lucas André Cavalcanti|último5 =Brandão|data=10 de setembro de 2015|periódico=American Journal of Human Biology|volume=27|número=5|páginas=674–680|via=Wiley Online Library|doi=10.1002/ajhb.22714}}</ref>
 
 
O povo Brasileiro é, em verdade, o resultado do encontro de Europeus, Africanos e Indígenas: "A correlação entre cor e ancestralidade genômica é imperfeita: ao nível individual não se pode prever com segura a cor da pele ou seu nível de ancestralidade Européia, Africana e Ameríndia nem o oposto. Independentemente da sua cor de pele, a grande maior parte dos Brasileiros possui um nível de ancestralidade Européia muito alto. Também, independentemente de sua cor de pele, a maior parte dos Brasileiros possui um grau significativo de ancestralidade Africana. Finalmente, a maior parte dos Brasileiros têm um grau significativo e muito uniforme de ancestralidade Indígena. A alta variabilidade observada em Brancos e Negros sugere que cada Brasileiro possui uma proporção única e singular de ancestralidades Européia, Africana e Indígena. Assim, a única maneira de se lidar com os Brasileiros não é considerando eles como membros de categorias segundo a cor da pele, mas sim em uma base de pessoa para pessoa, como 190 milhões de seres humanos com um genoma e histórias de vida singulares".<ref>{{Citar web |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-879X2009001000001 |titulo=Brazilian Journal of Medical and Biological Research - DNA tests probe the genomic ancestry of Brazilians<!-- Titulo gerado automaticamente -->|acessodata=29 de dezembro de 2010 }}</ref>
 
 
=== No Sudeste ===
 
De acordo com um estudo autossômico de 2009, as heranças europeia e africana são as mais importantes. A composição do Sudeste foi assim encontrada, de acordo com um estudo de 2009: 60.7% europeia, ''32.0% africana'' 7.3% ameríndia.<ref name="ncbi.nlm.nih.gov">{{citar periódico|url=http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20129458|título=Allele frequencies of 15 STRs in a representative sample of the Brazilian population|primeiro1 =Lilian|último1 =de Assis Poiares|primeiro2 =Paulo|último2 =de Sá Osorio|primeiro3 =Fábio Alexandre|último3 =Spanhol|primeiro4 =Sidnei César|último4 =Coltre|primeiro5 =Rodrigo|último5 =Rodenbusch|primeiro6 =Leonor|último6 =Gusmão|primeiro7 =Alvaro|último7 =Largura|primeiro8 =Fabiano|último8 =Sandrini|primeiro9 =Cláudia Maria Dornelles|último9 =da Silva|data=1 de fevereiro de 2010|periódico=Forensic Science International. Genetics|volume=4|número=2|páginas=e61–63|via=PubMed|doi=10.1016/j.fsigen.2009.05.006|pmid=20129458}}</ref> Um estudo genético realizado em 2010<ref name="onlinelibrary.wiley.com">{{citar periódico|url=http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ajhb.20976/abstract|título=Genetic composition of Brazilian population samples based on a set of twenty-eight ancestry informative SNPs|primeiro1 =Tulio C.|último1 =Lins|primeiro2 =Rodrigo G.|último2 =Vieira|primeiro3 =Breno S.|último3 =Abreu|primeiro4 =Dario|último4 =Grattapaglia|primeiro5 =Rinaldo W.|último5 =Pereira|data=1 de março de 2010|periódico=American Journal of Human Biology|volume=22|número=2|páginas=187–192|via=Wiley Online Library|doi=10.1002/ajhb.20976}}</ref> encontrou a seguinte composição: 79,90% de contribuição europeia, ''14,10% de contribuição africana'' e 6,10% de contribuição indígena. Já de acordo com outro estudo genético de 2011, a composição do Sudeste é a seguinte:<ref name="ReferenceB">{{citar periódico|url=http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0017063|título=The Genomic Ancestry of Individuals from Different Geographical Regions of Brazil Is More Uniform Than Expected|primeiro1 =Sérgio D. J.|último1 =Pena|primeiro2 =Giuliano Di|último2 =Pietro|primeiro3 =Mateus|último3 =Fuchshuber-Moraes|primeiro4 =Julia Pasqualini|último4 =Genro|primeiro5 =Mara H.|último5 =Hutz|primeiro6 =Fernanda de Souza Gomes|último6 =Kehdy|primeiro7 =Fabiana|último7 =Kohlrausch|primeiro8 =Luiz Alexandre Viana|último8 =Magno|primeiro9 =Raquel Carvalho|último9 =Montenegro|primeiro10 =Manoel Odorico|último10 =Moraes|primeiro11 =Maria Elisabete Amaral de|último11 =Moraes|primeiro12 =Milene Raiol de|último12 =Moraes|primeiro13 =Élida B.|último13 =Ojopi|primeiro14 =Jamila A.|último14 =Perini|primeiro15 =Clarice|último15 =Racciopi|primeiro16 =Ândrea Kely Campos|último16 =Ribeiro-dos-Santos|primeiro17 =Fabrício|último17 =Rios-Santos|primeiro18 =Marco A.|último18 =Romano-Silva|primeiro19 =Vinicius A.|último19 =Sortica|primeiro20 =Guilherme|último20 =Suarez-Kurtz|data=16 de fevereiro de 2011|periódico=PLOS ONE|volume=6|número=2|páginas=e17063|via=PLoS Journals|doi=10.1371/journal.pone.0017063}}</ref> 74,20% de contribuição europeia, ''17,20% de contribuição africana'' e 7,30% de contribuição indígena. Um estudo genético mais recente, de 2013,<ref name="ReferenceA"/>  por sua vez, encontrou os seguintes resultados: 61% de contribuição europeia, ''27% de contribuição africana'' e 12% de contribuição indígena.
 
 
Um estudo genético de 2009 revelou que 'brancos', 'pardos' e 'negros', no [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]], possuem, no geral, as três ancestralidades, sendo o componente africano mais importante nos 'negros', embora também presente nos 'brancos' e em grau significativo nos 'pardos'.<ref name="laboratoriogene.com.br">{{Citar web |url=http://www.laboratoriogene.com.br/geneImprensa/2009/pensamento.pdf |titulo=Cópia arquivada |acessodata=27 de Janeiro de 2010 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20140522233206/http://www.laboratoriogene.com.br/geneImprensa/2009/pensamento.pdf |arquivodata=22 de Maio de 2014 |urlmorta=yes }}</ref>
 
 
{| class="wikitable" style="border:1px black; float:right; margin-left:1em;"
 
|-
 
! style="background:#f99;" colspan="5"|Ancestralidade genômica de indivíduos não relacionados no Rio de Janeiro"<ref name="laboratoriogene.com.br"/>
 
|-
 
|Cor||Número de indivíduos||ameríndio||africano||europeu
 
|-
 
|Branco||107||6.7%||''6.9%''||86.4%
 
|-
 
|Pardo||119||8.3%||''23.6%''||68.1%
 
|-
 
|Preto||109||7.3%||''50.9%''||41.8%
 
|}
 
 
De acordo com um estudo genético de 2011,<ref name="ReferenceB"/>  a composição genética do Rio de Janeiro seria: 18,9% de contribuição africana, 73,70% de contribuição europeia e 7,4% de contribuição indígena.
 
 
Um estudo genético mais recente, de 2013,<ref name="ReferenceA"/>  encontrou a seguinte composição para o Rio de Janeiro: ''31,10%'' de contribuição africana, 55,20% de contribuição europeia e 13,70% de contribuição indígena.
 
 
Um estudo de ancestralidade autôssomica, de 2009, em escola pública objeto da pesquisa, em Nilópolis, Baixada Fluminense verificou que a auto declarada ancestralidade e a ancestralidade real não estão bem correlacionadas no Brasil. Pessoas que se autoidentificaram como "pretas" nesse estudo, em média, acusaram ancestralidade em torno de 52% europeia, africana 41% e ameríndia 4%. Pessoas que se autoidentificaram como pardas revelaram ancestralidade, em média, 80% europeia, 12% africana e 8% ameríndia. Os pardos se achavam quase 1/3 ameríndios, 1/3 africanos e 1/3 europeus, e, no entanto, sua ancestralidade européia foi superior a 80%". Os brancos praticamente não apresentaram grau de miscigenação significativo. A maior parte dos brancos registrou ancestralidade européia superior a 90%, e 1/3 dos pardos também revelou ancestralidade superior a 90%. Pardos e negros revelaram ancestralidade europeia superior àquela que imaginavam ter<ref>{{citar web
 
|url        = http://www.laboratoriogene.com.br/geneImprensa/2009/pensamento.pdf
 
|titulo      = pensamento.pdf (objeto application/pdf)
 
|publicado  = www.laboratoriogene.com.br
 
|acessodata  = 22 de junho de 2011
 
|arquivourl  = https://web.archive.org/web/20140522233206/http://www.laboratoriogene.com.br/geneImprensa/2009/pensamento.pdf
 
|arquivodata = 22 de Maio de 2014
 
|urlmorta    = yes
 
}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.meionews.com.br/index.php/noticias/21-estado-do-rio/4607-negros-e-pardos-do-rio-tem-mais-genes-europeus-do-que-imaginam-segundo-estudo.html |titulo=Negros e pardos do Rio têm mais genes europeus do que imaginam, segundo estudo<!-- Titulo gerado automaticamente --> |acessodata=29 de dezembro de 2010 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20110706153557/http://www.meionews.com.br/index.php/noticias/21-estado-do-rio/4607-negros-e-pardos-do-rio-tem-mais-genes-europeus-do-que-imaginam-segundo-estudo.html |arquivodata=6 de Julho de 2011 |urlmorta=yes }}</ref>
 
 
Em São Paulo, tanto brancos como negros apresentam grande ancestralidade africana. Um estudo encontrou média de 25% de ancestralidade africana nos "brancos" da cidade de São Paulo (entre 18-31%), e 65% nos "pretos" da mesma cidade (entre 55-76%).<ref name=autogenerated4>{{Citar web |url=http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59702005000200006&script=sci_arttext |titulo=História, Ciências, Saúde-Manguinhos - Reasons for banishing the concept of race from Brazilian medicine<!-- Titulo gerado automaticamente -->|acessodata=29 de dezembro de 2010 }}</ref> Em [[Campinas]], um estudo encontrou ancestralidade 45% africana, 41% europeia e 14% indígena em pessoas com hemoglobina S (mais prevalente em africanos e seus descendentes). Este mesmo estudo revelou que em apenas 53% dos indivíduos a sua ancestralidade africana era visível no fenótipo.<ref>{{Citar web |url=http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-84842006000100017&script=sci_arttext |titulo=Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia - The complexity of racial admixture in Brazil: hemoglobin S as an ethnic marker in its population<!-- Titulo gerado automaticamente -->|acessodata=29 de dezembro de 2010 }}</ref>
 
 
De acordo com um estudo genético sobre a população do [[estado de São Paulo]], de 2006, a contribuição africana seria de 14%, a europeia de 79% e a indígena 7%. Já de acordo com outro estudo mais recente, de 2013, o grau de contribuição africana foi estimado em 25,5%, o europeu em 61,9% e o indígena em 11,6%.<ref name="plosone1"/>
 
 
Um estudo genético realizado com pessoas de Belo Horizonte revelou que a ancestralidade dos belo-horizontinos é 66% europeia, 32% africana e 2% indígena. Por outro lado, na localidade de Marinhos, habitada principalmente por [[quilombola]]s , a ancestralidade é 59% africana, 37% europeia e 4% indígena (para aqueles cuja família vive na localidade desde o início do {{séc|XX}}, a ancestralidade africana sobe para 81%).<ref name="livrosgratis.com.br">[http://www.livrosgratis.com.br/arquivos_livros/cp065489.pdf]</ref> De maneira geral, os mineiros apresentam muito baixo grau de ancestralidade indígena, enquanto a ancestralidade europeia (principalmente portuguesa) e africana predominam. Isto se deve ao fato de que a população indígena foi exterminada, ao mesmo tempo que chegavam à região contingentes enormes de escravos africanos e colonos portugueses, diluindo a contribuição indígena na população. Em relação ao componente europeu (português), apesar de ter sido numericamente inferior ao componente africano, o primeiro acabou por predominar, devido às altas taxas de mortalidade e baixos índices de reprodução entre os escravos. A própria imigração de italianos e outros europeus para Minas Gerais no final do {{séc|XIX}} contribuiu para aumentar o grau de ancestralidade europeia.<ref name="dominiopublico.gov.br">[http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp057440.pdf]</ref>
 
 
Vários outros estudos genéticos já foram feitos contemplando diferentes grupos raciais e geográficos de Minas Gerais. De maneira geral, todos os estudos concluem que a população de Minas Gerais é intensamente miscigenada, sendo a ancestralidade europeia alta, seguida pela africana e, menos importante, a indígena. Poucos mineiros têm ancestralidade predominantemente europeia ou africana, a maioria tem mistura significativa de ambas as origens. Em um estudo genético, 13,8% dos mineiros portadores de anemia falciforme testados tinham mais de 85% de ancestralidade europeia e 11,05% dos portadores de anemia falciforme tinham mais de 85% de ancestralidade africana. A maioria deles, 73,37%, apresentou níveis intermediários de mistura (entre 15 e 85%).<ref name="genetico2"/> Isso também acontece em quase todas as regiões do Brasil, segundo outros estudos.<ref name="ReferenceB"/><ref name="ReferenceC">{{citar periódico|ultimo=|primeiro=|primeiro2=Rui|primeiro3=Romulo|primeiro4=Alfredo|primeiro5=Daniel|primeiro6=Dayse|primeiro7=Eldamária|primeiro8=Isabel|primeiro9=José|data=20 de setembro de 2013|título=Revisiting the Genetic Ancestry of Brazilians Using Autosomal AIM-Indels|url=http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3779230/|periódico=PLoS ONE|volume=8|doi=10.1371/journal.pone.0075145|pmc=3779230|pmid=24073242|acessodata=|via=PubMed Central|primeiro1=Fernanda|último1=Saloum de Neves Manta|último2=Pereira|último3=Vianna|último4=Rodolfo Beuttenmüller de Araújo|último5=Leite Góes Gitaí|último6=Aparecida da Silva|último7=de Vargas Wolfgramm|último8=da Mota Pontes|último9=Ivan Aguiar|primeiro10=Milton|último10=Ozório Moraes|primeiro11=Elizeu|último11=Fagundes de Carvalho|primeiro12=Leonor|último12=Gusmão|número=9}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3873 |titulo=Cópia arquivada |acessodata=2010-10-15 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20110706000000/http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3873 |arquivodata=2011-07-06 |urlmorta=yes }}</ref><ref name="genetico3">{{citar periódico|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-40142004000100004&lng=en&nrm=iso&tlng=pt|título=Pode a genética definir quem deve se beneficiar das cotas universitárias e demais ações afirmativas?|primeiro1 =Sérgio D. J.|último1 =Pena|primeiro2 =Maria Cátira|último2 =Bortolini|data=1 de abril de 2004|periódico=Estudos Avançados|volume=18|número=50|páginas=31–50|via=SciELO|doi=10.1590/S0103-40142004000100004}}</ref>
 
 
{| class="wikitable"
 
|-
 
! colspan="4" | Diferentes estudos genéticos estimando a contribuição africana, europeia e ameríndia em Minas Gerais.
 
|-
 
!'''Origem da amostra'''
 
!'''Africana'''
 
!'''Europeia'''
 
!'''Ameríndia'''
 
|-
 
| [[Ouro Preto]] (todas as cores/"raças")<ref name="genetico1">http://www.funpecrp.com.br/gmr/year2013/vol12-4/pdf/gmr3257.pdf</ref>
 
| ''33,3%''
 
| 50,3%
 
| 16,4
 
|-
 
| [[Ouro Preto]] (brancos)<ref name="genetico1"/>
 
| ''18,0%''
 
| 70,4%
 
| 11,6%
 
|-
 
| [[Ouro Preto]] (morenos claros)<ref name="genetico1"/>
 
| ''31,4%''
 
| 52,1%
 
| 16,4%
 
|-
 
| [[Ouro Preto]] (morenos escuros)<ref name="genetico1"/>
 
| ''47,6%''
 
| 33,6%
 
| 18,8%
 
|-
 
| [[Ouro Preto]] (negros)<ref name="genetico1"/>
 
| ''67,1%''
 
| 16,6%
 
| 16,4%
 
|-
 
| Minas Gerais (portadores de anemia falciforme)<ref name="genetico2">{{citar periódico|ultimo=|primeiro=|primeiro2=Luciana W.|primeiro3=Flavia C.|primeiro4=Giordano B.|primeiro5=Zilma M.|primeiro6=Sérgio D.J.|primeiro7=Marina L.|primeiro8=Eduardo|data=20 de outubro de 2011|título=Extensive admixture in Brazilian sickle cell patients: implications for the mapping of genetic modifiers|url=http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3204916/|periódico=Blood|volume=118|páginas=4493–4495|doi=10.1182/blood-2011-06-361915|pmc=3204916|pmid=22021456|acessodata=|via=PubMed Central|primeiro1=Maria Clara F.|último1=da Silva|último2=Zuccherato|último3=Lucena|último4=Soares-Souza|último5=Vieira|último6=Pena|último7=Martins|último8=Tarazona-Santos|número=16}}</ref>
 
| ''47,3%''
 
| 39,7%
 
| 13,0%
 
|-
 
| Minas Gerais (não portadores de anemia falciforme)<ref name="genetico2"/>
 
| ''33,8%''
 
| 57,7%
 
| 3,5%
 
|-
 
| Queixadinha, [[Caraí]] (brancos)<ref name="genetico3"/>
 
| ''32,0%''
 
| ?
 
| ?
 
|-
 
| Queixadinha, [[Caraí]] (pardos)<ref name="genetico3"/>
 
| ''44,0%''
 
| ?
 
| ?
 
|-
 
| Queixadinha, [[Caraí]]  (pretos)<ref name="genetico3"/>
 
| ''51%''
 
| ?
 
| ?
 
|-
 
| Minas Gerais (brancos)<ref name="genetico4">{{citar web|url=http://www.scielo.br/img/revistas/bjmbr/v42n10/html/7913t01.htm|título=7913t01|website=www.scielo.br}}</ref>
 
| ''16,1%''
 
| 70,8%
 
| 13,1
 
|-
 
| Minas Gerais (cores/"raças" não especificadas)<ref name="plosone1">{{citar periódico|url=http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0075145|título=Revisiting the Genetic Ancestry of Brazilians Using Autosomal AIM-Indels|primeiro1 =Fernanda Saloum de Neves|último1 =Manta|primeiro2 =Rui|último2 =Pereira|primeiro3 =Romulo|último3 =Vianna|primeiro4 =Alfredo Rodolfo Beuttenmüller de|último4 =Araújo|primeiro5 =Daniel Leite Góes|último5 =Gitaí|primeiro6 =Dayse Aparecida da|último6 =Silva|primeiro7 =Eldamária de Vargas|último7 =Wolfgramm|primeiro8 =Isabel da Mota|último8 =Pontes|primeiro9 =José Ivan|último9 =Aguiar|primeiro10 =Milton Ozório|último10 =Moraes|primeiro11 =Elizeu Fagundes de|último11 =Carvalho|primeiro12 =Leonor|último12 =Gusmão|data=20 de setembro de 2013|periódico=PLOS ONE|volume=8|número=9|páginas=e75145|via=PLoS Journals|doi=10.1371/journal.pone.0075145}}</ref>
 
| ''28,9%''
 
| 59,2%
 
| 11,9%
 
|-
 
| [[Montes Claros]] (cores/"raças" não especificadas)<ref name="genetico7">http://www.funpecrp.com.br/gmr/year2010/vol9-4/pdf/gmr911.pdf</ref>
 
| ''39,0%''
 
| 52,0%
 
| 9,0%
 
|-
 
| [[Manhuaçu]] (cores/"raças" não especificadas)<ref name="genetico7"/>
 
| ''19,0%''
 
| 73,0%
 
| 8,0%
 
|-
 
| [[Belo Horizonte]] (cores/"raças" não especificadas)<ref name="genetico6">http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp057440.pdf</ref{{Ligação inativa|data=dezembro de 2019 }}</ref>
 
| ''32,0%''
 
| 66%
 
| 2,0%
 
|-
 
| Marinhos, [[Brumadinho]] <ref name="livrosgratis.com.br"/><ref name="dominiopublico.gov.br"/><ref name="genetico7"/><ref>{{Citar web |url=http://marinhoscomunidadequilombola.blogspot.com/ |titulo=Cópia arquivada |acessodata=1 de Fevereiro de 2014 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20131230235641/http://marinhoscomunidadequilombola.blogspot.com/ |arquivodata=30 de Dezembro de 2013 |urlmorta=yes }}</ref>
 
| ''59,0%''
 
| 37,0%
 
| 3,7%
 
|}
 
 
=== No Nordeste ===
 
De acordo com um estudo genético autossômico de 2009, a herança Européia é a dominante no Nordeste, respondendo por 66,70% da população, o restante sendo africano (23,30%) e ameríndio (10%). O Nordeste encontra-se, assim, então constituído: 66,70% Europeu, 23,30% Africano e 10% Ameríndio.<ref name=autogenerated5 />
 
 
De acordo com um estudo genético de 2011, "em todas as regiões estudadas, a ancestralidade Européia foi a predominante, com proporções variando de 60,60% no Nordeste a 77,70%  no Sul do país".
 
 
De acordo com um estudo genético realizado em 1965, pelos pesquisadores norte-americanos D. F. Roberts e R. W. Hiorns, "Methods of Analysis of a Hybrid Population" (em Human Biology, vol. 37, number 1), a ancestralidade média do nordestino é predominantemente europeia (grau por volta de 65%), com contribuições menores, mas importantes, da África e dos indígenas brasileiros (25% e 9% respectivamente).<ref>{{Citar web |url=http://prossiga.bvgf.fgf.org.br/portugues/obra/opusculos/brasileiro_nacional.html |titulo=Cópia arquivada |acessodata=1 de Março de 2012 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20120331094604/http://prossiga.bvgf.fgf.org.br/portugues/obra/opusculos/brasileiro_nacional.html |arquivodata=31 de Março de 2012 |urlmorta=yes }}</ref>
 
 
De acordo com um estudo genético (DNA autossômico) de 2011, [[pardos]] e [[brancos]] de [[Fortaleza]] possuem ancestralidade africana, e também indígena, mas a herança europeia responde por mais de 70% da ancestralidade tanto de "pardos" como de "brancos".<ref name="ReferenceB"/>
 
 
De acordo com um estudo genético de 2005, em [[São Luís do Maranhão]] a contribuição africana para a população foi estimada em 19%. A europeia, 42; e a indígena, 39%<ref>{{citar periódico|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1415-47572005000100004&lng=en&nrm=iso&tlng=en|título=Genetic characterization of the population of São Luís, MA, Brazil|primeiro1 =Francileide Lisboa|último1 =Ferreira|primeiro2 =Emygdia Rosa|último2 =Leal-Mesquita|primeiro3 =Sidney Emanuel Batista dos|último3 =Santos|primeiro4 =Ândrea Kely Campos|último4 =Ribeiro-dos-Santos|data=1 de março de 2005|periódico=Genetics and Molecular Biology|volume=28|número=1|páginas=22–31|via=SciELO|doi=10.1590/S1415-47572005000100004}}</ref>
 
 
Um estudo genético realizado no [[Recôncavo baiano]] confirmou o alto grau de ancestralidade africana na região. Foram analisadas pessoas da área urbana dos municípios de [[Cachoeira (Bahia)|Cachoeira]] e [[Maragojipe]], além de [[quilombola]]s da área rural de Cachoeira. A ancestralidade africana foi de 80,4%, a europeia 10,8% e a indígena 8,8%.<ref>{{Citar web |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47572010000300002 |titulo=Genetics and Molecular Biology - β-globin haplotypes in normal and hemoglobinopathic individuals from Reconcavo Baiano, State of Bahia, Brazil<!-- Titulo gerado automaticamente -->|acessodata=29 de dezembro de 2010 }}</ref> Em [[Salvador (Bahia)|Salvador]] a ancestralidade predominante é africana (49,2%), seguida pela europeia (36,3%) e indígena (14,5%). O estudo também concluiu que soteropolitanos que possuem sobrenome com conotação religiosa tendem a ter maior grau de ancestralidade africana (54,9%) e a pertencer a classes sociais menos favorecidas.<ref>{{citar conferência|ultimo=Machado|primeiro=TMB|ultimo2=Bomfim|primeiro2=TF|ultimo3=Galvão-Castro|primeiro3=B|ultimo4=Abé-Sandes|primeiro4=K|titulo=Ancestralidade genômica e tipos de sobrenomes em Salvador-BA|local=Salvador, BA|url=http://web2.sbg.org.br/congress/sbg2008/pdfs2008/23959.pdf|urlmorta=yes|jornal=54º Congresso Brasileiro de Genética|data=setembro de 2008|publicado=Sociedade Brasileira de Genética|isbn=978-85-89109-06-2|arquivourl=https://web.archive.org/web/20110426180856/http://web2.sbg.org.br/congress/sbg2008/pdfs2008/23959.pdf|arquivodata=26 de Abril de 2011|acessodata=22 de junho de 2011}}</ref>
 
 
Nas capitais nordestinas analisadas (assim como no Nordeste em geral) a ancestralidade africana é expressiva em todas elas, embora a Européia seja a principal, na maior parte delas, e na região Nordeste como um todo. Sem especificar a cor das pessoas analisadas, para a população de [[Aracaju]] chegou-se a um índice de 62% de ancestralidade europeia, 34% africana e 4% indígena.<ref name=autogenerated2>{{citar web
 
|url        = http://www.fhuce.edu.uy/antrop/cursos/abiol/links/Artics/sans.pdf
 
|titulo      = sans.pdf (objeto application/pdf)
 
|publicado  = www.fhuce.edu.uy
 
|acessodata  = 22 de junho de 2011
 
|arquivourl  = https://web.archive.org/web/20110717090819/http://www.fhuce.edu.uy/antrop/cursos/abiol/links/Artics/sans.pdf
 
|arquivodata = 17 de Julho de 2011
 
|urlmorta    = yes
 
}}</ref>
 
 
Para a população de [[Natal (Rio Grande do Norte)|Natal]], também sem especificar a cor dos pesquisados, de acordo com um estudo antigo baseado em polimorfismos sanguíneos encontrou a seguinte composição: ancestralidade encontrada foi 58% europeia, 25% africana e 17% indígena.<ref>{{Citar web |url=http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7114199 |titulo=Blood polymorphisms and racial admixture in two Br... [Am J Phys Anthropol. 1982&#93; - PubMed result<!-- Titulo gerado automaticamente -->|acessodata=29 de dezembro de 2010 }}</ref> Já a ancestralidade de migrantes nordestinos que moram em [[São Paulo (estado)|São Paulo]] é 59% europeia, 30% africana e 11% indígena.<ref name=autogenerated2 /> Segundo outro estudo, de 1997, para toda a população nordestina, a ancestralidade estimada seria de 51% europeia, 36% africana e 13% indígena.<ref>{{citar web
 
|url=http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC140919/#B28
 
|titulo=Color and genomic ancestry in Brazilians
 
|publicado=www.ncbi.nlm.nih.gov
 
|acessodata=22 de junho de 2011
 
}}</ref>
 
 
De acordo com um estudo genético de 2013, a composição genética da população de Pernambuco é 56,8% europeia, ''27,9% africana'' e  15,3% ameríndia.<ref name="ReferenceC"/>
 
 
De acordo com um estudo genético de 2013, a composição genética da população de Alagoas é 54,7% europeia,  ''26,6% africana'' e 18,7% ameríndia.<ref name="ReferenceC"/>
 
 
=== No Sul ===
 
De acordo com um estudo genético autossômico feito em 2010 pela Universidade Católica de Brasília e publicado no American Journal of Human Biology, a herança genética europeia é a predominante no Brasil, respondendo por volta de 80% do total, sendo que no Sul esse percentual é mais alto e chega a 90%.<ref name=autogenerated3 /> Assim, a ancestralidade Européia é a principal no Sul, e a Africana significativa, assim como a Ameríndia.
 
 
De acordo com outro estudo genético autossômico de 2009, a herança Européia é, sim, a dominante no Sul do país, respondendo por 81,50% do total, o restante sendo Ameríndio (9,2%) e Africano (9,3%).<ref name=autogenerated5 />
 
 
Estudos genéticos realizado no estado do [[Paraná]] entre "afrodescendentes" (negros ou mulatos de diferentes tom de pele) mostram que o grau de mistura é muito variável. Os "mulatos claros" ou "mulatos médios" apresentam grau semelhante de ancestralidade africana e europeia (44% europeia, 42% africana e 14% indígena). Por sua vez, os "mulatos escuros" ou "negros" do Paraná são predominantemente africanos, sendo a ancestralidade 72% africana, 15% europeia e 6% indígena. Mesmo entre os "brancos" do Paraná, os índices de ancestralidade africana são expressivos, porém bastante variáveis, indo desde um mínimo de 3% em um estudo, a um máximo de 17% em outro.
 
 
=== No Norte ===
 
Na região Norte a contribuição africana também é importante, junto com as ancestralidades europeia e indígena.
 
 
De acordo com um estudo autossômico de 2009, a composição da região Norte seria a seguinte: 60.6% europeia, ''21.3% africana'' e 18.1% ameríndia.<ref name="ncbi.nlm.nih.gov"/> Um estudo genético realizado em 2010<ref name="onlinelibrary.wiley.com"/> encontrou a seguinte composição: 71,10% de contribuição europeia, ''18,20% de contribuição africana'' e 10,70% de contribuição indígena.
 
 
Já de acordo com outro estudo genético de DNA autossômico (de 2011), a composição do Norte é a seguinte:<ref name="ReferenceB"/> 68,8% de contribuição europeia, ''10,5% de contribuição africana'' e 18,50% de contribuição indígena.
 
 
Um estudo genético de DNA autossômico mais recente, de 2013,<ref name="ReferenceA"/>  por sua vez, encontrou os seguintes resultados: 51% de contribuição europeia, ''17% de contribuição africana'' e 32% de contribuição indígena.
 
 
De acordo com o estudo genético de 2011, a composição genética da população de [[Belém (Pará)|Belém]] é 69,70% europeia, ''10,90% africana'' e 19,40% ameríndia.<ref>{{Citar web|url=http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0017063| titulo=The Genomic Ancestry of Individuals from Different Geographical Regions of Brazil Is More Uniform Than Expected|publicado = Plasone.org|acessodata=21 de abril de 2012}}</ref> Já de acordo com o estudo genético de 2013, a composição genética da população de [[Belém (Pará)|Belém]] é 53,70% europeia, ''16,80% africana'' e 29,50% indígena.<ref name="ReferenceA"/>
 
 
De acordo, também, com o estudo genético de 2013, a ancestralidade dos habitantes de [[Manaus]] é 45,9% europeia, 37,8% indígena e ''16,3% africana''.<ref name="plosone1"/> De outro lado, de acordo com o mesmo estudo, a ancestralidade dos habitantes de [[Santa Isabel do Rio Negro]], comunidade isolada no norte do estado do [[Amazonas]], é 75,80% indígena, ''7,4% africana'' e 16,80% europeia.<ref name="ReferenceA"/>
 
 
=== No Centro-Oeste ===
 
De acordo com estudos autossômicos realizados, a Ancestralidade Africana responde por 21,70% da herança da população no Centro Oeste. A Européia, 66,30%; e a Indígena, 12,00%.<ref name=autogenerated5 /><ref>{{Citar web |url=http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3873 |titulo=Untitled Document<!-- Titulo gerado automaticamente --> |acessodata=29 de dezembro de 2010 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20110706162307/http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/tde_arquivos/36/TDE-2008-08-21T100337Z-3085/Publico/2008_NeideMOGodinho.pdf |arquivodata=6 de Julho de 2011 |urlmorta=yes }}</ref>
 
 
=== Comunidades quilombolas ===
 
Estudos genéticos realizados em quilombos (comunidades formadas por descendentes de escravos) têm revelado que a ancestralidade africana predomina na maioria deles, embora seja bem significativo a presença de elementos de origem europeia e indígena nessas comunidades. Isso mostra que os quilombos não foram povoados apenas por africanos, mas também por pessoas de origem europeia e indígena que foram integradas nessas comunidades. Os estudos mostram que a ancestralidade dos quilombolas é bastante heterogênea, chegando a ser quase que exclusivamente africana em alguns, como no quilombo de Valongo, no Sul, enquanto em outros a ancestralidade europeia chega até a predominar, como no caso do quilombo do Mocambo, no Nordeste.<ref name="repositorio.bce.unb.br">http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/3294/1/2006_MariaAng%C3%A9licaFlorianoPedrosa.pd{{Ligação inativa|data=janeiro de 2019}}</ref> Estudos genéticos realizados especificamente em comunidades negras do Brasil ([[quilombos]]) mostram que em quase todas a ancestralidade africana é predominante.<ref>[http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/3294/1/2006_MariaAng%C3%A9licaFlorianoPedrosa.pd]{{Ligação inativa|data=janeiro de 2019}}</ref>
 
 
{| class="wikitable" style="float: center;"
 
|-
 
! colspan="4" | Ancestralidade genética de habitantes de quilombos<ref name="repositorio.bce.unb.br"/>
 
|-
 
! Nome do quilombo!! Africana!! Europeia!! Indígena
 
|-
 
| Cametá (Norte)
 
| 48% || 17,9%||34,1%
 
|-
 
| Cajueiro (Nordeste)
 
| 67,4% ||32,6%|| 0%
 
|-
 
| Curiaú (Norte)
 
| 73,6% ||26,4%||0%
 
|-
 
| Paredão (Sul)
 
| 79,1% ||2,8%||18,1%
 
|-
 
| Trombetas (Norte)
 
| 62% ||27%||11%
 
|-
 
| Valongo (Sul)
 
| 97,3% ||2,7%||0%
 
|-
 
| Mimbó (Nordeste)
 
| 61% ||17%||22%
 
|-
 
| Sítio Velho (Nordeste)
 
| 72% ||12%||16%
 
|}
 
 
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== Ligações externas ==
 
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* [http://www.observatoriodonegro.org.br/ Observatório da População Negra]
 
* [http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg3-1.pdf Identidade e Diversidade Étnicas nas Irmandades Negras no Tempo da Escravidão, João José Reis]
 
* [http://www.seppir.gov.br/ Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial]
 
* [http://txt.estado.com.br/editorias/2007/06/10/cid-1.93.3.20070610.9.1.xml Nigerianos Brasileiros]{{Ligação inativa|1=data=dezembro de 2018 }}
 
* [http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000100012&lng=es&nrm=iso&tlng=es As Pesquisas na Bahia sobre os Afro-brasileiros]
 
* [https://web.archive.org/web/20070712094330/http://www.museuafrobrasil.prodam.sp.gov.br/index_01.asp Museu Afro-brasileiro]
 
* {{Link||2=http://www.acordacultura.org.br/main.asp?Team={D3BBB66E-3343-4311-ACA5-0FADF9A506BE} |3=A Cor da Cultura - Fotos e história}}
 
* {{Link|en|2=http://www.davidbyrne.com/film/ile_aiye/index.php |3=Ilé Aiyé (House of Life) - Documentário de David Byrne sobre o Candomblé 1989)}}
 
* {{Link|en|2=http://www.brazilianbeats.info/ |3=Brazilian Beats - Música Afro-brasileira}}
 
* {{Link|pt|2=http://www.abpn.org.br/index.php?option=com_weblinks&view=category&id=69&Itemid=109&lang=pt|3=Estudos afro-brasileiros}}
 
* {{Link|pt|2=http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/brasil-dna-africa-documentario-destaca-importancia-dos-africanos-na-construcao-do-brasil |3=''Brasil DNA África'' }}
 
* {{Link|pt|2=https://periodicos.ufsc.br/index.php/extensio/article/view/1807-0221.2012v9n13p8 |3=Biblioteca de referência NEAB-UDESC: disseminando a história e memória dos afrodescendentes em Santa Catarina Graziela dos Santos Lima, Paulino de Jesus Fracisco Cardoso.}}
 
 
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Edição das 14h15min de 19 de novembro de 2020